No ano em que Caetano completou sete décadas, um disco mostra que sua obra não envelhece.

A Tribute to Caetano Veloso são, mais precisamente, 16 tributos, prestados ao compositor por artistas de todos os cantos.

Da fadista portuguesa Ana Moura às últimas revelações do cenário independente, ninguém é estranho à obra de Caê. Coletânea heterogênea, gravada de maneira autônoma por cada um dos colaboradores, A Tribute to Caetano aposta em fãs declarados – Beck, The Magic Numbers, Chrissie Hynde (do Pretenders), Jorge Drexler e outros. Ao ser homenageado, é Caê quem vê revelado o que há de si em cada um deles.

Gravada, cantada e produzida por Beck, Michelangelo Antonioni torna-se uma vinheta densa e dramática, que poderia estar nos melhores álbuns do americano. Drexler e Céu acrescentam programações eletrônicas, ele a Fora da Ordem, ela a Eclipse Oculto. A paulistana intensifica o clima oitentista da canção de Uns (1983) com teclado e guitarras envenenadas – comuns a sua produção.

Marcelo Camelo homenageia um jovem Caetano ao cantar De Manhã, com guitarras limpas que se arrastam junto à voz preguiçosa. Colega de Camelo no Los Hermanos, Rodrigo Amarante forma dupla com Devendra Banhart. Na versão deles, Quem Me Dera é um folk ensolarado, que ainda cita clássicos tropicalistas e experimentais do compositor.

A apropriação pode subtrair de algumas canções algo que lhes é essencial – como You Don't Know Me, gravada pelo Magic Numbers, e London, London, pelo mutante Sérgio Dias, que já não soam como canções de exílio dos anos 1970.

Mas o saldo é positivo. Destaques da nova MPB, Luísa Maita, Mariana Aydar e Tulipa mostram que, sem a gravidade de Bethânia ou a sensualidade de Gal, podem soar autênticas ao cantar Caê. As músicas do gênio baiano, afinal, não pertencem a nenhum intérprete específico – somente a ele e ao resto do universo.