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Itapema FM  | 11/10/2012 16h15min

Quem é o vencedor do Nobel de Literatura, o escritor Mo Yan

Autor conjuga lendas e histórias e descreve cotidiano de comunidades rurais de seu país

Talvez ele não fale, mas o que escreve lhe valeu o maior prêmio literário do planeta. O chinês Mo Yan, 57 anos, foi anunciado ontem pela Academia Sueca o novo ganhador do Prêmio Nobel. Mo Yan é um pseudônimo e significa, justamente, "Não Fale".

Mo Yan é o nome artístico de Guan Moye, nascido em Gaomi, na província costeira de Shandong. De família pobre, largou cedo os estudos para se dedicar ao trabalho rural _ a luta de camponeses contra as condições miseráveis de vilarejos do interior chinês se tornaria um tema recorrente de sua obra. Crescido em plena Revolução Cultural (1966 _ 1976), Mo Yan adotou o pseudônimo enquanto escrevia seu primeiro livro, para lembrar um conselho paterno útil durante as perseguições do período: não falar demais, para não se meter em complicações. Seus livros mergulham em períodos traumáticos da história chinesa do século 20: a Revolução Cultural, os planos agrários do período maoísta, a invasão japonesa durante a II Guerra e o planejamento familiar imposto com medidas como a "política do filho único" para conter a superpopulação no país. Ao justificar a concessão do prêmio, o comitê da Academia declarou que Mo Yan "funde, com realismo alucinatório, contos populares, história e contemporaneidade".

O "realismo alucinatório" é uma referência à atmosfera onírica de suas obras _ a imprensa europeia o comparou a um cruzamento entre Faulkner e García Márquez. Mo Yan já publicou mais de 30 romances e vários livros de contos _ nenhum deles ainda traduzido no Brasil (veja o quadro abaixo).

_ Ao saber que me concederam esta recompensa, me senti muito feliz. Vou me esforçar mais na criação de novas obras. Quero trabalhar mais para agradecer a todo o mundo _ declarou o premiado, por meio da agência Nova China.

Ele é o primeiro chinês a ganhar um Nobel vivendo na China e em liberdade _ o Nobel de Literatura de 2000, Gao Xingjian, é um dissidente exilado na França. Liu Xiaobo, Prêmio Nobel da Paz em 2010, está preso, cumprindo sentença de "incitamento à subversão".

Embora muitos especialistas internacionais de sua obra tenham apontado que seus romances apresentam uma visão crítica da história chinesa, a premiação de Mo Yan repercutiu de modo negativo entre os dissidentes exilados. Ma Jian, romancista, que, por ter transformado o Massacre da Praça da Paz Celestial em um romance chamado Pequim em Coma, teve o retorno à China proibido para sempre, já fez críticas diretas ao fato de o novo Nobel ser um autor disposto a censurar a própria obra. Mo Yan retirou de circulação um romance que desagradou o Partido Chinês e foi um dos cem escritores chineses a participar de uma edição comemorativa aos 70 anos do discurso em que Mao Zedong definia a política cultural do regime. O artista plástico dissidente Ai Weiwei afirmou ao jornal português Público que a premiação de Mo Yan é "intolerável".

Obra mais popular virou filme premiado:

Mo Yan não tem livros traduzidos no Brasil. Suas obras mais conhecidas são as que foram adaptadas para o cinema, duas delas por Zhang Yimou, um dos grandes cineastas chineses contemporâneos. Sorgo Vermelho, de 1987, é baseado em um romance de mesmo nome e conta a resistência chinesa à invasão japonesa. Vencedor do Urso de Ouro em Berlim, foi um dos filmes mais populares da onda de "descoberta" da cinematografia chinesa no Brasil. Yimou também filmou Happy Times (2000), baseado em um livro de contos.

SEGUNDO CADERNO
AP Photo / CHINATOPIX/AP Photo

Nome de batismo do escritor, que utiliza um pseudônimo, é Guan Moye
Foto:  AP Photo  /  CHINATOPIX/AP Photo


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