Roberta Ávila  |  roberta.avila@diario.com.br

Centro de Florianópolis, 17h30min de quinta-feira. Em uma mesinha de metal um grupo joga baralho e ao fundo uma mulher canta Garganta, de Ana Carolina. Ela termina a música, se aproxima do "crupiê", que convida quem passa pela rua para jogar, e diz "obrigada, eu tenho filho pequeno, tenho que ir para casa" e sai correndo. Essa cena inusitada, na verdade foi uma das menos surpreendentes que aconteceram no Centro de Florianópolis, entre as ruas Deodoro, Felipe Schmidt,Trajano e Conselheiro Mafra.

Cofres foram retirados de bueiros enquanto em uma cena de investigação de um homicídio, o corpo desapareceu. Grupos armados com seus próprios dedos marcharam pelas ruas como se segurassem armas enquanto a busca pelo sete paus ou pelo nove de copas prosseguia intensa. Até que finalmente, depois que a equipe de televisão rabiscou vitrines com canetinha e enfureceu lojistas, o roubo do cofre encontrou seu fim e os atores nus, encerraram a peça.

 Confira as imagens da apresentação da peça

Se nada disso faz sentido, você entendeu tudo. As cenas foram protagonizadas pelo Erro, grupo de teatro que existe há 11 anos e que desde 2010 está percorrendo cidades do país fazendo apresentações que usam o conceito de intervenção urbana. A peça só existe se o público participar. E ele participa. Um rapaz resolve comprar um saco imenso de pipoca colorida e dividir com o público. Outro decide dividir as cartas de baralho que recebeu dos atores com quem quer que queira participar das cenas.

A peça, chamada Hasard, era composta por quatro cenas principais:

- o jogo de baralho;

- o roubo do cofre;

- a investigação de homicídio;

- a reportagem para a televisão.

São quatro finais diferentes para a apresentação, dependendo do naipe de maior quantidade com o público na cena final. Os atores tirarem a roupa, em uma grande aposta, com os homens ficando nus e as mulheres seminuas foi o que aconteceu nesta quinta, mas amanhã nunca se sabe.

Segundo o diretor do grupo, Pedro Bennato, a inspiração do grupo foram manuais da polícia, bombeiros, economia e jogos, que serviram de base para os textos do baralho feito especialmente para a apresenteção e que é distribuído ao público durante o evento. A noite de quinta-feira foi a estreia de Hasard, que continuará sendo apresentada em Florianópolis até o dia 21 de agosto. Depois segue para Porto Alegre e São Paulo.

Leia mais sobre a apresentação no caderno Variedades de sábado.

DIÁRIO CATARINENSE