Itapema FM | 03/10/2012 06h06min
— Jogue a moeda para cima e mande ver.
É assim que Tom Zé sugere o rumo da entrevista, perguntado se preferiria começar a conversa pelo novo disco ou pelo show que apresenta na Capital nesta quarta-feira. Começando, então, pelo disco:
— As canções são fáceis, cantáveis, batem no coração da pessoa. Fiz o meu melhor disco até hoje.
No palco, Tom Zé terá a companhia de Daniel Maia (guitarrista e vocalista, além de produtor do álbum), Cristina Carneiro (tecladista e vocalista), Jarbas Mariz (percussionista, violonista, bandolinista e vocalista), Felipe Alves (baixista e vocalista), Ronaldo Bastos (baterista) e Lia Aroeira (cantora).Conhecido pela teatralidade de suas performances no palco, Tom Zé apresenta o repertório de Tropicália Lixo Lógico sabendo que não poderá deixar de cantar algumas músicas:
— Como Teatro (Dom Quixote). Afinal, vou cantar no Porto Alegre Em Cena, e o pessoal vai querer ouvir.
Zero Hora — A série Estudando rendeu discos sobre samba (1976), pagode (2005) e bossa nova (2008). Tropicália Lixo Lógico é mais um trabalho que revisita algo em detalhe. Por que não entrou para a série?ZH — Então, nos esclareça a cultura moçárabe.
Tom Zé — De zero a dois anos, é a fase em que o ser humano mais aprende. A placa mental está completamente virgem, e os primeiros riscos são definidores. Nessa fase, todo o nosso contato com o mundo é praticamente oral. Então, até uns oito anos, nosso universo vive sob outra visão de mundo. Não é lorota, não é brincadeira intelectual. É outra cosmovisão, outra cosmoconcepção, e isso é a concepção moçárabe. Aí, na escola primária, tomamos aquele alegre contato com Aristóteles, que também é uma coisa maravilhosa.
ZH — Como foi seu encontro com Gil e Caetano?
Tom Zé — Estávamos ainda na Bahia, e diziam que a gente devia se conhecer. Nos juntamos em um grupo e apresentamos os shows Nós, por Exemplo e Velha Bossa Nova, Nova Bossa Velha. Quando viemos para São Paulo, eu, Gil, Caetano e Bethânia fomos dirigidos por Augusto Boal no Arena Canta Bahia. Depois, estivemos um ano e meio separados. Foi quando Gil e Caetano, diante daquela agitação cultural que arrebanhava o Brasil no fim dos anos 1960, se impactaram com o teatro de (José) Celso Martinez Corrêa, a recuperação de Oswald de Andrade, a presença da poesia concreta como voz forte, o Hélio Oiticica, o José Agrippino de Paula, a Rita e os Mutantes, os maestros Rogério Duprat e Júlio Medaglia...
ZH — Foi esse o gatilho disparador a que se refere no disco?
Tom Zé — Com certeza. Isso tudo fez vazar o lixo lógico do hipotálamo para o córtex. E então todos foram armados de uma nova concepção de mundo para interpretar o universo. A genialidade de Gil e Caetano traduziu uma série de trabalhos que passaram a se chamar tropicalismo.
ZH — Há algum tipo de potencial aos moldes do tropicalismo na atual música brasileira?
Tom Zé — Quando me perguntam isso, gosto de lembrar que, com o tropicalismo, a juventude pôde ter acesso a um pensamento ousado, que jogou a mente na direção do sonho de cada um. A canção alcançou um nível sofisticado. (O tropicalismo) Foi uma luta para formar uma certa quantidade de energia. Essa turma que gravou comigo tem essa força.
ZERO HORA
Tom Zé se apresenta nesta quarta-feira em Porto Alegre, no Araújo Vianna
Foto:
Andre Conti
/
Divulgação
Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - ©
2009
clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.