Notícias

Itapema FM  | 31/07/2012 17h19min

"Além da Liberdade" vale mais pelo tema e pela personagem do que pelo filme em si

Drama de Luc Besson narra trajetória de vencedora do Nobel da Paz

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Aung San Suu Kyi é uma ativista proeminente pelo menos desde o Nobel da Paz que ganhou em 1991, um ano após vencer as eleições à presidência da Birmânia e ser impedida de tomar posse pela ditadura militar que controla o país asiático desde os anos 1960. É uma grande mulher, de trajetória notável em suas renúncias pessoais em nome de uma causa maior: filha do herói nacional assassinado pelos mesmos déspotas de que é vítima, ela foi à Inglaterra, casou com um professor de Oxford, com quem teve dois filhos, só voltando para casa no fim da década de 1980 para assistir à morte da mãe. De lá não saiu mais, até porque foi mantida em prisão domiciliar durante 15 dos últimos 22 anos.

Encarnada com competência pela ótima atriz de origem malaia Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão, Memórias de uma Gueixa), no entanto, Suu Kyi não ganhou uma cinebiografia à sua altura. Em Além da Liberdade, o cineasta francês amante dos filmes de ação Luc Besson (O Profissional, O Quinto Elemento) resolveu contar o seu drama a partir da relação com o marido distante, interpretado por David Thewlis (que está igualmente bem). Apostou numa música melosa e numa fotografia afetada e transformou os milicos em verdadeiras caricaturas do mal de hábitos bizarros que nem o menos astuto dos espectadores é capaz de levar a sério. Acabou esvaziando a dramaturgia do filme e, consequentemente, o impacto que ele poderia provocar.

Não que os milicos não sejam vilões terríveis ou que a separação forçada de Suu Kyi não constitua um trauma com consequências impactantes em sua história. O problema é que o humanismo de Além da Liberdade é forjado por reforços emocionais que, efeito contrário do que deveriam indicar, artificializam esta história. Compare com o espetacular Violeta Foi para o Céu, longa sobre a cantora chilena Violeta Parra que estreou duas semanas antes e segue em cartaz na Capital: a grande mulher emerge fortalecida da tela graças às sutilezas dramáticas, narrativas e de construção dos personagens. Luc Besson comete o pior erro que um filme político pode ter, que é o de tentar forçar o público a tirar conclusões que deveriam surgir naturalmente.

Pena, pois a intenção de difundir a história de Suu Kyi e da revoltante repressão a que ela e seus parceiros e seguidores são submetidos há tantos anos sem maiores intervenções internacionais é das mais nobres.

ALÉM DA LIBERDADE (The Lady)
De Luc Besson. Com Michelle Yeoh e David Thewlis.
Drama, Grã-Bretanha/França, 2011. Duração: 132 minutos. Classificação: 14 anos.

Paris Filmes / Divulgação

Michele Yeoh é Aung San Suu Kyi, eleita presidente da Birmânia mas impedida de tomar posse pelos militares do país
Foto:  Paris Filmes  /  Divulgação


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.