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Itapema FM  | 26/07/2012 16h48min

Sean Penn vive ex-ídolo da música pop em "Aqui É o Meu Lugar"

Premiado em Cannes, filme do italiano Paolo Sorrentino equlibra drama existencial e comédia

Marcelo Perrone  |  marcelo.perrone@zerohora.com.br

É uma combinação temática curiosa – e corajosa – esta que o diretor italiano Paolo Sorrentino escolheu para sua estreia num filme falado em inglês e estrelado por um dos mais respeitados astros do cinema. E Sean Penn, com dois Oscar na estante, abraçou o risco com entusiasmo compondo aquele que é o mais bizarro personagem de sua aclamada carreira: Cheyenne, um sequelado ex-astro da música pop que volta à estrada para encontrar um criminoso de guerra nazista.

Em cartaz a partir desta sexta-feira em Porto Alegre, Aqui É o Meu Lugar foi apresentando na disputa pela Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2011, de onde saiu com o Prêmio do Júri Ecumênico. Este mesmo evento havia consagrado Sorrentino, em 2008, com o Prêmio do Júri concedido a Il Divo, sua inventiva cinebiografia do ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti.

 E como em Il Divo, o diretor imprime em Aqui É o Meu Lugar uma narrativa que foge ao naturalismo e faz uso de um apuro visual — do uso da cor à composição dos planos – para ressaltar seu protagonista quase como uma figura cartunesca. E Cheyenne é um figuraça. Embora seu visual seja decalcado de Robert Smith, líder e cantor da banda The Cure, é com Ozzy Osbourne que ele se parece no jeito lesado de ser.

Cinquentão e milionário, Cheyenne vive em sua mansão em Dublin, na Irlanda, com a mulher, Jane (Frances McDormand). Afastado dos palcos há mais de 20 anos e avesso aos convites para um revival saudosista, o artista se recusa a abandonar a maquiagem pesada e os cabelos erguidos à laquê, como nos velhos tempos de glória. Aos poucos percebe-se que, mais do que por excêntrica vaidade ou saudosismo, não desencarnar do personagem que consagrou no imaginário dos fãs é também um escudo de proteção para o misantropo Cheyenne.

Sua rotina consiste em acompanhar o mercado de ações, no qual investiu sua fortuna, jogar pelota basca com Jane na piscina que nunca encheu, beber muito suco  – decorrência dos excessos qúmicos e etílicos do passado, e a passear pelas redondezas na companhia de uma jovem admiradora.

Em meio a uma crise de depressão – que é apenas tédio, segundo sua mulher –, Cheyenne decide viajar a Nova York ao saber que seu pai, com quem rompeu na juventude, está à beira da morte. Na comunidade judaica à qual pertence sua família, é informado que o pai tinha como obsessão encontrar o nazista responsável por torturá-lo no campo de concentração de Auschwitz, durante a II Guerra.

Cheyenne toma para si a continuidade dessa missão. Na mudança de registro que acentua a curva dramática do filme, o veterano roqueiro cumpre um temporão rito de passagem que, espera, pode ajudá-lo a lidar com traumas passados – se sente responsável pelo suicídio de dois jovens fãs que, segundo ele, levaram a sério demais suas letras góticas depressivas –, e a colocar o pé no mundo real.

Sorrentino trabalha muito bem tanto na clave mais divertida, que vem da convivência de  Cheyenne com os muito tipos que conhece cruzando o interior dos EUA, quanto na amargura do balanço existencial que brota ao olhar sua vida em retrospectiva. É bastante emblemático, por exemplo, o diálogo que ele tem com o músico David Byrne, vivendo ele mesmo, sobre o conceito de “arte séria” e “arte fútil”. Byrne, aliás, assina a ótima trilha sonora – e é de sua ex-banda, o Talking Heads, a música que dá título ao filme, This Must Be The Place.

A entrega de Penn faz de Cheyenne desde já um tipo antológico. Um ator menos talentoso poderia encarnar com competência essa figura refugiada num universo particular, no qual só consegue sobreviver escondido sob a máscara branca e o batom vermelho. Penn vai muito além da aparência bizarra e disseca o personagem pelo que ele tem de mais cativante: seu grande coração. 

Confira o trailer do filme

Veja o clipe da música This Must Be The Place, da banda Talking Heads

E na versão ao vivo do filme Stop Making Sense, de Jonathan Demme

 

ZERO HORA
Imagem Filmes / Divulgação

Sean Penn vive o protagonista de "Aqui É o meu Lugar"
Foto:  Imagem Filmes  /  Divulgação


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