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Itapema FM  | 11/11/2012 18h28min

Conheça o que é e como funciona a Academia Catarinense de Letras

Entidade quer abrir suas portas para a sociedade, e contribuir para a difusão da cultura em SC

Viviane Bevilacqua  |  viviane.bevilacqua@diario.com.br

O casarão é imponente, na Rua Hercílio Luz, Centro de Florianópolis. O nome da sede não poderia ser mais apropriado: Casa José Boiteux. Advogado, jornalista e historiador, Boiteux , natural de Tijucas, foi um dos incentivadores da Sociedade Catarinense de Letras, que originou, em 1924, a Academia Catarinense de Letras.

A Academia mudou-se para este prédio há menos de um ano. Até dezembro do ano passado, ocupava uma área do Centro Integrado de Cultura. As novas instalações — que também abrigam o Museu Histórico e Geográfico de Santa Catarina — estão prontas, mas ainda há muito o que fazer. Na biblioteca, por exemplo, dezenas de caixas de livros, muitos deles raros e valiosos, permanecem fechadas. Uma professora de português foi contratada para coordenar o acervo e, assim, permitir o acesso de estudantes e de quem mais quiser pesquisar no local.

Abrir as portas da Academia Catarinense de Letras à comunidade é uma novidade, que vem sendo colocada em prática pelo presidente da ACL, Péricles Prade, e seu vice, Mário Pereira. Até há muito pouco tempo, apenas alguns privilegiados sabiam o que acontece lá dentro, nos dias de sessões normais e também nas datas festivas e homenagens especiais.

O Diário Catarinense aproveitou esta "abertura" para conhecer as instalações da nova sede, acompanhar uma tarde de chá na Academia, uma Sessão da Saudade , saber como é feita a eleição de um novo membro, e contar para o leitor detalhes da intimidade dos nossos imortais.

O tradicional encontro dos membros da Academia Catarinense de Letras acontece sempre na última segunda-feira de cada mês, às 17h. Conhecido como "chá das cinco", é uma reunião informal, conduzida pelo presidente ou, na ausência dele, pelo vice. Eles não usam fardão, como na Academia Brasileira de Letras. Apenas nas reuniões solenes são usadas insígnias especiais. Os imortais comentam suas atividades literárias, livros que escreveram, obras que estão produzindo ou que ainda pretendem lançar, discutem outras produções culturais, nacionais e estrangeiras. Falam também sobre amenidades. Os encontros têm caráter democrático, não é preciso inscrever-se para falar. Todos têm direito de dar opinião.

No dia 12 de dezembro acontecerá o jantar de final do ano acadêmico, com a entrega dos prêmios literários aos destaques de 2012.

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O chá das cinco

A mesa é retangular, guarnecida com uma toalha branca de renda. Ali é servido o chá (ou café), com salgadinhos e doces, durante a reunião ordinária. No salão há, também, uma mesa para a diretoria e um pequeno auditório, para acomodar os imortais e a plateia, se houver. As três bandeiras — do Brasil, de Santa Catarina e de Florianópolis — estão hasteadas, em um canto da sala. O chá é servido pelas duas funcionárias da ACL.

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A diretoria e seus membros

O professor, advogado e escritor Péricles Prade foi eleito em julho deste ano para a presidência da ACL, com um mandato de dois anos. O jornalista Mário Pereira é o vice, Julio de Queiroz o secretário-geral e Silveira Lenzi, o tesoureiro. A Academia possui 40 vagas. Atualmente, cinco delas estão abertas — os ocupantes morreram e as vagas ainda não foram ocupadas. Os falecidos são o ensaísta e folclorista Oswaldo Ferreira de Mello, o contista Jair Hamms, a escritora Sylvia Amélia Carneiro da Cunha, o escritor e editor José (Chico) Pereira, e o escritor Iaponan Soares. Com a morte de Sylvia, a Academia conta hoje com apenas duas mulheres: a escritora Urda Alice Klueger e a poetisa Leatrice Moellmann.

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Sessões solenes

Além das reuniões mensais, ordinárias, existem também as extraordinárias, como a "Sessão da Saudade", em homenagem a um membro da ACL que tenha falecido, para que seu nome e obra sejam lembrados. Neste dia, um orador oficial faz o discurso, com a presença da família do homenageado. Ao final, o presidente declara aberta a vaga para a escolha do novo membro que irá ocupar a cadeira. A última Sessão da Saudade aconteceu em setembro deste ano, em homenagem à escritora Sylvia Amélia, e contou com a presença de familiares.

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O processo eleitoral

As cadeiras são vitalícias, ou seja, novos membros da Academia só podem ser escolhidos após o falecimento de algum membro atual. O primeiro passo de uma eleição para a ACL é a publicação de um edital informando a abertura das inscrições. Para ser eleito, o candidato precisa ter metade dos votos mais um. Por exemplo: atualmente são 35 membros na ACL, então, o candidato precisa de 18 votos. Caso nenhum dos pretendentes obtenha esta maioria, os dois mais votados concorrem em segundo escrutínio. Não havendo quórum, nova eleição é marcada, e o processo recomeça do início. A votação é secreta, e em seguida são contados os votos.

No segundo semestre deste ano já foram realizadas três tentativas de eleições — a última delas, na noite de segunda-feira — mas em nenhuma delas um candidato conseguiu a maioria absoluta dos votos, voltando o processo à estaca zero. Estavam disputando a cadeira o advogado José Isaac Pilati e o escritor Miro Moraes, mas nenhum conseguiu maioria de votos.

Como o processo pode se arrastar indefinidamente, explica o vice-presidente Mário Pereira, foi colocada em discussão uma alteração no estatuto, que permitirá que, em segundo escrutínio, será eleito o candidato que obtiver mais votos, independente do número. Esta alteração será votada pelos membros, após assembleia prevista para acontecer ainda neste ano.

Quem pode se candidatar

Para que uma pessoa possa se candidatar, explica o presidente Péricles Prade, ela precisa ter escrito um livro, ou publicado estudos, ensaios, reportagens ou crônicas.

— Precisa possuir escritos de alto valor literário. Não é necessário que seja um livro de poesia, ficção ou romance. Há preferência de que seja literatura, mas podem ser também produções nas áreas de história, filosofia, ciência, sociologia ou científicos — explica.

O candidato participa de uma verdadeira campanha eleitoral: visita os membros da Academia, ou, caso isso não seja possível, envia seus escritos, junto com uma carta, apresentando-se e dizendo porque quer ser membro da Academia, e o que pretende fazer.

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Abertura da casa

A atual diretoria quer abrir a ACL ao público, realizando oficinas de literatura (romance, contos, poesias, ficção), com a participação de membros da academia. Também existe a proposta de exibir filmes que retratem obras literárias. Há alguns meses foram exibidos três filmes do diretor Nelson Pereira dos Santos: Tenda dos Milagres, baseado no romance de Jorge Amado; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; e Asilo de Loucos, baseado no conto O Alienista, de Machado de Assis. Ainda para este ano está prevista a exibição de filmes expressionistas alemães. Há, também, previsão de abrir a sede para exposições de artes plásticas.

— Queremos trazer o público, em especial os estudantes do ensino médio e universitário, para que conheçam a Academia, sua história, os patronos, os membros atuais e os eventos que ela organiza — diz o presidente.

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Quem são os imortais

Cadeira 1: Edy Leopoldo Tremel - advogado e escritor

2: Urda Alice Klueger - historiadora e escritora

3: Moacir Pereira - jornalista, advogado e escritor

4: João Alfredo Medeiros Vieira - advogado, jornalista e escritor

5: VAGA

6: Hugo Mund Júnior - poeta e artista plástico

7: Leatrice Moellmann - poeta, contista e cronista

8: Mário Pereira - professor, escritor e jornalista

9 : João Nicolau Carvalho - advogado, jornalista e escritor

10: Júlio de Queiroz - filósofo, tradutor e escritor

11: Olsen Jr. - jornalista e escritor

12: Édson Ubaldo - advogado, poeta e escritor

13: José Artulino Besen - padre e escritor

14: Silveira Lenzi - advogado, jornalista e escritor

15: Celestino Sachet - advogado e escritor

16: Alcides Abreu - advogado e escritor

17: Gilberto Gerlach - historiador e cinéfilo

18: José Curi - filósofo e escritor

19: Sérgio da Costa Ramos - advogado, ensaísta, cronista e crítico literário

20: VAGA

21: Evaldo Pauli - filósofo e escritor

22: Antônio Carlos Konder Reis - advogado, economista, museólogo, político e escritor

23: Flávio José Cardozo - jornalista e escritor

24: Liberato Manuel Pinheiro Neto - jornalista, professor e poeta

25: VAGA

26: VAGA

27: Pedro Bertolino - filósofo e poeta

28: Péricles Prade - advogado, jornalista e escritor

29: Napoleão Xavier do Amarante - advogado e escritor

30: Jali Meirinho - historiador e jornalista

31: Walter Piazza - professor, historiador e escritor

32: Amilcar Neves - engenheiro, escritor e cronista

33: Silveira de Souza - jornalista e escritor

34: Osvaldo Della Giustina - filósofo, jornalista e historiador

35: Rodrigo de Haro - poeta, pensador e artista plástico

36: VAGA

37: Artêmio Zanon - advogado e poeta

38: Salomão Ribas Júnior - radialista, advogado, político e escritor

39: Gilberto Callado de Oliveira - escritor

40: Norberto Ungaretti - advogado e escritor

DIÁRIO CATARINENSE
Daniel Conzi / Agencia RBS

Sede da Academia Catarinense de Letras, na Casa José Boiteux, no Centro de Florianópolis
Foto:  Daniel Conzi  /  Agencia RBS


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