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Itapema FM  | 23/08/2012 16h

Confira entrevista com Milton Nascimento, cantor que se apresenta em SC nesta quinta e sábado

O artista falou sobre sua paixão pelo cinema e sua relação com a mídia

Roberta Ávila*  |  roberta.avila@diario.com.br

Leia a primeira parte da reportagem sobre Milton Nascimento

Dizem que Milton Nascimento fala pouco e baixo e que também não é de muita conversa. Não é verdade. Milton Nascimento é um homem que fala quando tem algo a dizer e que sofre com a mesma maldição que todos os famosos: responde há 50 anos as mesmas perguntas sem importância que jornalistas (chatos) insistem em fazer. Mas se é para falar do quê e de quem ama, Milton se desdobra em lembranças doces e histórias incríveis. É capaz de ficar 10, 15 minutos, transitando por diferentes países e amizades para traçar as conexões que quer e responder a uma pergunta. A concentração, assim como a experiência, são de deixar com inveja muito garoto.

Veja galeria de fotos de Milton Nascimento

 Confira o áudio da entrevista com o artista 

Escute o repertório do show de Milton em Minas Gerais

Faz 15 anos que você não vem a Florianópolis. Que lembranças tem da cidade?

Milton Nascimento -
Eu fui a Florianópolis duas vezes. Uma para tocar e a outra para passar o Carnaval com a família e amigos. Nessa do Carnaval, ficamos hospedados numa praia afastada e estava todo mundo saindo para ir pular Carnaval e eu disse que ia ficar em casa cuidando das crianças. Aí, um amigo me disse que eu era fresco e enjoado. Eu falei: "o quê, eu sou enjoado? Então tá bom". Fui, coloquei uma meia-calça nos braços, um pano na cabeça, uns óculos de sol e me fantasiei de árabe. Olhei no espelho e nem eu me reconhecia. Daí, fomos todos pular Carnaval numa praça. Eu tava lá tranquilo, quando chegou um cara para mim "nossa, mas você é a cara do Milton Nascimento". Aí, eu fiquei meio assim, vi que ele foi chamar os amigos, juntar todo mundo, e saí de lá rapidinho! (risos)

Você está completando 50 anos de carreira e o Clube da Esquina, um dos seus álbuns mais importantes, está fazendo 45. Li que você considera o aniversário do Clube da Esquina mais importante que o da sua carreira, é verdade?

Milton -
Não, eu não disse isso, não. Esse é um ano muito importante para mim, há tanta coisa para comemorar, que eu nem sei se dou conta, mas é um prazer estar ,sim, ainda a mil e provando para mim mesmo que não tem nada que atrapalhe se a gente não deixar de trabalhar, se a gente levar tudo muito a sério e, principalmente, se a gente amar o público, que é o meu caso.

Sobre a sua ligação com cinema, é curioso que você começou a compor depois de ter assistido um filme do Truffaut, Jules e Jim, o que aconteceu enquanto você assistia esse filme que te fez tomar essa decisão?

Milton -
Eu sempre fui muito, mas muito apaixonado por cinema. O Jules e Jim mexeu com a minha alma de uma tal maneira que tudo que eu não queria fazer caiu por terra. Agora, além da influência do cinema em si, que é uma coisa que eu amo, é um filme sobre amizade. E a amizade foi uma coisa que sempre a gente teve e eu aprendi muito com meus pais. Por exemplo, minha mãe era muito diferente das outras lá de Três Pontas, porque as outras tinham uma mania de não gostar que criança frequentasse a casa para não sujar e a minha mãe fazia questão que as crianças fossem lá para casa e a gente ficava brincando no pomar e ela fazia chocolates. A meninada toda era apaixonada por ela. Ainda bem que eu não tinha ciúme. Uma vez eu cheguei da rua, tinha ido fazer uma compra, e tinha dois meninos de sete anos. Eu cheguei sem fazer barulho e escutei os dois falando sobre minha mãe. "Mas ela é muito bonita, ela é boazinha demais". Eu cheguei perto deles e eles não me viram e eu falei "olha, vocês ficam falando da minha mãe, que eu vou falar para o meu pai" (risos).

No último filme de Woody Allen, Para Roma com Amor, o personagem interpretado por Roberto Benigni fica famoso de uma hora para outra e começa a sofrer o assédio da imprensa. As pessoas querem saber o que ele tomou de café da manhã, que cueca ele usa, e divulgam as respostas como se elas fossem super significativas, apesar de serem banais. Você acha que isso é uma boa paródia do que é ser famoso? As pessoas passam a dar muito destaque para coisas sem importância?

Milton -
Ah, eu acho que sim. Tem muitas perguntas que vêm da imprensa que dá vontade de falar "Pô, para com isso!". Muitas vezes já fizeram muitas perguntas que eu não gosto. Tem até uma coisa interessante. Por exemplo, eu apareci em 1967 no Festival da Canção, logo depois, em 1968, eu já tava gravando nos Estados Unidos com o Wayne Shorter. Gravamos com músicos do pop, do rock, o engenheiro de som era produtor daquela banda que tocou com Bob Dylan, The Band, e, para produzir o disco, ele chamou o cara que, na época, era produtor dos Rolling Stones. Ou seja, ele fez uma feijoada completa, misturou tudo. E aí saiu aquele disco que foi uma maluquice, porque, se havia algum preconceito de um músico com outro de outro estilo, acabou. Fui chamado para gravar com o pessoal do rock, de tudo que era ritmo. E continuaram a me perguntar que ritmo eu tocava. Aí, a primeira vez que eu fui na Dinamarca, havia um festival lá e tinha um cartaz na rua. Dizia: Miles Davis - Jazz. Fulano - Blues. Outra pessoa - Blues. Milton Nascimento - Milton. (risos) Aí, pronto!

Veja vídeos do show de Milton Nascimento

* A repórter viajou a convite da produção

Agende-se

Criciúma
O quê: show 50 anos de carreira, com Milton Nascimento e banda
Quando: 23 de agosto, 21h
Onde: Siso's Hall (Rod. Otávio Dassoler, 5635), Criciúma/SC
Quanto: R$ 70 a R$ 180 - com meia-entrada
Mais informações no site www.blueticket.com.br

Florianópolis
O quê: show 50 anos de carreira, com Milton Nascimento e banda
Quando: 25 de agosto, 21h
Onde: Centro de Cultura e Eventos da UFSC (Campus Universitário, Florianópolis)
Quanto: ingressos esgotados para a plateia inferior, plateia superior R$ 200
Mais informações no site www.blueticket.com.br

DIÁRIO CATARINENSE  -  São Gonçalo do Rio Abaixo/MG
Roberta Ávila / Agência RBS

Milton já veio pular carnaval em Floripa e conseguiu permanecer anônimo
Foto:  Roberta Ávila  /  Agência RBS


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