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Itapema FM  | 17/08/2012 05h03min

Leia as entrevistas com Fernando Meirelles e Maria Flor

Brasileira é uma das atrizes de "360", dirigido por Meirelles e estreando nos cinemas

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Depois do debate sobre 360 realizado no 40º Festival de Gramado, o diretor Fernando Meirelles e a atriz Maria Flor receberam jornalistas para conversas mais reservadas sobre o filme. ZH esteve com a dupla no Hotel Serrano juntamente com repórteres de outros quatro veículos brasileiros de imprensa. Confira o resultado do bate-papo:

Fernando Meirelles, cineasta

Zero Hora – Ao apresentar 360, você disse que era um filme "pequeno". Mas só em relação ao orçamento: como em seus outros longas, 360 toca em grandes temas – amor, sexo, um lugar no mundo.

Fernando Meirelles – Os temas podem ser grandes, mas seu tratamento é íntimo. Cidade de Deus tinha violência, O Jardineiro Fiel citava a indústria farmacêutica, Ensaio sobre a Cegueira nem se fala: sempre problemas materiais e globais. 360 é outra coisa. Não tem antagonista, não há o mal personalizado em algum personagem. Os conflitos são de outra ordem: saio com esta prostituta ou telefono para minha mulher? São questões muito pessoais, cotidianas, dizendo respeito à necessidade de reprimir vontades em nome da convivência social. Os antagonistas estão dentro dos protagonistas. Para mim, muito da unidade do filme se dá a partir do que escolhemos e das consequências advindas das nossas escolhas.

ZH – Você previa aprofundar mais alguma história e teve de fazer algum descarte para deixar o filme mais curto e acessível?

Meirelles - Nada. O roteiro veio pronto, filmei exatamente como o Peter Morgan o fez. Aliás, acho que, pelo envolvimento que teve, Peter é bem mais autor deste filme do que eu. Ficamos muito amigos, ele se sentiu à vontade para participar de tudo. Se fosse começar de novo, talvez tirasse alguma história paralela para poder dar mais tempo a certos personagens. Alguns merecem – a do ex-presidiário (Ben Foster) com a brasileira (Maria Flor) e a do capanga da máfia russa (Vladimir Vdovichenkov), por exemplo.

ZH – O Jardineiro Fiel era mais esperançoso ao falar de relacionamentos. Em 360, a infidelidade é praticamente o ponto de partida das histórias. Por que essa mudança?

Meirelles - Talvez mais do que da questão da fidelidade, os dois filmes tratam de culpa, arrependimento. Em O Jardineiro Fiel, o personagem de Ralph Fiennes desconfiava da mulher. Sua mudança é motivada pela culpa. Quando ele a reencontra, diz que a traiu porque não acreditara nela. Isso está muito presente em 360. Nunca tinha pensado nisso, mas acho que há uma coerência nos dois filmes a partir dessa questão. Lembrando que os dois roteiros não são meus, vieram prontos para mim.

ZH – No lançamento de Xingu, você se disse decepcionado com o desinteresse do público pelo filme, prometendo repensar a ideia de investir na adaptação de Grande Sertão: Veredas. Passados alguns meses, você segue com o mesmo sentimento?

Meirelles – Falei tudo aquilo porque achei que o início da carreira de Xingu foi muito ruim. Mas ele segue em cartaz com cerca de 10 cópias e está batendo na casa dos 400 mil ingressos vendidos, o que é bem razoável. Sigo com a ideia de fazer coisas no Brasil, independentemente de qualquer coisa, mas o Grande Sertão: Veredas deixei de lado, realmente. Quantas pessoas no país, hoje, estão interessadas em ver um filme de jagunço? É muito pouco perto do que ele precisa arrecadar para se pagar. Parece-me que o público brasileiro não quer saber de histórias que não sejam as suas próprias, contemporâneas, com as quais pode se identificar.

ZH – O que mais interessa a você hoje, filmar no Brasil ou lá fora?

Meirelles - As duas coisas. Depende muito do projeto. Sei de relatos de o quanto é difícil impor as ideias de autor em Hollywood. José Padilha me disse, sobre Robocop, que, de cada 10 coisas que ele propõe, só consegue emplacar uma. Os produtores mandam no filme de um jeito que é difícil conseguir fazer qualquer coisa. Por isso, sempre gostei das produções independentes, onde escolho o elenco, mexo no roteiro etc. Sempre junto do produtor, e não a partir do que ele quer. Nêmesis, meu próximo longa, sobre as relações de ódio do armador grego Onassis com o Bob Kennedy, será rodado no mesmo sistema dos anteriores, entre Inglaterra, Croácia e Hungria. Recebi um roteiro da Pathé que achei ruim, mas me interessei pelo tema. Propus recomeçar do zero, escrevendo uma nova história em parceria com o Bráulio Mantovani. Mais do que voltar a filmar no Brasil ou experimentar algo em Hollywood: me sinto melhor quando a ideia de autoria fica mais consistente, quando o projeto tem bem a minha cara.

Maria Flor, atriz


Foto: Paramount, divulgação

ZH – Você contracenou com dois atores de gerações diferentes, mas ótimos, Ben Foster (de O Mensageiro) e Anthony Hopkins, que você chamou de "fofo" no debate do longa aqui em Gramado.

Maria Flor – Mas ele é um fofo mesmo! (risos)

ZH – Como foram essas duas experiências?

Maria - Bem diferentes. Eu já conhecia e admirava os dois. Hopkins é impressionante em tantos filmes, enquanto Foster fez muitos longas de ação dos quais não gosto, mas fez também Alpha Dog (2006), que é legal, e O Mensageiro (2009), que acho incrível. Hopkins é um cara que está num ponto da carreira em que faz o que quer e, se bobear, como quer. Este filme, por exemplo, ele disse desde o início que queria fazer inspirando-se nas próprias experiências de ex-alcoólatra. Foi sempre querido e supertranquilo, sentadão no set, simpático e pronto para ir lá e ser sensacional quando chamado. Foster, por outro lado, tem mais energia que, no entanto, buscava controlar com uma obsessão por estar concentrado. Chegava a hora de filmar, e todo mundo perguntava: cadê ele? O cara tinha sumido. Estava num canto buscando concentração. É muito intenso e tenso.

ZH – Difícil?

Maria - Para ter uma ideia, só conheci ele, de fato, na hora de filmar. Porque ele é muito fechado. Praticamente não foram a Maria e o Ben que se conheceram, mas os dois personagens, pois as primeiras palavras que trocamos já foram os diálogos do filme.

ZH – Você imagina que, depois deste filme, novos horizontes se abrem, inclusive a perspectiva de uma carreira mais internacional?

Maria – Acho complicado, porque o mercado lá fora é muito disputado, há muitos latinos e poucos papéis para eles. Sei que emplacar algo é difícil, embora tenha muita vontade de participar de outros projetos em Hollywood para ver como as coisas funcionam, como é o set, o sistema de filmagens e de produção. Já andei fazendo umas leituras para uns filmes, uma agente viu algumas coisas interessantes, mas não tenho muitas expectativas de consolidar nada, não.

ZH – Você disse no debate sobre o filme que tinha medo de ficar eclipsada por Anthony Hopkins no filme. Isso não acontece, aliás. Agora, depois de ter feito o filme, você continua sentindo a performance dele como algo difícil de se acompanhar?

Maria – Não sinto mais isso. Estou supersatisfeita como o trabalho, acho que segurei bem a bronca (risos). Hopkins é daqueles atores tão econômicos e ao mesmo tempo profundos que pensei assim: tenho de ir com ele, só isso, acompanhá-lo. Acho que consegui. Agora, depois de fazer o filme e vê-lo pronto, o que sinto é que ele me deixou muito mais preparada para ser atriz.

ZERO HORA
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