Itapema FM | 04/11/2012 19h26min
Para se encontrar com Clint Eastwood, a reportagem transpõe os portões da Warner. A entrevista não se realiza no bangalô da Malpaso, a empresa produtora de Eastwood, abrigada na Warner. O encontro ocorre num estúdio no qual foram montadas duas mesas. Cada uma delas reunirá cinco jornalista vindos de diferentes partes do mundo — e o entrevistado.
Clint chega. Alto, magro e rijo. Elegante. Fala manso. Responde sobre tudo — o novo filme, no qual é só ator (Curvas da Vida, com estreia prevista para o dia 23) e também Sergio Leone e Don Siegel.
Pergunta — O senhor havia anunciado que iria se concentrar na direção e não atuaria mais. O que o fez aceitar Curvas da Vida?
Clint Eastwood — Robert Lorenz tem trabalhado comigo nos últimos anos como produtor associado. Há tempos, ele sonhava com sua estreia na direção. Surgiu essa história sobre o velho olheiro de um time de beisebol. Ajudei-o a formatar o projeto, acompanhei a escritura do roteiro. O personagem ficou muito próximo de mim. Robert passou a vê-lo como uma extensão de mim, e eu próprio me sentia confortável nos seus tênis. Foi assim que voltei a atuar.
Pergunta — É um longo caminho desde que o senhor começou, aqui mesmo na Warner, nos anos 1950. Dois diretores foram decisivos na sua evolução, Don Siegel e Sergio Leone. Foram seus mestres?
Eastwood — Não diria que tenham sido só meus mestres. Foram mestres de muita gente. Sergio (Leone) tinha a minha idade, era só um ano mais velho. Sou de 1930, ele, de 1929. Sergio inventou um gênero, o spaghetti western. Formatamos o personagem, O Estranho Sem Nome, em conjunto. Eu lhe sugeri que o Estranho devia se explicar pelos gestos. Havia muitas falas desnecessárias. Sergio era filho de diretor. Tinha entusiasmo, motivava as pessoas. E, embora ouvisse a gente, ele com certeza sabia o que queria. Don (Siegel) já era um veterano. Tinha quase 60 anos quando fizemos Meu Nome É Coogan (em 1968). Ele começou como assistente de montagem. Don já pensava num filme como montagem. Só de ver os dois trabalharem, aprendi muita coisa.
Pergunta — Seu personagem em Curvas da Vida está ficando surdo e tem problemas com a filha. Fica na contracorrente das invenções tecnológicas. Não é um ataque à juventude?
Eastwood — Você quer me dizer que o filme é reacionário? Fale com Robert (Lorenz). Embora o jovem disponha hoje de mais ferramentas, isso não significa que saiba mais nem que esteja mais preparado para a vida. O conflito do filme é entre pai e filha, mas também entre esse homem que está ficando surdo e necessita de ajuda para “ouvir” o som da jogada. É o som que lhe diz quem é o grande jogador. O jovem, com seu computador, não tem tempo para o ouvido. Não sou contra a técnica, só acho que ela não é soberana.
Pergunta — Existe um culto ao senhor, mas na França surgiu um livro (Clint Fucking Eastwood) que contesta o mito. Diz que só os filmes não explicam sua fama. Critica o machismo. O que pensa disso?
Eastwood — Não li o livro e, nesta quadra da minha vida, nem tenho tempo para isso. O que sei é que ninguém chega à posição em que estou mantendo minha independência na indústria e sendo uma unanimidade. Quando se tenta agradar a todo mundo, não se agrada a ninguém, muito menos a nós mesmos. Provavelmente, vão contestar muitas de minhas escolhas. Nunca quis ser uma unanimidade. Houve uma época em que as feministas adoravam me odiar. Nunca mudei para agradá-las. O que tento é ser coerente e defender minhas ideias sobre o cinema e o mundo. Acredite, é bem difícil.
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