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Itapema FM  | 28/01/2013 16h02min

Bad Religion mantém seu discurso atual em novo disco de inéditas

O sexteto californiano lançou "True North", seu 16º álbum de estúdio

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Manter a dignidade e a  coerência ao longo de 30 anos de carreira é tarefa para poucos. E neste seleto clube está o Bad Religion, que acaba de lançar seu 16º disco de inéditas com a mesma pegada de sua estreia, no início dos anos 1980. Niilista, cruel e veloz, True North pode parecer perdido no tempo e no espaço, mas soa como uma resposta bem dada a quem acredita que o punk – como música e proposta – não tem mais lugar no mundo.

Não que o disco – ou qualquer uma de suas músicas – vá alcançar o topo de qualquer tipo de lista ou coisa que o valha. Reduto da desesperança e última linha de defesa da rebeldia na música, o punk rock nunca frequentou esse tipo de ambiente. O que torna True North digno de nota é tratar, com dignidade, de temas que continuam a ser tão caros nos dias de hoje como eram quando o Bad Religion lançou seu primeiro EP, em 1981.

Como de costume, eles não enrolam. O novo álbum de Greg Graffin (vocal), Brett Gurewitz (guitarra e vocais), Brian Baker (guitarra), Greg Hetson (guitarra), Jay Bentley (baixo) e Brooks Wackerman (bateria) tem 16 músicas divididas em meros 35 minutos (e pode ser ouvido na íntegra no site da banda em www.badreligion.com). Algumas faixas são mais longas e trabalhadas (Dept. of False Hope, Hello Cruel World), enquanto outras são pauleiras que não chegam a dois minutos. Todas, no entanto, carregam o discurso afiado e sem rodeios que fez a fama do Bad Religion.

A faixa de abertura e que dá nome ao disco já deixa claro que o "no future" vaticinado pelos Sex Pistols em 1977 continua valendo em 2013: "Eu não vejo racionalidade / o mundo não é minha responsabilidade / e felicidade não é pra mim / Mas talvez eu fique mais perto da fonte / quando eu encontrar o verdadeiro norte", vocifera Graffin.

Essa apatia é mais abertamente denunciada em In their Hearts Is Right ("Eu sou apenas um cupim em um formigueiro / eu penso nisso todos os dias / uma falta absurda de inspiração /Apenas esperando para ser surpreendido") e sobra até para o próprio punk em The Past Is Dead, que há muito carece de novas vozes ("Minha próxima grande decisão é só deitar e esperar / Fazer alguma coisa pode vir a ser erro mais grave do mundo").

A politizada Land of Endless Greed (terra da ganância sem fim) surge como uma das melhores faixas do disco, trazendo os tradicionais corinhos de "oooh" com um solo de guitarra que divide a canção e segue dobrada até final, num movimento capaz de amolecer o mais duro coração punk. Desacelerando o ritmo – mas jamais a mensagem – a banda vai pro rock tradicional em Dharma and the Bomb (cantada por Brett Gurewitz) e relembra seus hinos noventistas na dura Hello Cruel World: "Olá, mundo cruel, você sabe que você está me matando? / Meu querido mundo cruel, eu sei que você é tudo pra mim".

Dona da letras mais bem acabadas do punk rock, a dupla Graffin e Gurewitz ainda alerta para os perigos da unanimidade em Popular Consensus ("O futuro pode ser brilhante ou sombrio / Mas você sabe que o consenso popular não funciona"). Em Fuck
You
, eles lembram o psicólogo Ivan Pavlov, que estudou o reflexo condicionado, ao convocar o ouvinte a dar um basta em sua vida de passividade. E decretam, em Changing Tide, que é hora de perceber que todas as suas crenças mais queridas estão sujeitas a apodrecer e mudar.

SEGUNDO CADERNO
Bad Religion / Divulgação

Política, desesperança e religião continuam na pauta dos punks americanos
Foto:  Bad Religion  /  Divulgação


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