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Itapema FM  | 10/07/2012 17h17min

"Popcorn" faz um apanhado de 50 anos de longas sobre rock

Publicação faz um mapeamento histórico e uma análise em conjunto do que se produziu em 50 anos

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Talvez nem faça bem levar os filmes de rock assim, a sério, mas um mapeamento histórico e uma análise em conjunto do que se produziu em 50 anos permitem conclusões consistentes sobre o que estes filmes têm a dizer da cultura pop e do contexto em que eles foram feitos. Em meio a frases de efeito e um humor às vezes certeiro, noutras apenas bobo, é o que consegue o crítico musical britânico Garry Mulholland em Popcorn – O Almanaque dos Filmes de Rock.

A edição caprichada da Seoman, com prefácios de Kid Vinil e Rubens Ewald Filho, valoriza ainda mais o livro que chegou recentemente ao Brasil e é desde já uma referência no assunto. Além de um ensaio de apresentação e de uma lista com os 20 títulos preferidos do autor, preenchem suas 448 páginas resenhas de cem longas-metragens significativos sobre o rock – ou com o espírito rock – produzidos nos EUA ou na Grã-Bretanha. "Não são os cem maiores filmes de rock porque alguns deles são medíocres", mas "dizem algo importante sobre a impressão causada pelo gênero musical sobre o planeta", escreve Mulholland.

Tudo está dividido por décadas, o que permite vislumbrar os longas em conjuntos relativamente uniformes. Nos anos 1960, por exemplo, há o otimismo juvenil misturado com a fúria contra o mundo adulto, enquanto nos 1970 há uma clara ressaca sessentista e, nos 1990, uma série de homenagens a astros roqueiros e "um onipresente prazer cínico pelo fato de alguém ter pensado que a música pop era politicamente importante", conforme o autor.

Popcorn fala com má vontade de produções europeias como Sympathy for the Devil (1968), de Godard, mas resgata títulos raros e lendários, como Cocksucker Blues (1972), no qual o diretor Robert Frank registra sem censura os bastidores de sexo e consumo de drogas na turnê de Exile on Main St., dos Rolling Stones. Também exalta filmes cultuados, mas pouco conhecidos, como DiG! (2004), longa de Ondi Timoner premiado em Sundance sobre as bandas Dandy Warhols e Brian Jonestown Massacre.

O problema do livro é aquele que deveria ser um de seus méritos. Se a linguagem descolada e o descompromisso com verdades estabelecidas permitem alcançar um bom tom de abordagem em filmes como Pink Floyd – The Wall (Alan Parker, 1982) e The Rocky Horror Picture Show (Jim Sharman, 1975), acabam arruinando a tentativa de análise de outros, a exemplo de O Último Concerto de Rock (Martin Scorsese, 1978) e Não Estou Lá (Todd Haynes, 2007). Pode ser divertido ler Mulholland desancando ironicamente a pasteurização e a falta de atitude rock'n'roll de títulos como The Doors, o Filme (Oliver Stone, 1991), mas não passam de malcriações infantiloides comentários como "Se eu encontrasse o diretor o estrangularia com prazer" (sobre Control, de Anton Corbijn, 2007).

Os filmes em uma frase, por Garry Mulholland em "Popcorn: o Almanaque dos Filmes de Rock":

> Help! (1965), de Richard Lester: "Seita oriental bizarra não consegue deixar o anel de Ringo em paz".
> Os Monkees Estão Soltos (1968), de Bob Rafelson: "Banda é forçada a consumir drogas e sofre maus-tratos por parte de hippies insensíveis".
> Easy Rider – Sem Destino (1969), de Dennis Hopper: "A road trip que matou Hollywood".
> Let It Be (1970), de Michael Lindsay-Hogg: "A banda mais famosa acontece na história, em toda a sua glória deprimente".
> The Rocky Horror Picture Show (1975), de Jim Sharman: "O filme de rock mais querido de todos os tempos travestido de monstro da ficção científica".
> The Blues Brothers – Os Irmãos Cara de Pau (1980): "Como os caras de pau inventaram os brancos".
> The Loveless (1981), de Kathryn Bigelow: "O filme nouvelle vague de motociclistas que a França nunca produziu".
> Pink Floyd – The Wall (1982), de Alan Parker: "Os muros são ruins. Mas as mulheres são piores".
> Footloose – Ritmo Louco (1984), de Herbert Ross: "Rock 'n' roll, danceteria e Kevin Bacon contra Deus. Ele nunca teve uma chance".
> Sid e Nacy: o Amor Mata (1986), de Alex Cox: "O amor é o pesadelo dos jovens".
> Moonwalker (1988), de Colin Chilvers e Jerry Kramer: " Antes das queda, um retrato do artista como cantor, dançarino, ícone, Deus, carro, alienígena, robô, espaçonave, baby-sitter, vigilante e o quinto Beatle".
> The Doors, o Filme (1991), de Oliver Stone: "Babaca para de se barbear e morre".
> Quanto Mais Idiota Melhor (1992), de Penelope Spheeris: "Não!".
> Ray (2004), de Taylor Hackford: "Homem ganha o Oscar de Melhor Ator de Óculos Escuros".

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