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Itapema FM  | 21/04/2012 14h12min

Paul em Floripa é como Tutancâmon em Laguna

De quarta em diante, poderemos dizer que nosso Estado viu um dos maiores shows do mundo

Fábio Bianchini  |  Jornalista e músico

Em 1993, fui com minha mãe ver o Paul McCartney em Curitiba. No caminho, ela comentou comigo: "quando eu escutava os Beatles, lá em Laguna, quando eu imaginava que ia assistir um deles? Nunca".

Reparem, minha mãe não é deslumbrada nem nada assim, ela foi à Universidade, trabalha, gosta de música e teatro, sempre incentivou os filhos a ler, já tinha viajado para fora do Brasil e tal. Mas o nome "Paul McCartney" levou-a de volta ao tempo de adolescente, quando tudo parecia mais distante. Sabia quem eram os Beatles, adorava as músicas, mas, de tão inatingíveis, poderia ser como se estivessem falando de Napoleão, Moisés ou Tutancâmon.

E quarta-feira ele vem aí. Em menos de uma semana, na nossa cidade. Tudo assim, tão pertinho que dá quase para perdermos a noção da majestade da coisa toda: com Dali, Kubrick, Fellini, Picasso e Lennon mortos, quantos podem competir com Paul ao posto de maior artista do século XX andando por aí? OK, tem o Bob Dylan, mas é basicamente isso.

Então, o precedente mais próximo que temos para um show de McCartney em Florianópolis foram as três vezes em que Pelé jogou em Santa Catarina, a última delas há quase 40 anos, quando, em agosto de 1972, veio à Capital. Coincidentemente, também no campo do Avaí: na época, antes da construção do Orlando Scarpelli, o Estádio Adolfo Konder pertencia à Federação Catarinense de Futebol, mas a partida foi contra o alviceleste, que, assim, fica como dono da casa na ocasião. Mas a comparação é inexata.

Por mais que o Rei seja no mínimo tão senhor de sua área de atuação quanto McCartney, as inúmeras excursões do Santos faziam com que a possibilidade de vê-lo não parecesse tão irreal, traziam-no para perto.

E ficamos assim: nunca, nunca houve em Santa Catarina algo como o show de Paul McCartney na semana que vem. Não adianta tentar diminuir a ocasião com o argumento vira-latas de que "ele só vem para cá porque está em decadência". McCartney enche estádios por onde passa, inclusive Europa e Estados Unidos, acostumados ao primeiro time do showbiz planetário.

Em fevereiro, foi o convidado de honra e encerrou a entrega do Grammy, com Bruce Springsteen, Dave Grohl (dos Foo Fighters) e Joe Walsh (dos Eagles) acotovelando-se para dividir o palco com ele. Poucos dias antes, esteve no MusiCares, entidade filantrópica do Grammy, como homenageado. Olha quem estava lá para tocar músicas dele: Katy Perry, Duane Eddy, Diane Krall, Neil Young, Foo Fighters, Sergio Mendes, Tony Bennett, Alicia Keys, Foo Fighters, Alison Krauss, James Taylor e Coldplay.

Artisticamente? Bom, até a recente e inconsequente coleção de regravações de standards, os discos pop de Paul vinham desde 1997 numa sequência de belos álbuns como ele nunca tinha enfileirado antes em sua carreira solo antes. De sua geração, só quem vinha assim, mas com mais espaço entre um disco e outro, era, olha ele de novo, Bob Dylan. Quer dizer, nesse sentido sua produção está no auge.

Da noite de quarta em diante, poderemos dizer que nosso Estado viu um dos maiores shows do mundo. O nível de comparação muda e ficamos mais exigentes para considerarmos que "uma celebridade visitou a Ilha". E então, olha que beleza, elevamos nosso grau de exigência para muitas e muitas coisas, até para nós mesmos e como tratamos essa maravilha de lugar que é Santa Catarina. Se for assim, chega a ser bonito ficarmos meio nojentos. Se minha mãe contasse isso em Laguna nos anos 60, ninguém acreditaria. Algo como "olha, Moisés veio trazer os mandamentos pessoalmente".

DIÁRIO CATARINENSE
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