A dona de casa Ana Maria Fioravanzo, 57 anos, de Caxias do Sul (RS), está em Florianópolis para o show de Paul McCartney, que vai assistir ao lado das filhas, a bancária Andréia, 27 anos, e a arquiteta Alessandra, 29. Ela não se contém de alegria, e até chora, ao falar sobre como é especial compartilhar com as meninas a grande paixão da sua vida: Paul. Mas, para as duas, acima do gosto está o sentimento de gratidão ao beatle.

Deitada na cama de um hospital, internada com um aneurisma cerebral, Ana pedia às filhas que a tirassem de lá, pois precisava conhecer seu ídolo. Com o coração na mão, Andréia dizia que não podia, sem revelar à mãe a gravidade da situação. Ana, então, contentava-se em dançar quando tocava Beatles no rádio. Mesmo sabendo que ela não estava autorizada a levantar, pois outro aneurisma poderia aparecer, Andréia não tinha coragem de impedi-la. Sabia que isso dava a ela forças para lutar pela vida.

Apoiada na paixão por Paul, Ana reagiu bem à cirurgia. Mas ficou meses sem andar sem ajuda, durante os quais ouvia Beatles incessantemente. Logo recuperou-se por completo. Com esse "milagre", como nomeia Andréia, não tinha como ela e a irmã não serem agradecidas a Paul. Por isso, na primeira oportunidade que tiveram, em 2010, foram ver o músico em Porto Alegre, na área mais próxima do palco. Os olhos de Ana brilhavam no show, que ela define como uma experiência de "anestesia geral".

— Vi cada careta e cada respiro da pessoa que idolatro desde criança. Foi muito intenso — conta, emocionada.

Em 2011, Ana foi ao Rio de Janeiro com o marido para assistir a uma nova apresentação de Paul. Agora, vai de novo, o que a faz ter de explicar às pessoas que não espera ver nada de novo, só mais do mesmo "artista incrível".

Diferente do militar aposentado José Ibis Rodrigues, 67 anos, para quem tudo que acontecer no show desta noite vai ser novidade. Fã desde os anos 60, vai ao estádio com o filho, o jornalista Fabrício Rodrigues, 32 anos.

— Queria que ele tivesse me levado em 1993 a Curitiba. Mas ele não se empolgou porque estava numa época de muita chuva. Desta vez, eu vou levá-lo — comemora Fabrício.

Apesar da atual inversão de papéis, foi o pai que ensinou o filho a gostar de Beatles. Quando era adolescente, Fabrício gostava de rock pesado, mas não dava bola para o quarteto inglês.

— Como você gosta de bandas que copiam os Beatles e não gosta do original? — argumentava.

Um dia, Fabrício resolveu seguir o conselho e escutou um disco da banda. Passou a ouvir tudo do grupo "alucinadamente". E elegeu Paul como seu beatle favorito.

Como Ana, Andréia e Alessandra, José e Fabrício viraram cúmplices na idolatria por Paul. Agora, vão dividir a experiência de ver Paul ao vivo.