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Itapema FM  | 23/12/2012 18h01min

"Ser neto de J.R.R. Tolkien bloqueou minha escrita", diz Simon Tolkien

Neto lembra a decepção do avô com o alcance de sua obra

Como autor do O Hobbit e O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien (1892 – 1973) é um dos mais bem-sucedidos escritores da história. Ainda assim, afirma o escritor Simon Tolkien, o avô que ele recorda parecia pensar que havia falhado.

Seu trabalho foi aclamado por muitos: no momento da morte de Tolkien, em 1973, O Senhor dos Anéis e O Hobbit eram best-sellers. Quarenta anos depois, seus títulos ganham cada vez mais popularidade, na carona das adaptações para o cinema, com direção de Peter Jackson. A premiada trilogia O Senhor dos Anéis abriu caminho para uma nova megaprodução em três atos baseada em O Hobbit, em cartaz nos cinemas.
O problema, diz Simon, é que a mensagem que Tolkien queria passar ao mundo – o complexo universo fantástico do qual esses livros foram apenas uma pequena parte – não tinha sido considerada vendável.

– Ele havia escrito esta enorme produção que cobria tudo, desde a história dos deuses até a história do povo que ele chamou de Silmarills, essa foi a sua grande obra, mas que nunca tinha visto a luz do dia, apesar de seus melhores esforços para publicá-la – diz Simon. – Quando o conheci, ele estava na casa dos 70 anos. E é minha percepção de que, do ponto de vista artístico, ele estava infeliz. O trabalho ao qual havia devotado sua vida fora desperdiçado. Ele sabia que já estava tarde demais para que conseguisse a publicação.

Essa tarefa coube ao pai de Simon, Christopher, que vasculhou arquivos e diários. Nas duas décadas após a morte de Tolkien, ele publicou O Silmarillion e Contos Inacabados de Númenor e da Terra-média.

– Meu pai merece um crédito imenso por ter assumido essa tarefa. Lembro dos caixotes cheios de papéis que chegavam em casa, e ninguém tinha a menor dúvida da enormidade daquele trabalho – ele conta. – Meu avô estava trabalhando nesse imenso projeto por mais de 30 anos.

Os elogios de Simon ao pai são uma reviravolta – há alguns anos, ele e Christopher tiveram um suposto desacordo sobre os planos de Peter Jackson para transformar O Senhor dos Anéis em uma trilogia de filmes. Tolkien havia vendido os direitos autorais por 10 mil libras em 1968 para pagar uma dívida de impostos, e Christopher Tolkien ficou infeliz com o fato de que a família não teria nenhum papel ou benefício financeiro dos filmes. Muito se falou sobre a precipitação da família, mas, atualmente, Simon baixou a guarda. Ele e Christopher parecem ter acertado suas diferenças (seu novo livro é inclusive dedicado ao pai). A família e a companhia cinematográfica chegaram a um acerto, possibilitando o lançamento do filme Hobbit.

Do ponto de vista de Simon, a questão com os filmes não era como eles mostravam o trabalho de seu avô, mas sim como catapultaram a família de Tolkien na mídia.

– Quando estava crescendo, as pessoas estavam lendo os livros do meu avô, mas não era o que se podia chamar de o fator que definia a nossa família – ele diz. – Tudo isso mudou quando os filmes surgiram. Em qualquer lugar que se fosse, o nome Tolkien significava algo.

Para o escritor Simon Tolkien, a fama do avô significou por um bom tempo que ele era “apenas o neto”. Ele estudou em Oxford, onde seu avô era professor de inglês e seu pai um membro da New College, e seguiu em frente para se tornar um advogado, embora nutrisse a ambição de ser ele mesmo um escritor.

– Ser neto de Tolkien bloqueou minha escrita. Achava toda aquela história de ser neto de alguém tão genial muito inibidora.

Simon acaba de publicar seu terceiro romance, um suspense ambientado na II Guerra Mundial, muito diferente do mundo de fantasia da Terra Média. Mas, quando criança, Simon era muito próximo de seus avós Tolkien.

– Não lembro de ele ter lido para mim alguma vez, ainda que eu tenha lido tanto O Hobbit quanto O Senhor dos Anéis quando ainda era bem pequeno, e amado – diz. – O que eu costumava fazer, o tempo todo, era perguntar a ele sobre as partes das histórias que não estavam nos livros. Ele era muito paciente e sempre me satisfez, explicando o que mais havia escrito sobre os magos e dragões e o que estava acontecendo em seu mundo.

Havia uma questão que diferenciava Tolkien dos demais escritores de fantasia, na opinião de Simon: a profundidade do mundo criado por seu avô.

– Ele me disse que inventou as línguas antes de escrever as histórias, então estava realmente construindo novos mundos a partir das bases e além.

Tradução de Paloma Poeta

THE GUARDIAN
warner bros / Divulgação

Com direção de Peter Jackson, a adaptação de "O Hobbit" está em cartaz nos cinemas
Foto:  warner bros  /  Divulgação


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