O músico californiano Ben Harper sempre se sentiu confortável na seara do blues. Em Get Up!, ele finalmente amarra uma ponta que ainda estava solta em sua carreira e celebra a parceria com a lenda Charlie Musselwhite, 70 anos completados na última quinta-feira.

Depois de expiar culpas e resolver dores do fim de um relacionamento com os álbuns White Lies for Dark Times (2009) e Give Till It's Gone (2011), ambos com a banda roqueira Relentless7, Harper, 44 anos, volta ao blues.

O verbo "voltar" pode ser um equívoco para quem cresceu em contato com o gênero - sobretudo o folk - para, mais tarde, incorporar à sua música elementos sonoros como soul, R&B, jazz e reggae. Lançado pelo selo Stax, Get Up! foi gravado em Los Angeles e produzido por Ben Harper. Neste, que é o seu 12º álbum de estúdio, ele também escreveu todas as letras, dividindo a parceria com Jesse Ingalls e Jason Mozersky, membros da banda Relentless7, em seis canções. 

- Charlie e eu queríamos fazer esse registro há 10 anos. Eu realmente mal posso esperar para tocá-lo ao vivo - disse Ben Harper em uma das entrevistas de divulgação do disco. O encontro dos dois resultou em 10 faixas conduzidas pelos músicos do Reletless7 Jason Mozersky (guitarra), Jesse Ingalls (baixo) e Jordan Richardson (bateria). Com Ben Harper nos vocais, guitarras e guitarra slide, a harmônica e a voz de Charlie Musselwhite completam a parede sonora ideal para os lamentos bluesy ao estilo Muddy Waters.

Don't Look Twice, composta por Harper, é dramática e libertadora. Versos como "Nos dias de amor e ira, eu era um tolo para você / Te dei meu coração e minha alma / Mas isso não é a salvação se você ainda implora para ser livre" dão a sensação de algo que um dia já foi uma urgência inefável, mas que, com o tempo, virou uma lembrança resoluta.

Confirmado na escalação da edição brasileira do Rock in Rio, Ben Harper virá ao Brasil para um show no dia 20 de setembro. Ele ainda não divulgou se estará acompanhado da banda The Innocent Criminals ou da Relentless7. Mas é quase certo que as músicas do novo álbum não estarão no repertório da apresentação no Rio. Get Up! não é um trabalho de festival. É introspectivo e serve para ajudar a amarrar (ou aguentar) aquela ponta solta que todos nós temos na vida.