Na década de 1980 os Titãs eram uma banda que deixava em pé os cabelos dos pais brasileiros. Ter um filho adolescente que ouvia o punk nacional criticando polícia, igreja, família e até as nossas necessidades mais básicas (como comer e dormir e o ciclo vicioso que isso gera), não podia ser bom sinal.

Comemorando seus 30 anos de carreira, foi a essa fase que os Titãs se voltaram: o álbum de 1986, Cabeça Dinossauro. Terceiro LP do grupo, foi o primeiro a atingir a marca de 100 mil cópias vendidas e foi incluído na lista de 100 melhores álbuns da música brasileira, na posição número 19.

O CD tributo dos Titãs traz as mesmas 13 faixas da primeira edição, que foram gravadas também em DVD todo em preto e branco na apresentação do dia 9 de junho de 2012, no Circo Voador, no Rio de Janeiro. O público de duas mil pessoas presenciou Branco Mello (voz e baixo), Paulo Miklos (voz e guitarra), Sérgio Britto (voz, teclado e baixo) e Tony Bellotto (guitarra) em preto, com direito a caveiras, óculos escuros e mosh, a chamada roda de bate-cabeça. Eles também gritaram em coro todas as letras do show.

Não deixa de ser um pouco contraditório que o show, invocando rebeldia e relembrando episódios como o de 14 de março de 1987, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, hoje seja material de edição de luxo. Na época, o portão de ferro do Teatro Carlos Gomes veio abaixo e 1.200 poltronas de couro, rasgadas e arrancadas do chão, acabaram amontoadas, completamente destruídas, depois de uma apresentação de Cabeça Dinossauro.

Aliás, luxo e rebeldia são duas coisas que nunca combinaram, principalmente quando isso envolve a ideologia punk do "não sei fazer, mas faço", que guiou bandas brasileiras do rock nacional como Plebe Rude e Paralamas do Sucesso. Mas nem por isso o material deixa de ser interessante para os fãs.

O baterista convidado, Mario Fabre, dá o tom de rebeldia com causa ao setlist que inclui Porrada, Bichos Escrotos, Homem Primata e a poesia concreta de O Que. Sobraram guitarras distorcidas numa versão interessante de AAUU e não faltam versos no repertório que já fazem parte do imaginário brasileiro, como Polícia para quem precisa e Família/ família/ janta junto todo dia,/ nunca perde essa mania.

Com uma presença maciça de Arnaldo Antunes nas composições, fica faltando a presença do ex-Titã que fazia tão bem o papel de transformar em canções o ato de olhar para a humanidade e questionar: houve evolução? Ou os primatas são pessoas melhores que nós?

É uma outra face da banda que nos últimos anos emplacou hits românticos como Pra dizer Adeus, Epitáfio e Cinco Minutos Guardados e que até declama Neruda em sua linda versão de Go Back, dos Paralamas. Dessa vez as citações ficaram para Acorda Maria Bonita, cantada à capela antes de Polícia e do trecho de Panis et Circense, dos Mutantes, cantado junto de Família.

São os Titãs saindo dos esgotos de 27 anos atrás e deixando o público enxergar novamente suas patinhas punks.

Ficha técnica 
Titãs - Cabeça Dinossauro Ao Vivo 2012
Gravadora: Independente
Distribuição: Universal Music
Preço médio: R$ 25,00 (CD), R$ 35,00 (DVD) e R$ 65,00 (Blu-Ray)