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Itapema FM  | 23/05/2012 15h28min

"Hoje em dia eu vejo o CD muito mais como um cartão de visitas", fala Zeca Baleiro em entrevista

O cantor esteve em Florianópolis no começo da semana, quando fez o lançamento de seu novo disco e se apresentou com a turnê Calma Aí, Coração

Marina Lopes  |  marina.lopes@itapemafm.com.br

Zeca Baleiro parece cansado. São seis da tarde da segunda-feira, dia 21, e eu o encontro no hotel onde ficou hospedado durante sua passagem por Florianópolis. "Acabei de sair do quarto", ele diz, quando pergunto se ficou descansando ou se teve tempo de passear pela cidade um dia depois do show que apresentou no Centro de Cultura e Eventos da UFSC. No domingo, Baleiro havia chegado de uma passagem por Curitiba, onde, além de apresentar seu show, deu canja em mais outros dois. A apresentação em Florianópolis de sua turnê Calma Aí, Coração aconteceu na noite do mesmo dia, domingo; e na segunda, pouco mais de uma hora depois de nossa conversa, o cantor ainda tinha uma sessão de autógrafos, na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi, onde faria o lançamento em Floripa de seu novo trabalho, O Disco do Ano. Baleiro se desculpou pelo telefone que não parava de tocar, e por estar "um pouco distraído." Mas falou, tranquilo e de bom humor, sobre a turnê e o novo CD.


Itapema: E aí, como foi o show ontem?

Zeca Baleiro: Foi ótimo, apesar do cansaço. A plateia de Floripa é ótima, é muito receptiva. Eu adoro Floripa, já pensei até em morar aqui, mas depois desisti.


Itapema: Por quê?

Zeca Baleiro: Minha vida em São Paulo já está muito consolidada. Talvez um dia, quando for muito rico, eu compre uma casa de praia em Floripa, e fique com uma casa em cada lugar. (risos)


Itapema: Eu vi que Jurerê aparece em Ela Não Se Parece Com Ninguém...

Zeca Baleiro: Sim, aparece. Engraçado que eu cito lugares de várias cidades nessa música, e as mulheres das cidades que ficaram de fora reclamam. Quando eu comecei a turnê, em Brasília, já vieram reclamar comigo que a cidade não tinha sido citada. Mas eu fui escolhendo os lugares na hora da composição, pela sonoridade, pela rima... Já falei que vou fazer uma Ela Não Se Parece Com Ninguém 2, para poder citar todo mundo. (risos)


Itapema: Falando sobre O Disco do Ano: você contou com parcerias em várias músicas e teve 15 produtores trabalhando no álbum, mais de um por música. Como foi essa experiência? Como você fez para organizar todas as ideias, as opiniões de todo mundo?

Zeca Baleiro: Foi uma experiência totalmente nova pra mim. Eu me senti mais como um "gerente de produção" do álbum, organizando todas as ideias, todas as coisas que chegavam até mim. Mas às vezes essa confusão é boa. Foi legal fazer isso, esse mosaico de estilos, essa colcha de retalhos. Eu gosto de experimentar. Não posso sair fazendo um disco igual ao outro. E gostei bastante do resultado final.


Itapema: Mas essa mistura de estilos está sempre presente nos seus álbuns, não? Você sempre transita por diversos estilos musicais... Tem algum favorito?

Zeca Baleiro: Não, acho que um favorito não. Eu gosto de brincar com essa coisa rítmica; acho que isso é um grande trunfo dos músicos brasileiros. Eu sou do Maranhão, onde se ouve muita música regional, muito reggae; e também sempre ouvi muito rock, muito folk, de tudo um pouco. Tudo isso me influenciou. Tem uma coisa que eu gostaria de fazer, um projeto meu, que é fazer discos temáticos: um disco só de samba, um disco só de brega... Mas brega mesmo, de verdade; brega de puteiro, sabe? Eu tenho vinte anos de carreira - claro que algumas coisas se perdem no caminho, mas eu tenho muita coisa escrita, muita coisa gravada. Precisava organizar tudo isso. Agora eu comecei a tocar um projeto antigo, que é o de fazer um disco infantil.


Itapema: Além de ter vários produtores, o álbum também contou com a participação do público, através de um site e do Twitter. Como foi isso?

Zeca Baleiro: Foi muito bacana, nós tivemos uma resposta muito positiva. Foi mais para aquecer a divulgação do álbum novo, mas foi muito legal poder interagir com o público, ver ele participando do processo. E foi o público que escolheu a capa do CD, entre três opções que nós colocamos no site.


Itapema: Você tinha alguma favorita?

Zeca Baleiro: Sim, a terceira colocada. (risos) Mas eu fui democrático: a capa do disco é mesmo a que o público escolheu na votação.


Itapema: A Internet também aparece muito nas letras do seu novo disco. Como você vê isso; como encara esse novo cenário do mundo da música, em que as pessoas geralmente ouvem as músicas na Internet antes mesmo que os discos sejam lançados?

Zeca Baleiro: Bom, é uma coisa do nosso tempo, né? E é irreversível, já mudou o modo de as pessoas se relacionarem com a música e até mesmo umas com as outras. O CD em si não tem mais aquela importância que tinha a um tempo atrás. Hoje em dia eu vejo o CD muito mais como um cartão de visitas: é uma maneira de dizer "ei, eu estou vivo, estou ativo, me convidem para fazer shows!" (risos) Mas quem compra discos hoje em dia é só quem coleciona, quem curte o trabalho do artista a ponto de querer ter o CD em casa.


Itapema: Um dos momentos mais surpreendentes do seu show foi quando você cantou Price Tag, da Jessie J. Quer dizer que você ouve Jessie J?

Zeca Baleiro: (risos) Eu comecei a ouvir por causa dos meus filhos. É bom, você vai aprendendo a passar por cima de certos preconceitos, daquela coisa de "nunca ouvi, mas não gosto." Você descobre que a Jessie J tem boas músicas, que a Katy Perry tem boas músicas... E a letra de Price Tag é muito boa, tem tudo a ver com as coisas que eu canto.


Itapema: No meio do show, você e a sua banda cantam e dançam um funk. Como surgiu a ideia da coreografia?

Zeca Baleiro: (risos) A música é minha, foi tudo ideia minha. Eu escrevi essa música quando estava fazendo O Disco do Ano e pensei em colocar no álbum, mas achei que ia destoar do resto das músicas. Então resolvi colocar no show, é bom ter alguma surpresa no show. Quando eu apareci com a ideia da coreografia, a banda ficou meio reticente... Mas eu acabei convencendo eles, hoje em dia eles adoram. (risos) É claro que é uma paródia, existe uma crítica ali, mas também é divertido, como cena mesmo.


Itapema: E como é ser um artista ainda tão preocupado com as letras das músicas em um tempo em que o maior sucesso é o Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha?

Zeca Baleiro: (risos) Olha, eu não tenho nada contra ninguém. Acho que, se você respeita a liberdade de expressão, precisa respeitar isso também. O que me incomoda é a predominância, o massacre, esse monoculturalismo que nós vivemos - na época em que o sertanejo está na moda, só se ouve sertanejo, nas rádios, nas festas, nas novelas... Depois muda, aí é só funk, depois é só rock... Seria bom se houvesse opções, e se o público tivesse mais informação, mais acesso a músicas diferentes, para poder escolher. Confesso que tem horas que desencanta um pouco - eu penso "pra que eu vou escrever uma letra dessas? Por quê?" Mas depois você faz um show para 40 mil pessoas, igual eu acabei de fazer em Cáceres, no Mato Grosso, que é um reduto da música sertaneja, e aí você vê toda aquela gente cantando a música que você escreveu, sabe? Vale a pena. A canção não sobrevive sem poesia, né? A letra tem que dar um recado.


Itapema: Na música Mamãe no Face, você brinca falando sobre a mídia, sobre possíveis reações dos veículos de comunicação ao seu novo disco. Como você lida com isso? Você se importa com o que a mídia fala sobre seu trabalho?

Zeca Baleiro: Teve uma fase em que eu me importava, mas não mais. Não que eu me considere acima do bem e do mal, simplesmente não me interessa, sabe? E eu não tenho tempo para ler tudo, também. Acho que a crítica em geral é muito gratuita - tanto as positivas quanto as negativas. Sinto falta de uma crítica mais profissional, mais embasada. A mídia tem poder de influenciar a opinião das pessoas - se ela disser que o fulano é o artista do momento, então ele se torna o artista do momento. Esse poder tem que ser tratado com responsabilidade.


Itapema: Quais são seus planos para um futuro mais distante? Como você se vê daqui a alguns anos?

Zeca Baleiro: Sabe qual é o meu sonho para a velhice? Criar um time de futebol, virar cartola. (risos) Mas sério, eu tenho planos de criar uma escola de futebol no Maranhão, talvez com meus irmãos, que também se interessam por futebol. Sei lá, para o futuro eu pretendo diminuir um pouco o ritmo, desacelerar, sabe? Mas não parar. Parar a gente nunca pára.


Veja fotos do show de Zeca Baleiro em Florianópolis na galeria.

ITAPEMA FM
Zeca Baleiro em Florianópolis / André Miranda Fotografia

Zeca Baleiro, durante sua apresentação em Florianópolis
Foto:  Zeca Baleiro em Florianópolis  /  André Miranda Fotografia


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