Itapema FM | 22/11/2012 10h10min
A literatura erótica, que tem ocupado as listas dos livros mais vendidos, também já foi o foco de escritores renomados que se aventuraram a narrar aventuras e desejos sexuais. É o caso do livro Cartas a Nora, que reúne cartas trocadas entre o irlandês James Joyce e sua esposa, Nora Barnacle Joyce e que foi recentemente traduzida por Sérgio Medeiros e sua mulher, Dirce Waltrick do Amarante. A nova edição chegou este mês às livrarias.
Confira aqui trechos do livro— Joyce teve um caso no começo de seu relacionamento com Nora e passou a ela uma doença venérea. Para evitar que ele se envolvesse com outras mulheres, sempre que eles estavam distantes eles se incentivavam a escrever cartas eróticas — relata Sérgio.
O resultado é um conjunto de correspondências que trata de todos os aspectos de um relacionamento. Desde o cotidiano, afazeres, viagens e compras, até sexo e desejo. As cartas registram o primeiro recado trocado pelo casal, depois que se conheceram caminhando pelas ruas de Dublin, na Irlanda, e seguem acompanhando seu relacionamento, sempre movimentado, e que influenciou intensamente obras de Joyce como Ulisses e Finnegans Wake, ambas consideradas entre as mais inovadoras e radicais do século 20 — e também entre as mais difíceis de ler.
— As cartas são esclarecedoras para ler Finnegans, por exemplo. Ele não pensou as cartas como obra de arte, estava escrevendo o que lhe vinha na cabeça, então ,não tem correção. É curioso porque como escritor ele burilava seus romances, reescrevia muitas vezes, então conhecemos um outro Joyce. Aprendi muito com essas cartas — conta Sérgio.
Fora o insight literário, as cartas oferecem uma visão crua da vida sexual do casal, narrada com detalhes por Joyce.
— Ele inventou muitas técnicas narrativas para dar conta de uma linguagem que mudava conforme o dia e os sentimentos. Ele é o máximo. Ulisses pra mim é o máximo da literatura — admira, Sérgio.
O mesmo se aplica à narração erótica, Joyce desenvolveu sua própria maneira de falar sobre o assunto e também nesse aspecto se tornou referência.
DIÁRIO CATARINENSE
"Sempre que eles estavam distantes se incentivavam a escrever cartas eróticas", relata o tradutor
Foto:
Ricardo Wolffenbüttel
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