Clarice Lispector é um marco na carreira da atriz Beth Goulart. Ao se apaixonar pela obra da escritora, Beth debruçou-se sobre o material durante dois anos. Leu livros, fragmentos, teses sobre Clarice e concebeu Simplesmente Eu, Clarice Lispector — monólogo que ela dirige, atua e que lhe rendeu um Prêmio Shell de melhor atriz em 2010. Simplesmente Eu estreou em 2009. Passou por Florianópolis em 2010. Depois, Beth precisou se dedicar à TV e ficou um ano sem interpretar Clarice. Há dois meses, retomou o espetáculo. Para quem não viu ou quem quiser ver de novo, na próxima quarta, dia 1, ela apresenta o monólogo no Teatro Pedro Ivo, em Florianópolis. Por telefone e numa conversa de 20 minutos, regada a simpatia, gargalhadas e dicas sobre como ler Clarice, Beth concebeu a seguinte entrevista ao Donna.

Donna — Por que mulheres gostam tanto de Clarice Lispector?

Beth — Clarice foi uma precursora do nosso tempo. Uma mulher que trabalhou, sustentou os dois filhos e que sempre se colocou no que escreve. Ela entra nas obras, como se conversasse diretamente com a leitora. Sem dúvida nenhuma, é uma escrita muito corajosa, e isso é inspirador para todas as mulheres. Também tinha um diálogo muito direto conosco. Era muito feminina. Escreveu coisas como não deixe de ter um tubinho preto no armário e tenha sempre sua profissão. Quando se maquiar, dê mais volume aos olhos do que a boca. Não deixe os dois concorrendo na maquiagem.

Donna — Os temas sobre os quais ela escreve também têm um forte apelo com as mulheres...

Beth — Ela traduziu muito bem o universo feminino. Acho que a subjetividade com que ela se comunica é muito feminina, é muito o jeito de ser das mulheres. A gente se identifica com isso. Eu tenho uma amiga psicanalista que costuma dizer que um livro de Clarice é um livro de trabalho, porque ele te empurra para dentro de si, costuma ser revelador de algo de si mesmo e te obriga a sair do lugar. É como um espelho.

Donna — Que obra de Clarice você diria que é essencial às mulheres?

Beth — Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres é uma das que mais gosto e acho que toda mulher deve ler. É um livro sobre o amor, que prepara as mulheres para viver uma relação amorosa. É quase filosófico, mas é muito bom, porque nos permite entender a dimensão grandiosa do amor e como é importante se entregar para poder viver este sentimento. Começa com uma vírgula e termina com dois pontos. Ou seja, ele é o "entre"... Entre duas pessoas. Agora quem nunca leu Clarice deveria começar por Laços de Família. Por esse livro, o leitor é pego pela mão e conduzido ao universo dela.

Donna — No espetáculo, você interpreta quatro personagens de Clarice: Joana ( Perto do Coração Selvagem), Ana (do conto Amor), Lori (Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres) e a personagem de Perdoando Deus. O que cada uma revela do universo feminino?

Beth — Ana é o nosso lado mãe e dona de casa. Joana é uma adolescente, que carrega o lado selvagem e impulsivo das mulheres. Lori nos mostra como nasce o amor e como nos entregamos a esse sentimento. E a última personagem é uma mulher louca, muito engraçada e que tem um humor inteligente. Ela nos dá um recado: nem todas as mulheres são bem-humoradas. Mas como é bom ser uma mulher bem-humorada.

Donna — Você esteve em Florianópolis com o espetáculo em 2010. Alguma mudança para a apresentação da semana que vem?

Beth Goulart — É o mesmo espetáculo. Mas uma apresentação em teatro nunca é a mesma coisa, porque o público é diferente. O espetáculo se dá em função da interação com o público e do meu estado de espírito. O espetáculo é lúdico e sensorial e vai interagir com as pessoas de acordo com o momento que cada um está vivendo. É como a obra de Clarice, sempre que você abrir um livro dela e ler terá uma nova leitura.

Serviço

Simplesmente Eu, Clarice Lispector

Quando: dia 1º de agosto, às 21h

Onde: teatro Gov. Pedro Ivo (Rod. SC-401, 4.600, Saco Grande, Florianópolis).

Quanto: ingressos a partir de R$ 30, à venda no site Blueticket (www.blueticket.com.br) e bilheteria do teatro.