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Itapema FM  | 04/09/2012 16h21min

Autor elege 1.001 músicas e provoca debate sobre as canções brasileiras escolhidas

O livro "1001 Músicas Para Ouvir Antes de Morrer" será lançado no fim deste mês

Jotabê Medeiros

Você colocaria Tem Espaço na Van, do Ed Motta, como uma das músicas fundamentais da nossa época? Ou Luz e Blues, do Olodum? Ou Só Tinha de Ser Com Você, com Fernanda Porto?

A editora Sextante lança no fim deste mês o livro 1001 Músicas para Ouvir Antes de Morrer, um volume que deve esquentar o debate musical por uns tempos nos trópicos. O livro é organizado pelo inglês Robert Dimery, mesmo coordenador de 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer, publicado em 2007 pela mesma Sextante. Como naquele caso, não há nenhum crítico, especialista ou jornalista sul-americano da área da música entre os votantes da lista.

A novidade desta nova seleção de Dimery é que ele, ao final das 1.001 canções, faz uma nova lista de 10.001 músicas fundamentais para que as pessoas baixem e ouçam. As canções mencionadas no início desta reportagem estão nessa categoria. Basta uma pequena chacoalhada que a seleção vai sendo questionada até por quem está nela.

– Não me meto em escolha de ninguém; mas, pra contrariar, sugiro O Motobói e Maria Clara, do disco Tropicália Lixo Lógico (2012) – brincou Tom Zé, que teve Desafio (dele e de Gilberto Assis, do disco Jogos de Armar, 2003) selecionada.

Na lista das 1.001 canções essenciais, os brasileiros são os clássicos: Jorge Benjor (Taj Mahal), Tom Jobim e Elis Regina (Águas de Março), Mutantes (Minha Menina), João Gilberto (The Girl from Ipanema, com Stan Getz) e Tom Jobim (Corcovado, com Frank Sinatra). Mas houve pelo menos uma zebra: Let's Make Love and Listen to Death from Above, do grupo paulistano Cansei de Ser Sexy, está entre as escolhidas. "Pegue cinco mulheres bacanas, incluindo a exuberante cantora que veste collant, Lovefoxxx, e um homem com vários talentos e o que você tem? O sexteto brasileiro Cansei de Ser Sexy, cujo nome deriva de uma frase atribuída a Beyoncé", escreve a londrina Olivia McLearon, escritora obcecada por Madonna.

Entre as regras da seleção está a escolha de músicas que tenham letras (excluindo-se assim as instrumentais) e que abranjam boa parte do século 20.

– Essas músicas mudaram o mundo – defende o organizador, Robert Dimery, autor de diversos livros e colaborador de publicações como Time Out e Vogue. – A escolha se provou um trabalho hercúleo, com as listas sendo constantemente modificadas, músicas obscuras dando lugar a seleções mais populares, e vice-versa, e naturalmente, mais debates acalorados.

Embora precioso do ponto de vista do auxílio historiográfico, o trabalho de Dimery não se pretende de rigor científico. Nessa seleção nova, por exemplo, ele acrescenta um símbolo nas resenhas (uma seta indicativa) que revela que aquela música em questão foi "influenciada" por uma outra.

– Certamente não estamos sugerindo que os artistas tivessem a intenção de que as músicas ficassem parecidas. Entenda essa parte do livro como uma divertida especulação que sugere uma herança musical comum entre essas duas músicas.

Ao descrever Taj Mahal, de Jorge Benjor (do álbum Ben, de 1972), o crítico lembra que foi esse riff de guitarra que formou a base de Da Ya Think I'm Sexy?, de Rod Stewart. A atitude de Dimery é a de um apreciador da música – que tem a pretensão de não ter preconceitos:

– Acredito na preservação da identidade musical das diferentes culturas, e não gosto de música que abandona completamente suas raízes.

O leitor vai encontrar de O Sole Mio, de Caruso, a Time to Pretend, do MGMT (2008). O leque é amplo: luminares da cultura pop, como Beyoncé e Britney, lado a lado com astros do universo indie, como Guillemots e Weezer.

Zebras e ausências

A lista de 10.001 músicas para download do livro organizado por Robert Dimery é um retrato da contradição crítica (e uma amostragem das dificuldades do etnocentrismo) na música. Entre os brasileiros escolhidos, apenas uma interpretação é da primeira fase da canção nacional, a música Disseram Que Eu Voltei Americanizada, com Carmen Miranda. Nada de Pixinguinha, por exemplo. A seguir, a coisa mais remota é Cartola, com Quem me Vê Sorrindo. Depois, Mutantes. O resto é produção mais recente, como Tom Zé (Desafio), Milton Nascimento e Lô Borges (San Vicente), Rita Ribeiro (Isso), Nelson Sargento (Infraestrutura), Marisa Monte (Esta Melodia), Maria Bethânia (Sonho Meu), Marcos Valle (O Cafona).

Entre as vacas sagradas da MPB, na eterna contenda entre a dupla Caetano e Chico, vitória de Caetano por 3 a 1: Alegria, Alegria, Lua e Estrela e O Estrangeiro – contra apenas Samba de Orly, do Chico. Gilberto Gil comparece com Chiclete com Banana, de Jackson do Pandeiro. Um estudioso da música brasileira não deixaria de fora Maracatu Atômico, de Jorge Mautner, que Gil e Chico Science gravaram e mudou duas vezes a face da música nacional.

1001 músicas para ouvir antes de morrer
Robert Dimery
Música. Editora Sextante, 960 páginas, R$ 59,90 (em média).

Agência Estado
Luiz Ávila / Agencia RBS

Tom Jobim figura na lista, com versões de “Águas de Março” e “Corcovado”, ao lado de outros grandes nomes da MPB e de surpresas como a banda Cansei de Ser Sexy
Foto:  Luiz Ávila  /  Agencia RBS


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