As sapatilhas de Ana Botafogo e Cecilia Kerche traçaram uma trajetória pelos palcos de Joinville enquanto o Festival de Dança crescia e tornava-se o maior do mundo, ao mesmo tempo que os nomes das bailarinas viravam referência na dança. Por isso, na noite que abre a 30ª edição do evento, as duas voltam à se posicionar sob a luz do palco para estrelar os espetáculos de abertura do festival, dividindo o palco com alunos e ex-alunos da Escola do Teatro Bolshoi do Brasil. A abertura ocorre em 18 de julho, com a noite dividida em dois momentos para as Primeiras Bailarinas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Ana Botafogo é a primeira a se apresentar, mas seus passos serão diferentes daqueles que o público está acostumado a assistir da bailarina que já dançou "Giselle", "Esmeralda" e "La Bayadére" em outras edições. Ela trará um número de dança contemporânea em que homenageia Isadora Duncan, a precursora da dança moderna. Ana não dança no festival desde 1999, quando fez a primeira apresentação de um balé inteiro com "Giselle", abrindo a 17ª edição.

O segundo momento da noite reunirá a "Imperatriz da Dança" Cecilia Kerche e os bailarinos da Escola Bolshoi de Joinville, que, entre alunos e ex-alunos, formarão um corpo de baile de 85 bailarinos. Formados que já estão dançando em companhias de outros países também serão convidados e um, em especial, foi escolhido por Cecilia: o joinvilense Denis Vieira, que será partner da Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Eles apresentarão o 3º ato de "Raymonda", obra de Marius Petipa, com Cecilia, no papel-título, e Denis, como o Cavaleiro Jean de Brienne, noivo de Raymonda.

— Ana já tinha um nome quando veio a primeira vez, mas foi crescendo a partir de suas participações no festival. Cecília - e isso ela mesma afirma - teve toda a formação e nome por causa do festival. Talvez ela seja a profissional que mais dançou no Festival de Dança de Joinville — avalia o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz.

A participação da Escola do Teatro Bolshoi na abertura foi definida como uma outra homenagem à história do evento: a da vinda da escola para a cidade depois que a companhia russa esteve no Festival de Dança, em 1998. A negociação para trazer a única filial da tradicional companhia russa para Joinville ocorreu depois da participação do Bolshoi de Moscou na abertura, há 14 anos.

Boa parte da produção do espetáculo serão produzidos pela escola: os figurinos sairão do ateliê da Escola Bolshoi, confeccionados pela estilista Tatiana Artamonova, enquanto a construção do cenário é capitaneada pelo cenógrafo uruguaio Carlos Kur.

O bailarino de Joinville

Foi o movimento do Bolshoi para Joinville que possibilitou o início da carreira de Denis Vieira. Ele entrou na escola na 1ª série, estudou na escola durante 11 anos e se formou com a turma de 2008. Depois, dançou um ano e meio na Cia. Jovem do Bolshoi. Em março de 2010, passou em uma audição para o integrar o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Aos 20 anos, ele é solista da companhia e na última temporada, atuou como partner de Cecilia na peça "O Quebra-Nozes". Foi nos ensaios da peça que ele e Cecilia se conheceram.

— Era o retorno dela depois de muito tempo sem se apresentar. Foi uma emoção muito grande e, depois da temporada, recebi o convite dela e do Bolshoi para dançar em Joinville — conta Denis.

Para ele, é a oportunidade de retornar à cidade natal como convidado, já que participou do festival apenas como estudante.

— Eu nunca voltei para dançar depois que saí do Bolshoi, então poderei matar as saudades dos colegas e de dançar novamente com ele — diz.

Denis fará os ensaios no Rio de Janeiro, ao lado de Cecilia, enquanto os estudantes do Bolshoi se preparam com os professores da escola. Na última semana de ensaios, a bailarina vem a Joinville para ajudar a preparar os estudantes, da mesma forma que ocorreu em 2010, quando colaborou nos ensaios de "Giselle".