A certa altura de Celebration Day, quando chega ao fim a clássica Stairway to Heaven, a câmera para de filmar a banda e registra uma fã aos prantos.

É um dos raros momentos, em duas horas de show, em que o quarteto sobre o palco deixa de ser o centro absoluto das atenções.

A raridade dos desvios de rota é adequada. Filmado na londrina O2 Arena em 10 de dezembro de 2007, Celebration Day é o registro do que pode ter sido o último show do Led Zeppelin. Lançada recentemente em CD, DVD e BluRay, a gravação daquela noite, dirigida por Dick Carruthers, ficou guardada por quatro anos antes de os integrantes resolverem dar o aval para sua edição. Nada mais justo: o disco dá a milhões de pessoas a chance que, em um primeiro momento, foi concedida a apenas 18 mil sortudos.

A noite fatídica foi uma homenagem a Ahmet Ertegün, fundador da Atlantic Records e amigo de longa data da banda. Por essas e outras, em alguma medida, Celebration Day é produto – e, em parte, celebração – da morte. Da morte, em 1980, do baterista John Bonham – cujo legado Jason Bonham leva adiante, assumindo as baquetas do pai em algumas ocasiões como naquela noite de 2007. Da morte do próprio Led, que não sobreviveu ao falecimento do baterista e se reuniu apenas quatro vezes nos 30 anos seguintes – sendo esta de Celebration Day a mais impressionante, até por sua improbabilidade. Da morte como etapa da renovação da vida sobre a terra e como força que nos impulsiona a criar e deixar por aqui um legado.

A vivacidade juvenil do rock'n'roll sempre esteve ligada à ausência do temor à morte. Vem muito daí a energia que gera, em 124 minutos de riffs pesados e temáticas melancólicas, felicidade e êxtase, mesmo que expressados por meio do choro convulsivo. O Led que subiu ao palco da O2 Arena não negligenciou nenhuma fase da carreira: da seminal Dazed and Confused à marcial Kashmir, passando por canções improváveis como For Your Life e terminando em Rock'n'Roll.

É subversivo três músicos na casa dos 65 anos fazerem música como se tivessem 20. O quarentão Jason, martelando a bateria com a mesma precisão que consagrou seu pai, é a presença mais intensa – reforçada pelas suas palavras no encarte dos discos, em que equipara a reunião à realização do maior sonho de sua vida. Mas não seria nada sem a performance impecável de John Paul Jones, seja no baixo, seja nos teclados. Juntos, dão consistência à seção rítmica do Led, que encontra Jimmy Page a um só tempo intenso e sereno, e Robert Plant se divertindo no palco.

Quem foi ao show de Plant no Gigantinho em outubro viveu a emoção de ver um gigante do rock e a frustração de perceber que o gênero musical perdeu a graça para o homem autêntico e andrógino dos anos 1970. Durante duas horas de 2007, no entanto, Plant e seus ex-colegas foram novamente parceiros, desafiaram a morte e flertaram com a vida que ficou três décadas atrás.

Celebration Day
Rock, Warner, 16 músicas. CD e DVD: R$ 79,90. BluRay e DVD: R$ 89,90. CD duplo: R$ 44,90, em média.