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Itapema FM  | 19/08/2012 15h26min

Uma seleção equilibrada

Superioridade dos filmes nacionais pode indicar caminho ao Festival de Gramado

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Produzida em pouco tempo e com grande corte de recursos, a festiva 40ª edição de Gramado ficará marcada por duas voltas por cima: a do próprio festival, que ainda pena para pagar dívidas de 2011, e a da mostra de longas nacionais, que pela primeira vez em muitos anos foi melhor do que a dos filmes latino-americanos.

Será lembrada também pela primeira exibição no Brasil de O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho (o grande filme do evento), pela inconsistência de todas as produções vindas de fora do país (exceto Artigas, La Redota) e, também, por uma mudança de foco: com poucas celebridades na cidade, em Gramado 2012 falou-se mais de cinema do que dos desfiles sobre o tapete vermelho.

Com um misto de satisfação e alívio, os organizadores circulavam entre o Palácio dos Festivais e o QG do evento comemorando a perspectiva de continuidade de seu projeto. Ainda que dependa do resultado das eleições municipais de outubro (a coordenadora-geral Rosa Helena Volk é a atual secretária da Cultura de Gramado), a equipe já se permite planejar a 41ª edição.

– Há contratos de patrocínio fechados para dois anos. Quem estiver à frente do festival em 2013 terá mais tempo e tranquilidade para trabalhar e não precisará sair do zero em janeiro – disse Rosa Helena, horas antes da cerimônia de entrega dos Kikitos.

Algo a ser discutido pelos organizadores em 2013 é como trabalhar a presença de artistas de televisão na Serra. A escassez desta edição se deveu principalmente ao aperto financeiro, mas nem por isso diminuiu o festival. O que é preciso saber é se o exemplo será seguido daqui por diante, se os organizadores estarão dispostos a investir dinheiro público (via leis de renúncia fiscal) em mordomias a celebridades de pouca ou nenhuma relação com o cinema ou, ainda, se investirão em parcerias com patrocinadores específicos para trazê-los, algo já realizado nas últimas temporadas.

A questão, vital em se tratando de Gramado, só poderá ser respondida quando a nova coordenação tomar posse. O que pode ser repensado desde já são alguns de seus aspectos curatoriais. Funcionou, por exemplo, o perfil de valorização de uma certa produção independente nacional, com realizadores já conhecidos mas que ainda estão no primeiro ou no segundo longa, como Rubens Rewald, Matheus Souza e Caetano Gotardo, além de Kleber Mendonça Filho.

É preciso lembrar, aqui, que a divisão da mostra competitiva de longas-metragens em dois braços, um brasileiro e outro latino-americano, foi adotada devido à fragilidade dos títulos nacionais – premiar mais filmes estrangeiros ajudou a levar Gramado, por tantos anos um espelho confiável do bom cinema brasileiro, à sua propalada crise de identidade. Já que o festival parece ter reencontrado o caminho em seu braço doméstico, talvez seja hora de se pensar numa reunificação, o que diminuiria a quantidade de prêmios distribuídos (são mais de 30), aumentando o valor de cada Kikito oferecido.

No palco do Palácio dos Festivais, o apresentador Leonardo Machado anunciou a cerimônia de sábado como “a grande noite do cinema brasileiro e latino”. A frase faz sentido, mas só se tornará uma verdade se Gramado, depois de dar vigor à mostra competitiva de longas nacionais, trabalhar no fortalecimento de seu braço internacional.
Enquanto os novos longas-metragens do mexicano Carlos Reygadas (de Luz Silenciosa) e do uruguaio Pablo Stoll (de Whisky) emendam festivais internacionais desde a sua première em Cannes, enquanto o Fantaspoa exibe em primeira mão o representante argentino na corrida do Oscar (Aballay, de Fernando Spiner), enquanto o novo Carlos Sorín dá sopa por aí, Gramado apresentou apenas cinco filmes latino-americanos em sua mostra competitiva, entre eles os precários Diez Veces Venceremos, vindo da Argentina, e Calafate, Zoológicos Humanos, do Chile. Este é um real desafio do festival serrano: tornar homogêneo, em sua proposta estética e no seu nível de qualidade, o recorte de longas-metragens exibidos.

O júri popular também demonstra ter perdido o sentido em sua fórmula atual – ele é constituído de cinéfilos escolhidos pelos críticos dos principais jornais do país, e não simplesmente pela plateia que assiste às sessões no Palácio dos Festivais. Mais uma vez, a decisão do júri popular de Gramado coincidiu com a do júri da crítica – os dois deram seu prêmio principal a O Som ao Redor. A escolha de ambos se mostrou mais ousada do que a do júri oficial – que preferiu Colegas. Levando-se em conta os princípios de cada categoria, trata-se de uma distorção.

O que mais se discutiu nos bastidores foi a anunciada – e não concretizada – premiação em dinheiro aos vencedores. É fato que oferecer uma bolada ajuda a motivar os cineastas e os produtores a inscreverem seus filmes. Mas há outros aspectos a serem repensados. De pé depois de uma nova queda, um dos mais tradicionais festivais do continente parece pronto para repensá-los.

ZERO HORA
Adriana Franciosi / Agencia RBS

Diretor de "Artigas", Cesar Charlone ganhou cinco dos sete prêmios da mostra latina e ainda duas das três menções especiais
Foto:  Adriana Franciosi  /  Agencia RBS


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