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Itapema FM  | 04/06/2012 16h25min

Adriana Calcanhotto se reinventa em palco

O CD/DVD "Micróbio Vivo" apresenta show da turnê em que a gaúcha se redescobriu sem o violão. Confira entrevista

Francisco Dalcol  |  francisco.dalcol@zerohora.com.br

Adriana Calcanhotto acredita que a tradição do samba é seu poder de invenção. Talvez por ter sido contaminada pelo "micróbio do samba", ela tenha conseguido se reinventar. No CD/DVD Micróbio Vivo, que traz um dos shows da turnê do álbum homônimo de 2011, a cantora e compositora gaúcha é flagrada no palco sem o parceiro habitual, o violão.

Por causa de um cisto sinovial em um tendão da mão direita, Adriana teve que parar de tocar. O fato ocorreu durante a mixagem do disco, e Adriana chegou a desistir da turnê, mas, por conta de shows já assumidos em Portugal, acabou se redescobrindo no palco em um giro internacional. O show, que passou por Porto Alegre em setembro passado, foi gravado no mês seguinte, no espaço Tom Jobim (RJ), ganhou a forma de especial de TV, no Multishow, CD (com lançamento no dia 10 de junho) e DVD (dia 25 de junho). Estão ali as 12 músicas do disco Micróbio do Samba, três sambas de outros compositores e três bônus - como Maldito Rádio, composta para a novela Cheias de Charme.

Sem o violão, Adriana se soltou no palco, evidenciando grande entrosamento com o trio Domenico Lancelloti (percussão), Alberto Continentino (baixo) e Davi Moraes (violões, cavaquinho). Restrita à voz, ela dança e se diverte em improvisos com "brinquedinhos eletrônicos", como o mpc (espécie de sintetizador eletrônico), e objetos cotidianos, como uma caixa de fósforos.

O samba é um elemento presente desde o começo carreira de Adriana, mas nunca havia sido apresentado como o todo de um mesmo trabalho. No repertório, além de composições próprias, Adriana homenageia Lupicínio Rodrigues, com Esses Moços, além de nomes como Paulinho da Viola (Argumento ) e Péricles Cavalcanti (Dos Prazeres, Das Canções). No DVD, é possível conferir ainda o documentário dirigido por Clara Cavour, que acompanhou os bastidores de boa parte da turnê internacional.

Micróbio Vivo, de Adriana Calcanhotto
Multishow ao Vivo, CD (a partir do dia 10) e DVD (a partir do dia 25), 19 faixas, preço a consultar

 

ENTREVISTA
Adriana Calcanhotto - cantora e compositora

Zero Hora - Sem o violão, você parece mais solta no palco, improvisando e se divertindo com alguns "brinquedinhos" eletrônicos e sons de objetos. Qual é sua relação com esses recursos?
Adriana Calcanhotto -
Sou curiosa por esses brinquedinhos. Gosto muito desses caminhos, usando coisas de brinquedo, maquininhas, objetos... O fato de eu não estar tocando violão me ajudou a colocar esses brinquedos na roda. E ficar solta, sem o violão, me deu a chance de tocar outras coisas que não são convencionais.

ZH - Como está a mão agora?
Adriana -
Operei a mão e ainda não consigo tocar pelo esforço que o violão exige. Mas estou tocando guitarra. No show, já faço o bis tocando guitarra. Mas tenho tocado bem pouco ainda. E como o show está resolvido de uma maneira que me dá prazer, ainda me sinto livre para fazer outras coisas que não tocar violão.

ZH - Nesse reencontro com o instrumento, você sentiu algum distanciamento?
Adriana -
Sim, eu achei que o instrumento teria me abandonado. É isso o que os professores e músicos falam que acontece quando ficamos distantes por um tempo do instrumento. Mas estou tocando pouco e sem pressa. E também tenho gostado da guitarra. A Maldito Rádio, eu já gravei tocando. Foi a primeira depois da lesão e da cirurgia.

ZH - Quando Davi Moraes, que havia gravado o CD, assumiu o violão do show, você comentou que ele valia por dois. Ele e os outros músicos resolveram de forma muito bem acabada o show, não é?
Adriana
- Ele faz o meu violão, melhor do que eu, e o dele, de forma muito criativa. É uma parceria que rendeu. Esse trio tem uma coisa de sintonia, cumplicidade, fluidez... Os caras saem tocando. Eles têm muita admiração um pelo outro. O pessoal comenta como fica claro que a gente ouviu a mesma coisa e como bateu da mesma maneira. Tem algo comum entre a gente e que nos prende.

ZH - O documentário que acompanha o DVD, com direção de Clara Cavour, registra desde os primeiros ensaios até o Japão, onde ela deixa a estrada para voltar ao Brasil e montar o filme. Clara parece fazer parte da turnê, como uma integrante.
Adriana -
Sim, ela está atrás da câmera durante quase todo o tempo e, quando por acaso não está, ajuda a carregar tralhas. A excursão foi assim, ralada, e o DVD mostra a gente em "guerrilha", todo mundo carregando coisas... Revela nossa união. Quando a Clara volta do Japão, a gente ainda sugue na estrada.

ZH - O quarteto seguirá em turnê?
Adriana -
Estamos bastante envolvidos com o projeto Micróbio. Então, vamos seguir, sim, fazendo shows. Em 6 de julho, também vou ao Montreux Jazz Festival. Recebemos um convite para apresentar um show de três guitarras: eu, Davi Moraes e Pedro Sá. O festival nos convidou, e estamos tão animados com esse negócio... O repertório está sendo escolhido ainda, dentro da maior liberdade. Está sendo bem divertido.

ZH - O CD/DVD Micróbio Vivo celebra o samba e, ao mesmo tempo, demarcam um espaço em sua discografia exclusivamente dedicado ao gênero. Passado esse ano de envolvimento com o projeto, como você vê esta fase?
Adriana -
Eu nunca tinha feito algo tão dentro de um único gênero. Ao mesmo tempo em que é um disco não planejado, é também surpreendente. Eu passei a minha vida dizendo que não me via fazendo um disco de um gênero só, que não fosse ritmicamente híbrido... Mas esse disco é de constatações. Eu constatei que tinha sambas compostos e que eu não os estava fazendo conscientemente. Aí, o depoimento do Lupicínio Rodrigues sobre o "micróbio do samba" me deu uma chave, eu entendi que aquilo (as composições) era uma safra só, um conjunto de coisas. Tanto que depois eu não compus mais sambas. Então, o Micróbio... é uma explicitação de que o samba sempre esteve claro no meu trabalho como influência, mas que eu nunca havia me esparramado com ele em um disco inteiro.

ZH - Em sua opinião, onde repousa a tradição do samba?
Adriana -
A tradição do samba é a invenção. O samba se reinventa, se alarga, se modifica... É uma coisa muito viva. O mais interessante pra mim é o samba como invenção. E o Micróbio é a influência disso na minha música.

ZERO HORA
Caroline Bittencourt / divulgação

Por causa de um cisto sinovial em um tendão da mão direita, Adriana teve que parar de tocar
Foto:  Caroline Bittencourt  /  divulgação


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