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Itapema FM  | 05/07/2012 13h35min

Paulinho Moska: "O grande barato da vida é aquilo que a gente não sabe explicar"

Em entrevista no Itapema Convida, na noite da última quarta-feira, o músico falou sobre arte, filosofia, tempo, Deus e religião

Marina Lopes  |  marina.lopes@itapemafm.com.br

Paulinho Moska gosta de falar. E fala. Fala muito. Ele mesmo admite: "Como vocês dizem aqui, eu falo mais que o homem da cobra", comenta, rindo. O que de modo algum é ruim quando Moska participa de um evento em que o objetivo é, justamente, ouvir o que o artista tem a dizer. No Itapema Convida, na noite da última quarta-feira, dia 4, em um papo descontraído conduzido por Pedro Leite, coordenador da rádio, o cantor e compositor carioca falou um pouco sobre sua história, suas ideias, e as inspirações por trás de algumas de suas músicas.

"Eu sou metido a besta mesmo, adoro me meter a fazer coisas que eu não sei fazer", disse Moska logo de cara, assim que subiu ao palco montado no Simple On The Beach, em Jurerê Internacional, onde aconteceu o evento; referindo-se à apresentação feita por Pedro Leite, que disse que, além de cantor e compositor, Moska é "metido a ator". "Acho que isso é uma coisa meio punk, sabe?", comentou. "Os punks têm essa filosofia: não sei cantar, mas canto; não sei tocar, mas toco; não sei dançar, mas danço. Acho que isso é uma característica do nosso tempo. A tecnologia permite que nós possamos nos expressar com práticas em que não somos profissionais: eu fotografo sem saber fotografar, faço vídeos... Acho que a gente tem que ser metido mesmo. O leigo oferece um novo olhar para as coisas."

Tudo isto para comentar seu envolvimento com cinema e TV, mídias em com as quais Moska já trabalha há algum tempo. O carioca acabou de atuar em um filme chamado Minutos Atrás - em que interpreta um cavalo -, para o qual também compôs a trilha sonora. "Eu acho que tudo isso enfatiza a ideia que eu tenho de uma canção", continuou. "Uma canção é um diálogo. As coisas que um compositor escreve geralmente são muito íntimas, que a gente só falaria para um amigo. Depois, falando com as pessoas nos meus shows, eu escuto histórias sobre as minhas canções que realmente me fazem acreditar que eu estou conversando com elas. E esse retorno é a parte mais interessante de tudo."

Moska, apesar da fala calma e tranquila, mostra ter uma mente inquieta, filosófica. Um assunto recorrente na conversa foi o tempo: o tempo cronológico, o tempo de cada um, o presente, o passado, o futuro, a nossa relação com o tempo. "O tempo é a grande questão da arte. Esse tempo cronológico, o tempo que nós vivemos, tão regrado, é quase uma matrix", disse. "Nós estamos um pouco presos neste cotidiano urgente; do dinheiro, do sucesso, do trabalho, de conseguir ser o vencedor. Eu gosto de buscar minha inspiração em outras coisas: no vazio, no acaso, nos espaços vagos, na abstração... O grande barato da vida é aquilo que a gente não sabe explicar".

Deus, espiritualidade e religião também aparecem com frequência na fala de Moska; que chegou a pedir desculpas caso ofendesse alguém com suas ideias questionadoras a respeito do assunto. Voltando a falar do tempo, ele opinou: "Acho que o homem só inventou Deus e as religiões por conta de sua relação com o tempo, com o mistério da morte, com essa coisa de a gente se saber finito e não ter saída para isso."

Os convidados presentes também fizeram perguntas a Moska, que pontuou a entrevista com a apresentação de algumas músicas, conforme o assunto avançava. "Eu não escolhi que músicas iria tocar, preferi deixar que a conversa me levasse até elas", explicou. No fim das contas, a conversa levou Moska e seu público a quatro canções: Muito Pouco foi a primeira - assista clicando neste link -; Lágrimas de Diamante a segunda. O compositor falou sobre a ideia da música, que surgiu em uma época conturbada de sua história e da história mundial - o fim do primeiro casamento de Moska coincidiu com os atentados de 11 de setembro e a consequente paranoia da guerra ao terror -, e chegou a se perder no meio da explicação, em que misturou lembranças da infância, viagens e seu interesse por fotografia: "Eu nem sei mais qual era a pergunta", confessou em certo ponto, rindo. A terceira música, A Seta e o Alvo, é, segundo o compositor, sua visão do que Jesus diria à humanidade caso chegasse ao mundo de hoje - embora não seja religioso, Moska diz que considera a mensagem bíblica uma poesia muito bonita. "Eu acho que, quando visse toda essa merda, Jesus iria dizer: 'vocês entenderam tudo errado'. Porque a mensagem dele era de amor, amor à vida, amor ao próximo. E distorceram essa mensagem e construíram um império em cima disso", critica Moska.

O encontro foi encerrado com A Idade do Céu - versão de La Edad Del Cielo, de Jorge Drexler -, cantada em coro pelo público, e que surgiu para ilustrar a admiração de Moska pela música sul-americana. "O Brasil fica um pouco de costas para o resto dos países do continente, talvez porque a gente pense que a nossa própria diversidade nos basta", opinou. "Mas não basta. Nós temos coisas incríveis sendo feitas na América do Sul, e deveríamos aprender a admirar essas coisas." Não tolerar, enfatiza Moska, mas verdadeiramente admirar. "A tolerância é ruim, porque a gente tolera só até o ponto em que acha que não está sendo tolerado pelo outro na mesma medida", disse. E Moska, mesmo cético em relação a tantas coisas, mesmo inquieto, mesmo questionador, é um homem que se admira com o mundo, e usa as pequenas coisas desse mundo como fonte de inspiração. "Eu gosto de escrever canções simples, que falem de temas que vão dialogar com todo mundo", explica. "E eu adoro o outro. Cada pessoa neste planeta é um mundo de sensações; singular, diferente, único. Talvez por isso eu escreva e tenha começado a estudar teatro: para poder ser, além de mim mesmo, um pouco dos outros também."

ITAPEMA FM
Itapema Convida / Marina Lopes

O Itapema Convida aconteceu no Simple On The Beach, em Jurerê Internacional
Foto:  Itapema Convida  /  Marina Lopes


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