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Itapema FM  | 11/09/2012 06h43min

Mercado brasileiro de quadrinhos adultos ganha impulso a partir da internet

Ilustradores como Allan Sieber e Campos Rocha, tiveram notoriedade em seus trabalhos via rede social

Cauê Marques  |  caue.marques@diario.com.br

O mercado brasileiro de quadrinhos adultos ganhou impulso nos últimos anos por conta da popularização de autores que ganharam notoriedade pela internet. Allan Sieber, os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon e André Dahmer são nomes que ajudaram a popularizar os quadrinhos em plena era do "compartilhamento" nas redes sociais.O ilustrador Rafael Campos Rocha, autor de Deus, Essa Gostosa, se insere neste contexto.

Recentemente lançado pelo selo de quadrinhos da Cia. das Letras, o livro retrata Deus de uma maneira diferente. Na história de Campos Rocha, Ele assume as curvas de uma moça negra, dona de uma sex shop e de uma vida sexual bastante aberta. O enredo se passa durante uma semana na vida de Deus, sete dias em que é possível acompanhar de perto a onisciência e as aflições do Todo-Poderoso, inclusive em uma deliciosa discussão de boteco com o Diabo — com quem a moça, aliás, Deus, flerta e sente uma certa atração.

A ideia de que Deus possa ter sentimentos, desejos e inclusive falhas é o trunfo do autor ao tocar em questões que podem ser até agressivas, dependendo da ligação de quem lê com a questão religiosa.

Sem abusar ou apelar, Campos Rocha consegue tocar em tópicos controversos - como a vida sexual do Criador - com desenhos que deixam claro que estas questões, para o protagonista, não são tabu. A onisciência e a perfeição que acompanham a ideia e a compreensão que temos de Deus retiram da obra do quadrinista qualquer apelo sem sentido e ofensivo que possa existir. Os desenhos, todos em preto e branco, tornam algumas cenas difíceis de compreender, mas trazem beleza e preenchimento em outras.

Bem diagramado, o livro atinge o objetivo: provocar sem ser agressivo. Mas isso não significa que o autor não se reserva ao direito de ser explícito. Com um bom personagem em mãos, o livro é obra obrigatória para quem quiser conhecer o trabalho dos quadrinistas brasileiros.

ENTREVISTA
Rafael Rocha, ilustrador.

DC — Como surgiu a ideia de transformar um personagem como Deus em uma figura feminina?
Rafael —
  Para contradizer, atormentar e irritar. Vivemos em uma sociedade falocrática, masculina e machista, com uma entidade que representa exatamente esses valores. Fiz para contradizer os valores. No livro, Deus é desenhado como uma mulher negra e com uma vida sexual bastante aberta e livre.

DC — Já houve reclamações?
Rafael —
Algumas pessoas escrevem cartas para a Folha de S.Paulo, onde publico, e algumas pessoas ficaram chocadas com o livro – quase todas ligadas ao catolicismo, se não me engano. De qualquer forma, não é minha intenção ofender as pessoas de fé. Sou um socialista convicto e, convenhamos, isso requer uma fé braba nos dias de hoje. Minha intenção é ofender os intolerantes.

DC — É a sua primeira experiência na criação de um quadrinho que trate de um tema adulto?
Rafael —
 A única criança que me interessa é meu filho e os amiguinhos e amiguinhas dele. Mas pretendo fazer um livro infantil. Já está escrito e falta somente ilustrá-lo. O objetivo é o mesmo do livro adulto: irritar os adultos que julgam saber o que as crianças querem.

DC — O trabalho em preto-e-branco traz alguma vantagem?
Rafael —
 O convite da Cia. das Letras foi para se fazer uma HQ preto e branco e eu prefiro assim. Sou meio daltônico e preciso da ajuda da minha mulher para não mandar personagens verdes para o jornal. Uma das partes que eu mais gosto é pintar as sombras e luzes, e as cores não iam acrescentar muita coisa.

DIÁRIO CATARINENSE
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