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 | 03/08/2011 09h12min

Pais de alunos da Casa da Cultura de Joinville já haviam alertado sobre problemas

Infiltrações, rachaduras e fios desencapados levaram Vigilância Sanitária a fechar local

Mariana Pereira  |  mariana.pereira@an.com.br

Alunos e professores deixavam a Casa da Cultura Fausto Rocha Junior na tarde de terça sem esconder a tristeza de ver a única escola pública de artes da região fechada por tempo indeterminado, depois da interdição feita pela Vigilância Sanitária.

O prédio tem 40 anos, e os problemas estruturais eram velhos conhecidos das turmas de artes. Bastava entrar em qualquer uma das salas de música, balé, pintura ou teatro para sentir o cheiro de mofo e perceber as infiltrações. Nos corredores, muitas rachaduras e fios elétricos desencapados.

Como faz todas as terças-feiras, Cláudia Azevedo Coelho foi levar a filha Lavínia Luciolli da Silva, de 8 anos, para as aulas de artes e teatro na escola, mas perdeu a viagem. Os corredores silenciosos indicavam que as aulas já haviam sido interrompidas por determinação da Vigilância Sanitária.

Apenas aqueles alunos que não tinham como voltar para casa, professores e funcionários, que retiravam instrumentos de trabalho e ajudavam a avisar os alunos sobre a interdição, permaneciam na instituição.

Lavínia conta que a sala onde fazia as aulas de teatro tinha cheiro forte de mofo e que o piso apresentava problemas. Mas o que realmente deixou a menina triste foi a notícia de que ficará sem aula, até segunda ordem.

— Ela já não teve aulas durante o período da greve e agora essa interdição. É uma decepção para as crianças —, diz a mãe.

Segundo a diretora Silvia Pillotto, “para cumprir as exigências que constam no auto de infração da Vigilância, será necessária uma reforma estrutural, que deve levar pelo menos seis meses”. Obra que ainda não tem data para começar.

— O projeto de reforma já existe, e está orçado em pelo menos R$ 2 milhões, mas ainda falta captar recurso e realizar as licitações —, explica.

A Casa da Cultura engloba três escolas: a Escola de Música Villa-Lobos, a Escola Municipal de Balé e a Escola de Artes Fritz Alt. Para que os 1,2 mil alunos não fiquem sem aula, enquanto a reforma não acontece, a Fundação Cultural de Joinville deverá buscar outros espaços, que possam abrigar temporariamente as atividades.

— Nesta terça mesmo já começamos a realizar reuniões para buscar alternativas —, diz a coordenadora da escola.

— O mais importante é evitar que os alunos tenham o ano letivo ainda mais prejudicado —, ressalta.

Como é muito difícil encontrar uma estrutura que comporte os 1,2 alunos e abrigue as três escolas, que apresentam necessidades de espaços diferenciados, segundo ela, é provável que as atividades sejam distribuídas em locais diferentes.

— Mas por enquanto, não há nada acertado, ainda estamos estudando quais seriam as alternativas.

Outra dificuldade, diz a diretora, será encontrar um espaço para a galeria Victor Kursancew.

— Há outras duas exposições agendadas e não sabemos se teremos que cancelar.

Pais informaram a Vigilância

A fiscalização da Vigilância Sanitária foi acionada por denúncias de pais de alunos, preocupados com a segurança dos filhos. Segundo a fiscal do órgão, Lia Abreu, a escola não apresenta condições para as aulas, principalmente por causa do mofo.

— O cheiro de bolor nas salas está insuportável —, diz Lia.

Outro fator apontado pela fiscal é o risco provocado pelos problemas estruturais.

— Há rachaduras e fiação elétrica exposta por toda a escola, além de pontos de alagamentos na área externa que chegavam até a porta da sala —, relata.

Segundo ela, é necessária uma reforma geral, implantação de sistemas de drenagem mais eficientes e adequação de toda instalação hidráulica e elétrica do prédio.

Para a diretora da escola, Silvia Pillotto, a interdição não chegou a ser uma surpresa. Mas considera que a medida foi drástica.

— Não foi feita nenhuma notificação anterior e não recebemos um prazo para adequação. Cheguei a perguntar, por quê vocês só vieram agora, e não há 40 anos? —, diz.

— Fechar a escola só prejudica os alunos, principalmente aqueles que encontram aqui a única alternativa, porque não têm condições de pagar aulas particulares —, argumenta.

Ela concorda que a reforma é necessária, porque desde que foi construída, há 40 anos, a escola nunca passou por uma grande obra.

— Foram feitas apenas reformas mais pontuais, a última em fevereiro, no telhado e nos banheiros —, conta.

O problema, segundo ela, é que a sonhada reforma demanda tempo e recusos que a Fundação Cultural não dispõem.

Decepção para professores

Em silêncio, e procurando conter as lágrimas, professores da Casa da Cultura, que sempre denunciaram as condições de abandono da construção, demonstravam estar desapontados com a interdição. Há anos eles esperam por melhorias. Mas o que eles não podiam esperar era que um dia a escola fosse chegar ao ponto de ter de fechar as portas para os alunos.

Vera Zucco, professora de flauta-doce há 30 anos, pensa em se aposentar em setembro.

— Mas quis continuar dando aula para acompanhar os alunos até o fim do ano, e fechar bem este ciclo —, conta.

— Só não imaginei que passaria por isso —, diz a professora.

Em meio a recordações de tempos áureos, de concertos e lembranças nem tão boas, dos primeiros anos na escola, que já naquela época apresentava problemas com infiltrações, Vera guardou os instrumentos e partituras. Algumas coisas ela levou para casa, com medo de que umidade pudesse estragar, já que ainda não sabe quando e onde volta a dar as aulas.

 

Rodrigo Philipps / Agencia RBS

A sala de orquestra apresenta várias rachaduras
Foto:  Rodrigo Philipps  /  Agencia RBS


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