Notícias

Itapema FM  | 09/05/2012 11h06min

Morte de Marlene Dietrich, a grande diva alemã, completa 20 anos em maio

Acervo de objetos pessoais e fotos da atriz e cantora é um dos destaques da exposição permanente da Cinemateca Alemã em Berlim

Bruna Amaral*  |  bruna.amaral@zerohora.com.br

Todas as loiras fatais devem um pouco do mito a ela. A americana Marilyn Monroe, por exemplo, tinha apenas quatro anos quando Marlene Dietrich já arrancava suspiros no mundo inteiro ao balançar suas longas pernas cantando com sua voz nebulosa que "foi feita para amar da cabeça aos pés" em O Anjo Azul, de Josef von Sternberg (1930).

A diva do cinema alemão teve uma longa carreira nas telas e nos palcos, que só abandou aos 74 anos. Uma queda que resultou em fratura durante uma apresentação de seu "one woman show" (show de uma mulher só) na Austrália a fez tomar a decisão de não aparecer mais publicamente. A insuportável ideia de ver o mito definhar por conta do passar dos anos levou a cantora e atriz a se exilar em seu apartamento em Paris. De lá, Marlene pouco saiu até sua morte o dia 6 de maio há vinte anos.

Marlene era vaidosa ao ponto de jamais deixar que uma foto fosse publicada sem sua autorização. Considerada uma devoradora de homens, era chamada por Ernest Hemingway de Kraut (de Sauerkraut, chucrute em português). O escritor a descreveu como capaz de derreter um homem apenas com um levantar de sobrancelhas.

 
Exposição na Cinemateca reúne fotos, roupas e outros objetos da atriz
Foto: Deutsche Kinemathek

O Diabo Feito Mulher (1952) se negava a ser fotografada de lado por achar seu nariz grande demais e costumava comprar os originais de todos os retratos feitos dela. Por isso, cerca de 16,5 mil fotos junto com quase todos objetos pessoais da atriz podem ser vistos no acervo da cinemateca alemã em Berlim. Com uma coleção tão vasta, o capítulo "Marlene Dietrich" na história do cinema germânico é um dos mais ricos do museu, que abrange de Fritz Lang a Faith Akin.

A atriz foi indicada ao Oscar em 1930 por sua atuação em Marrocos. O filme de Sternberg produzido nos EUA foi o primeiro dos seis longas da parceria entre a atriz e o diretor austríaco em Hollywood. Eles trabalharam juntos até 1935 em títulos como O Expresso de Shangai (1932) e A Vênus Loira (1932). A iminente ascensão do nazismo na terra terra natal de Marlene fez com que a atriz se declarasse pública e veementemente contra o regime e, inclusive, chamasse Hitler de "idiota".

Em 1939, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, ela adotou a cidadania americana e começou um trabalho de apoio às tropas aliadas, visitando doentes nos hospitais do front e cantando para os soldados na Europa. No entanto, a sensualidade latente da loira, que casou-se apenas uma vez, mas teve inúmeros amantes, incomodava alguns pudicos americanos. Marlene recebeu até um pedido oficial de um general para que diminuísse as "alusões sexuais" em seu show para os soldados. Em um de seus números, a cantora dizia poder ler a mente dos rapazes. Quando eles eram chamados ao palco ela dizia: "Oh! Pense em outra coisa, eu não posso falar isso em público".

Para suas aparições entre os aliados, Marlene, que ganhou dos americanos o título de capitã das tropas pacíficas, usava um uniforme militar customizado. O traje valorizava suas curvas e tinha bastante ênfase nas calças, sua peça de roupa preferida. Com o fim da guerra, as viagens de Marlene, Rudolf Sieber, seu marido, e Maria, sua única filha, para passar férias no litoral da França tornaram-se mais frequentes. Para a casa de veraneio da família, a atriz levava muitos de seus affairs, dos quais Sieber sempre soube. Nesta época, a carreira de cantora começou a tomar mais espaço na vida de Marlene, ela já não obtinha o mesmo sucesso de antes no cinema. A cantora fez turnês pelo mundo inteiro e só retornou à Alemanha em 1960.

A primeira aparição em solo alemão não foi das mais amigáveis, muitos a consideraram uma traidora da pátria por ter se aliado aos Estados Unidos. Sobre o tratamento rude de seus conterrâneos, Marlene era categórica:

_ Sempre soube diferenciar os alemães dos nazistas_ respondia aos ataques.

Apesar de ter declarado seu amor por Berlim em diversas canções e sempre retornar à capital da Alemanha quando podia, ao encerrar suas aparições públicas em 1975, ela escolheu Paris como endereço fixo. Em 1978 apareceu em um último filme, o longa Apenas um Gigolô (1978), ao lado de David Bowie. Somente após a queda do muro em 1989 ela disse "ter feito as pazes" com seu país, onde foi enterrada e do qual só recebeu um pedido oficial de desculpas em 2002, quando em uma cerimônia solene na presença de seu neto, Marlene recebeu o título de cidadã benemérita de Berlim.

*A jornalista viajou a Berlim pelo Internationale Journalisten-Programm a convite do ministério das relações exteriores alemão

Os 10 filmes essenciais da carreira da atriz, por Roger Lerina

* O Anjo Azul (1930), de Josef von Sternberg. Professor (o grande ator Emil Jannings) fica obcecado pela cantora de cabaré Lola Lola. Início da parceria com o diretor alemão Von Sternberg e filme que lançou internacionalmente o mito Marlene Dietrich.

* Marrocos (1930), de Josef von Sternberg. Uma cantora parisiense e um legionário francês apaixonam-se no Norte da África. Primeiro dos vários títulos estrelados por Marlene em lugares "exóticos", o longa rendeu à atriz sua única indicação ao Oscar.

* Desonrada (1931), de Josef von Sternberg. Durante a I Guerra, uma prostituta vienense se oferece como espiã do serviço secreto de seu país. A sedutora agente X27 é inspirada na célebre espiã de origem holandesa Mata Hari.

* O Expresso de Shangai (1932), de Josef von Sternberg. Um célebre prostituta escandaliza os passageiros de um trem de luxo que cruza a China às vésperas de uma guerra civil. A cena em que a elegante Shangai Lilly acomoda-se no escuro espaço entre dois vagões para fumar, embalada pelo sacolejar dos carros, é uma das imagens mais icônicas de Marlene Dietrich.

* A Imperatriz Galante (1934), de Josef von Sternberg. A história de Catarina, a Grande, princesa alemã que governo a Rússia com mão de ferro. Trata-se de uma obra-prima barroca, de exuberante cenografia e incríveis movimentos de câmera.

* O Anjo (1937), de Ernst Lubitsch. Um casal tira férias separadamente _ e a mulher acaba apaixonando-se por outro homem. Marlene brilha em figurinos exuberantes nessa sofisticada comédia romântica.

* Pavor nos Bastidores (1950), Alfred Hitchcock. Jane Wyman interpreta uma estudante de teatro que tenta inocentar um amigo (Richard Todd), acusado injustamente de assassinato, tornando-se assistente da estrela dos palcos Charlotte Inwood (Marlene Dietrich).

* Testemunha de Acusação (1957), de Billy Wilder. Clássico drama de tribunal baseado em Agatha Christie, em que um homem (Tyrone Power) acusado de assassinato é defendido por um experiente advogado (Charles Laughton). A impressionante atuação de Marlene em um duplo papel mereceu uma indicação ao Globo de Ouro.

* A Marca da Maldade (1958), de Orson Welles. Policial mexicano (Charlton Heston) casa com americana (Janet Leigh) e vai passar a lua de mel em uma cidade da fronteira, onde entra em confronto com o chefe da polícia do lado americano (Welles). Marlene Dietrich encarna uma misteriosa cigana nesse thriller antológico.

* Marlene (1983), de Maximilian Schell. Reclusa em seu apartamento parisiense, a octogenária diva aceita relutantemente falar para o documentário sobre sua vida dirigido pelo ator alemão _ com a condição de que não fosse filmada. "Nunca levei minha carreira a sério", declara a mal-humorada Marlene Dietrich.

ZERO HORA
Deutsche Kinemathek / Divulgação

Marlene Dietrich morreu aos 90 anos em Paris
Foto:  Deutsche Kinemathek  /  Divulgação


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.