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Itapema FM  | 17/12/2012 18h31min

Vida Alves fala sobre a importância de se preservar a memória da TV brasileira

Atriz nos anos 1950 e 1960, Vida esteve na Capital para abertura de exposição sobre a telenovela

Fernanda Oliveira  |  fernanda.oliveira@diario.com.br

Vida Alves é uma mulher de vanguarda: em 1951, aos 24 anos de idade e recém-casada, a jovem atriz foi escolhida para o papel principal da primeira telenovela brasileira, Sua Vida me Pertence, da TV Tupi. Feita e transmitida inteiramente ao vivo, a novela causou rebuliço ao promover um beijo na boca entre o casal de protagonistas - um simples selinho, mas que entrou para a história.

Apesar de ter ficado bastante conhecida por esse fato, Vida Alves, como ela mesma gosta de dizer, também fez outras coisas. Além da carreira de atriz - pela qual atuou em diversas outras novelas, produções de teleteatro e filmes - Vida, que é avó da cantora Tiê, há 18 anos se dedica à preservação da memória da televisão nacional e dos profissionais que a fizeram. Pela Pró-TV, instituição que criou e preside, rodou o Brasil com a exposição 60 Anos da Telenovela Brasileira, em parceria com a Rede Globo.

Na última quinta-feira, Vida esteve presente na inauguração da última etapa da mostra, em Florianópolis. Leia entrevista concecida ao DC:

Vou começar com a pergunta que todos lhe fazem: como foi o primeiro beijo da televisão brasileira?
Vida Alves — O beijo foi o diferencial da novela. Com o estúdio pequeno e tudo feito ao vivo, era muito complicado. O espaço não permitiu que a novela fosse diária, nem longa, porque não cabia na programação. Então, o diretor e ator Walter Forster resolveu colocar um diferencial, pra chamar atenção: um beijo. Teve que lutar com o diretor geral, com o diretor artístico e, por fim, comigo _ que tive que lutar, por minha vez, com meu marido. Foi sem ensaio, sem nada, um beijo estritamente técnico. O Walter falou: Vida, você fica parada, faz uma cara de bobinha, eu me aproximo, você fecha os olhos, vira o rosto e eu encosto nos seus lábios. Foi assim. Não tem fotografia, não tem filme, não tem mais o Walter pra me desmentir, então é assim e pronto. Se foi realmente, só eu que sei.

Qual foi a repercussão, na época?
Vida — Depois da cena do beijo, fiquei em casa cuidando de filho. Não dei entrevista, não estiquei muito o assunto, não entrei muito na fofoquinha que apareceu, então a coisa serenou. Jamais pensei que 61 anos depois eu estaria aqui falando sobre isso. Nunca imaginei que a repercussão fosse ser tão grande e tão longa. Sem perceber muito, eu tinha feito uma quebra de paradigma. Nenhuma pessoa, até então, havia imaginado beijo pela televisão. O diretor geral dizia que ia espantar as famílias. Coitado dele, porque hoje em dia, sim, os beijos espantam a família, mas aquele meu beijinho não espantou ninguém.

Tem um outro beijo, um pouco menos comentado, mas que é polêmico até hoje na televisão. Foi um beijo entre duas mulheres.
Vida — Em 1964, dei um beijo homossexual na colega e amiga Geórgia Gomide. Foi em uma adaptação do filme Calúnia, em que duas moças dirigiam um colégio e uma menina ciumenta envenenou o assunto, dizendo que eram amantes. Não eram. Mas com aquilo, pra mostrar como era nessa época, muitos pais tiraram os filhos do colégio. Elas ficaram tristíssimas e, quando não restou mais nenhum aluno, se olharam e perceberam que se gostavam. Houve um beijo e eu estava lá pra beijar. Não é que eu seja uma beijoqueira tão fanática, mas eu sou uma profissional. Se estava no script, eu fiz. Sem vergonha, sem medo, sem me aproveitar disso.

Hoje em dia, a novela ainda cumpre esse papel de chamar a atenção da sociedade para questões importantes?
Vida — Acho que sim. Eu, por exemplo, estou me dedicando a assistir Lado a Lado e limpando na memória os fatos históricos que estão sendo abordados. Vejo ali um pouco dos hábitos da minha família, meus pais eram daquela época. Acho que tem sua importância, claro, para assistir com alguma parcimônia. Não fico o dia inteiro na frente da televisão, escrava da novela. É preciso mesclar as coisas para crescer devidamente.

Dez Vidas, de 1969, foi sua última novela. Por que decidiu parar de atuar?
Vida — Em São Paulo, onde eu moro, houve duas falências importantes: da TV Excelsior (1970) e da TV Tupi (1980), que eram duas geradoras de novelas e programas. Em quase todas as outras, houve incêndios. Então, a maior parte das pessoas voou para a Globo, que era no Rio de Janeiro. Eu estava em uma fase familiar que me dificultou pensar nisso. Filhos ainda começando a se encaminhar na vida, marido um pouco doente, enfim, a televisão ficou difícil. Mas, depois de alguns anos, me veio uma saudade profunda. Então eu inventei a Pró-TV e ela produz uma coisa importante, que é a memória. Eu digo que não trabalho mais na televisão, mas para a televisão.

Como vê a importância de preservar a memória da televisão brasileira?
Vida — Existe árvore sem raiz? Existe uma flor sem ter a sua profundeza dentro da terra? Existe prédio sem alicerces? Não existe. Como o brasileiro dá tão pouca importância a isso? Vocês estão aqui hoje, com um belo estúdio, mas como eram os nossos? Como era o nosso trabalho? Muito mais rude. Fizemos a televisão e demos pra vocês. Eu mesma criei, carreguei e carrego até hoje a Pró-Tv. Já estamos com quase 18 anos. Mas, para isso, não tive ajuda de governo, nem de um mecenas que se apaixonasse por mim ou pela ideia. São contratos que vem e que vão, de apoio temporário. Nossa visita aqui é produto disso.

Agende-se
O quê: exposição 60 Anos da Telenovela Brasileira
Onde: vão central do Continente Park Shopping, em São José
Quando: até 28 de dezembro, no horário de funcionamento do shopping
Quanto: gratuito
Confira os horários de fim de ano em www.continentepark.com.br

DIÁRIO CATARINENSE
Charles Guerra / Agencia RBS

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Foto:  Charles Guerra  /  Agencia RBS


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