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Itapema FM  | 23/01/2013 15h12min

Com grandes atuações, 'O Mestre' investiga origem de seita religiosa

Produção de Paul Thomas Anderson conta com Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

O grande esquecido das principais categorias do Oscar, em 2013, é um típico exemplar de filme aclamado pela crítica e incompreendido pelo público.

O Mestre vem sendo exibido diariamente em sessões de pré-estreia desde o fim de semana e tem estreia no Brasil confirmada para esta sexta-feira (25/1).

Premiado no Festival de Veneza com os troféus da crítica, de direção (para Paul Thomas Anderson) e de melhor ator (dividido entre Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman), O Mestre só foi lembrado pela Academia de Hollywood nas categorias de atuação: além de Phoenix (que concorre a melhor ator) e Hoffman (coadjuvante), Amy Adams está indicada ao Oscar de atriz coadjuvante.

Não é apenas isso, mas se trata, também, de um filme de ator. No projeto que marca sua volta ao cinema (leia abaixo), Joaquin Phoenix tem uma performance espetacular, que transcende o registro naturalista de maneira ainda mais radical do que fizera Daniel Day-Lewis em Sangue Negro (2007), o longa anterior de Paul Thomas Anderson – também conhecido por Boogie Nights: Prazer sem Limites (1997) e Magnólia (1999).

Phoenix interpreta Freddie Quell, um soldado da marinha norte-americana que acabou de voltar da II Guerra Mundial. Alcoolista, deslocado, ele encontra guarida na família do líder de uma seita que se apresenta como escritor, médico, filósofo e físico nuclear (Hoffman). No filme, esse líder se chama Lancaster Dodd, mas sua compleição física, os princípios que defende e o contexto de sua atuação lembram L. Ron Hubbard (1911 – 1986) e sua Cientologia. Em O Mestre, Dodd e seu séquito (que inclui sua mulher, papel de Amy Adams) frequentam as casas dos endinheirados da Califórnia para realizar sessões que misturam autoajuda e regressão a vidas passadas – algo próximo do que os seguidores de Hubbard seguem fazendo em Los Angeles (com Tom Cruise entre seus mais célebres divulgadores).

Paul Thomas Anderson não deixa de se posicionar sobre a seita, evidenciando suas contradições de discurso em sequências como a da visita à mansão da personagem de Laura Dern. Interessa ao cineasta refletir sobre as origens desse tipo de culto. Mas seu foco principal é Freddie Quell – o que faz do longa, além de tudo, um ensaio sobre o trauma do pós-guerra a partir da vulnerabilidade emocional de um ex-combatente.

Certas quebras da narrativa e mesmo alguns ruídos da trilha sonora (assinada por seu parceiro Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead) tiram o chão do espectador, o que pode confundir parte das plateias. Trata-se, no entanto, de um filme maduro, formalmente sofisticado, que desafia o público a desvendar todas as suas camadas de compreensão – além de presenteá-lo com trechos leves, simplesmente belos, a exemplo daqueles demarcados pelo jazz de Ella Fitzgerald, Helen Forrest e Jo Stafford, entre outras referências aos EUA dos anos 1950.

Difícil, intrigante, recompensador – O Mestre aceita vários adjetivos distintos. Simultaneamente.

Joaquin Phoenix

Daniel Day-Lewis (de Lincoln) que nos desculpe, mas é do protagonista de O Mestre a atuação do ano. Depois de grandes performances em Johnny & June (2005), Os Donos da Noite (2007) e, sobretudo, Amantes (2008), Joaquin Phoenix disse que abandonaria a carreira de ator. Era um truque, como se suspeitava, para compor o rapper retratado em um falso documentário (I’m Still Here, dirigido por Casey Affleck e lançado em 2011). O Mestre é o filme de sua volta – e que volta. Com intensidade assombrosa, ele incorpora em trejeitos físicos as fissuras psicológicas de Freddie Quell, um marinheiro que retornou da II Guerra estropiado, pronto para sucumbir a apelos como o da seita de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman).

Philip Seymour Hoffman

Ele não é o protagonista de O Mestre – mas é ao seu personagem que o título faz referência. Além de compor um Lancaster Dodd bem próximo (física e psicologicamente) a L. Ron Hubbard, o "mestre" da Cientologia, Hoffman duela de igual para igual com Joaquin Phoenix, mesmo nas sequências em que a intensidade de seu parceiro de cena é tamanha que assusta o espectador – entre outras, preste atenção na sessão de terapia dentro do iate e no trecho em que eles acabam presos (foto acima). Vencedor do Oscar por Capote, de 2005 (este assumidamente um personagem real), Hoffman incorpora, com grande eficiência, o talento retórico do "mestre", mesmo que ele se estruture sobre uma confusão de referências e preceitos religiosos e espirituais.

ZERO HORA
Paris Filmes / Divulgação

Joaquin Phoenix (E) e Philip Seymour Hoffman estão no elenco de 'O Mestre'
Foto:  Paris Filmes  /  Divulgação


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