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 | 08/02/2012 08h11min

Ganha edição no Brasil A Visita Cruel do Tempo, romance da ganhadora do Pulitzer Jennifer Egan

Livro trata sobre crescer e envelhecer – e, fatalmente, frustrar-se.

Larissa Roso  |  larissa.roso@zerohora.com.br

Jennifer Egan faz de A Visita Cruel do Tempo um daqueles livros desconfortavelmente envolventes. Um livro sobre crescer e envelhecer – e, fatalmente, frustrar-se.

Com uma estrutura engenhosa, repleta de vaivéns no tempo, o romance, em 13 capítulos que bem poderiam ser histórias independentes, acompanha os percalços de personagens à primeira impressão desconexos que estão, todos, entrelaçados de alguma forma, em diferentes estágios da vida.

O título justifica o desfecho da maioria das tramas: no intervalo de algumas décadas, quase todas apresentam os protagonistas lamentando decisões passadas ou sofrendo as consequências de aventuras irresponsáveis. A Visita Cruel do Tempo é um tratado sobre existências tristes, equivocadas, decadentes, ressentidas.

A ordem dos eventos não é cronológica, e por vezes leva tempo para identificar o período e o narrador. A autora compõe uma representação da sociedade americana entre o final dos anos 70, em San Francisco, e as duas primeiras décadas do século 21 – adivinhando os traços futuristas do cenário que encerra a obra, a NovaYork de 2020.

Bennie Salazar, que polvilha ouro no café tentando recuperar a potência sexual, e Sasha, sua assistente cleptomaníaca – o leitor compartilha com ela a tensão e o êxtase que transpiram a cada objeto insignificante ou de valor que subtrai de bolsas e lojas –, são personagens centrais. Deles partem todas as outras conexões – Sasha é assistente de Bennie,que é casado com Stephanie, que é irmã de Jules, que foi preso  por tentativa de estupro contra Kitty, que é contratada por Dolly para um trabalho pouco lisonjeiro quando sua carreira outrora ascendente de bonitona em Hollywood tropeça prematuramente.

E assim vai. Personagens ressurgem, num emaranhado de histórias que sempre vincula uns aos outros. Coadjuvantes ou meros figurantes de capítulos iniciais são elevados a protagonistas mais adiante, oferecendo novas perspectivas e informações sobre crianças, jovens ou adultos aos quais o leitor já havia sido apresentado.

Nascida em Chicago e radicada no Brooklyn, em Nova York, Jennifer contribui com algumas das mais importantes revistas americanas, entre elas a New Yorker e a GQ. A Visita Cruel do Tempo lhe rendeu, em 2011, o Prêmio Pulitzer, a mais alta distinção da imprensa dos Estados Unidos, na categoria ficção. Além do ziguezague entre passado, presente e futuro, o romance é envolvente também pelas vozes narrativas. Uma das histórias se sustenta, eficaz, na segunda pessoa – "você ouve a fumaça crepitar em seu peito", "você entra no apartamento pela janela"," evidente para todos menos você".
Outra, o diário de uma pré-adolescente, surge inteiramente na forma de esquemas e gráficos de uma apresentação de PowerPoint, estendendo-se por 75 páginas. Não é enfadonho, pelo contrário – o capítulo guarda um dos desenlaces mais tocantes do livro.

A autora vasculha uma das angústias mais inquietantes de qualquer existência: como conviver com os erros que o tempo não encobre e os  certos que tardam, talvez para sempre, a se materializar? É um retrato melancólico de uma época, e talvez excessivamente melancólico, mas plausível. Nas palavras de uma das figuras
mais degradadas do enredo:"É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancam fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?".

Pieter M. van Hattem / Divulgação

Jennifer Egan, escritora norte-americana
Foto:  Pieter M. van Hattem  /  Divulgação


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