Itapema FM | 11/09/2012 06h40min
Tempest, disco que o cantor e compositor Bob Dylan lança hoje é, de longe, um conjunto de standards dylanescos que pouco surpreendem. De perto, um trabalho vigoroso e apaixonado.
Aos 71 anos, Dylan lança o 35º álbum da carreira. Se tivesse estreado em disco ainda bebê, precisaria ter mantido periodicidade bienal ao longo de toda a vida para atingir a marca - e ainda seria um compositor prolífico e regular. Mas ele começou aos 20 e, mesmo recentemente, após completar 60 anos, seguiu lançando material - trabalhos decentes, em sua maioria - de quando em quando. Tempest é melhor que todos eles.
Folk, blues e rock demarcam o loteamento eclético dos 68 minutos do disco - à venda também como um LP duplo, um dos motivos para críticos empolgados terem-no comparado ao clássico de 1967 Blonde on Blonde. Produzido por Dylan, Tempest alcança uma sonoridade profunda em que mesmo a voz debilitada do cantor funciona. E segue, visceral, cantando histórias de amores e tragédias reais.
O disco inicia com faixas estradeiras: a pitoresca Duquesne Whistle, quase um jazz dos anos 1930, e a acelerada Narrow Way, que lembra as primeiras empreitadas elétricas de Bob, como Maggie’s Farm (1965). Nessa arrancada solar, há lugar para paixão, representada pelas baladas Long Wasted Years e Soon After Midnight. A sensação que se tem ao ouvir Soon After Midnight é que a faixa poderia ter nascido numa caminhada romântica por um parque em uma cidade improvável.
Em Early Roman Kings, ele evoca blues clássico e avisa: "não estou morto, meu sino ainda toca". Na roqueira Pay In Blood, o tempo começa a fechar, e em Scarlet Town, o riff sombrio do banjo e o violino fúnebre denunciam a espreita dos urubus. É a transição para o trágico lado B do segundo LP de Tempest. Na sequência final, a monumental Tin Angel - nove minutos que culminam em assassinato e suicídio - prepara para a faixa-título. Sua influência celta sugere o balanço de um barco, mas a letra de 45 versos narra o naufrágio do Titanic.
A derradeira Roll on John homenageia Lennon. O tributo de Dylan é uma balada folk tocante, com a letra quase piegas de quem não se censura ao lembrar de um amigo. Evoca o lendário vídeo em que Bob, eletrificado, e Lennon, aéreo e cáustico, conversam e passeiam de táxi por Londres em 1966. Quando a tormenta de Tempest acaba, dá para ouvir o uivo do vento. E fica a torcida para que o sino de Dylan continue a badalar.
Tempest, de Bob Dylan. Lançamento com 10 faixas. US$ 9,99 (à venda no iTunes)
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