Itapema FM | 21/09/2012 12h14min
Durante reunião realizada quinta-feira em Brasília com produtores do setor da cultura digital, a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, admitiu ainda estar conhecendo o Ministério da Cultura (MinC), que assumiu na semana passada. Ela também disse que a meta do país ter 15 mil Pontos de Cultura em funcionamento até o ano de 2020 é um "delírio"e que exigirá muito trabalho para ser atingida.
– O resgate e o fortalecimento dos Pontos de Cultura têm que ser um ponto central dessa gestão, mas falar em 15 mil unidades em funcionamento até 2020 é um delírio. Vamos ter que trabalhar muito para isso e vamos trabalhar – disse a ministra, destacando que, dos cerca de 4 mil Pontos de Cultura identificados em todo o país, apenas 2,3 mil são beneficiados por convênios com o ministério.
A meta de 15 mil pontos de Cultura é um dos 53 objetivos do Plano Nacional de Cultura (PNC), elaborado em parceria com representantes da sociedade civil e aprovado em dezembro de 2011. A secretária executiva do Pontão de Articulação da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, Patrícia Ferraz, disse ter interpretado a declaração da ministra como um reconhecimento da necessidade de mudanças.
– Vendo a atual realidade do ministério, o (montante) de recursos destinados ao Programa Cultura Viva (ao qual estão associados os pontos de Cultura), a meta dificilmente seria atingida. Acho que ao reconhecer o que chamou de delírio, a ministra admitiu que é necessário um outro olhar, uma nova linha de atuação por parte do ministério – disse Patrícia à Agência Brasil.
No mesmo encontro, uma frase curta e de difícil compreensão para leigos em informática já foi interpretada como sinal de mudança na relação entre o Ministério da Cultura (MinC) e a cultura digital, da qual os pontos de Cultura, no Brasil, são a expressão mais visível em termos de políticas públicas.
Marta Suplicy disse "ainda não sou uma hacker, mas vou ser". Bem recebida pelos participantes do encontro, a frase na mesma hora inspirou a criação da hashtag (modelo de endereço digital) #Martahacker no Twitter.
– Podem ter certeza, vocês são a minha turma – disse Marta, prometendo manter diálogo permanente com representantes do setor.
Com status de audiência pública e transmitida pela internet, essa foi a primeira reunião da ministra com representantes de um setor cultural. Para os participantes, foi mais um indício de uma mudança em relação à gestão anterior, já que eram justamente os ativistas da cultura digital os maiores críticos da ex-ministra Ana de Hollanda, a quem associavam a tentativas de restringir o compartilhamento digital de conteúdo e que, após tomar posse, em 2011, não lançou nenhum novo edital de convênio para pontos de Cultura.
– Mudou tudo no MinC. O discurso da Marta é a antítese do que foi o da Ana. O Brasil voltou ao século 21 na cultura – escreveu o jornalista Renato Rovai no Twitter. Já o produtor cultural Pablo Capilé, da rede de coletivos Fora do Eixo, disse à Agência Brasil que o encontro foi promissor e indicativo do que poderá ser a gestão de Marta "após dois anos de obstrução do diálogo com o setor".
– Não estamos passando atestado e temos autonomia para cobrar e criticar se for necessário, mas a avaliação é que os primeiros sinais são positivos. A ministra Marta é uma política capaz de sentir a temperatura e fazer transbordar algo que já está fervendo, como é o caso da cultura digital por todo o país –disse Capilé.
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