A estrada até o sucesso em Holly­wood para um ator latino-americano raramente é dourada – o caminho, em geral, é poeirento e esburacado. O brasileiro Rodrigo Santoro conhece bem essa pedreira: seu novo filme nos Estados Unidos é uma produção de ação que pouco acrescenta ao seu currículo em termos artísticos – mas testemunha a disposição do astro em tornar-se conhecido na maior indústria cinematográfica do mundo. Em O Último Desafio (2013), que estreia nesta sexta-feira em Porto Alegre, Santoro contracena com um dos maiores ícones do cinema feito de tiros e músculos: Arnold Schwarzenegger.

A direção de O Último Desafio é de Kim Jee-woon, sul-coreano que conheceu o êxito no mercado asiático com filmes de gênero como Os Invencíveis (2008), uma aventura que mistura ação, comédia e western. O diretor repete a fórmula em sua estreia em Hollywood: o fortão Schwarzenegger vive o xerife de uma cidadezinha na fronteira dos EUA com o México, cuja rotina pacata é sacudida quando um bando de malfeitores se instala na região, preparando o terreno para que um poderoso chefão das drogas possa cruzar a divisa – depois de uma espetacular fuga das mãos do FBI, dirigindo um carro hiperveloz.

Para deter o barão das drogas e seus comparsas e proteger a ordeira Sommerton, o ex-investigador do departamento de combate a narcóticos em Los Angeles conta apenas com seus inexperientes policiais ajudantes e com dois tipos locais: o rebelde e encrenqueiro Frank (Santoro) e um maluco dono de um museu de armas chamado Lewis (Johnny Knoxville, o protagonista sem-noção da série Jackass). O elenco inclui ainda bons atores como Forest Whitaker, Peter Stormare, Luis Guzmán, Harry Dean Stanton e Eduardo Noriega.

A ideia é interessante: juntar eletrizantes perseguições de carros no deserto, tipo o antológico Corrida Contra o Destino (1971), com o climão tenso de expectativa de clássicos faroestes como Matar ou Morrer (1952) ou O Estranho sem Nome (1976). Mas Kim Jee-woon não é Quentin Tarantino, cineasta capaz de homenagear e subverter ao mesmo tempo os clichês dos gêneros, como fez agora em Django Livre (2012), que também estreia nesta sexta nos eincmas.

O Último Desafio é apenas um pastiche previsível, um panfleto politicamente incorreto a favor do porte de armas por cidadãos comuns e um veículo para a volta ao cinema do ex-governador da Califórnia – que tenta criar novos bordões na linha de “Hasta la vista, baby” pronunciando frases de efeito chinfrins como “Eu sou o xerife” e “Você ferrou meu dia de folga”.