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Itapema FM  | 31/03/2010 10h26min

Crítica: Gorillaz volta com Plastic Beach

Disco tem convidados como Mos Def, Snoop Dogg, Lou Reed e Mick Jones

PAULO GERMANO e GUSTAVO BRIGATTI

O Gorillaz está de volta. A banda fictícia criada pelo cantor, compositor e instrumentista Damon Albarn (Blur, The Good, the Bad & the Queen) e o quadrinista Jamie Hewlett (Tank Girl) em 1998 volta a ser notícia com o lançamento de seu terceiro disco, Plastic Beach.

Sucessora de Demon Days (2005), a nova bolacha vem para consolidar os personagens 2D (vocal e teclado), Murdoc Niccals (baixo), Noodle (guitarra e vocal) e Russel Hobbs (bateria) como ícones da cultura pop e aumentar a moral (e a conta bancária) de Albarn.

Além do músico inglês, Plastic Beach tem uma dúzia de convidados, de rappers como Mos Def e Snoop Dogg a rockers do calibre de Lou Reed, Mick Jones e Paul Simonon (esses, do extinto The Clash). E foi bem recebido pelo público, atingindo o topo das paradas em quase todos os países onde foi lançado, vendendo mais de 300 mil cópias em um mês.

Mas como qualquer disco pop que faz marola, Plastic Beach dividiu opiniões. Abaixo os argumentos de quem gostou e de quem se decepcionou.

Gostei, por Paulo Germano

O líder do Gorillaz é o destemperado e genial baixista Murdoc Niccals – um sujeito de pele verde e olheiras profundas, dono de um sorriso perverso com dentes podres. De uns anos para cá, Murdoc entrou em surto: irritado com o perfil pacificador do vocalista 2D, aprisionou-o num quartel situado sobre uma pilha de lixo flutuante no oceano. Quem vigia 2D, com espingarda em punho, é a guitarrista Noodle – um ciborgue construído a partir do DNA de Noodle, que teria morrido durante a gravação de um videoclipe.

Murdoc é uma caricatura da conduta egocêntrica e competitiva – às vezes degradante – atrelada à sociedade moderna. Além de uma monumental riqueza melódica, invadida por arranjos e batidas de rap jamais ouvidos, essa postura crítica irrompe como a principal virtude de Plastic Beach.

Ao contrário da maioria dos artistas afeitos a questões ambientais e sociais, o Gorillaz acerta em cheio porque renega aquela cobrança covarde ao ouvinte: como se, além de comprar o disco da banda, ainda tivesse de largar tudo para consertar a camada de ozônio ou, pior, abdicar do almoço no McDonald’s.

O grupo de Damon Albarn (o genial vocalista do Blur, que assume o personagem 2D) ironiza a própria postura de ver um mundo se dissolvendo, sem conseguir – como qualquer ser humano – adotar condutas que de fato resultem em soluções palpáveis. O único que poderia fazer a diferença, mesmo, é Murdoc, o governante da “Praia de Plástico”.

Em meio a essa síntese de angústias do início do século, o Gorillaz inova em cima da fórmula dura do hip hop. Às batidas eletrônicas, Albarn acrescenta uma sofisticação rítimica e um requinte nos arranjos de teclados e sintetizadores que transgridem a linguagem inerente ao rap – e qualquer gênero musical – até aqui.

On Melancholy Hill, por enquanto a música do ano, conta a história de um homem apaixonado que só vê a mulher e uma árvore de plástico, num balanço tão suave como dançante. Já Welcome to the World of the Plastic Beach, com Snoop Dogg no vocal, reconhece que há um “país das maravilhas” entre a poluição dos mares e o desperdício de plástico.

A batida seca de Stylo, com uma pulsação alucinante do baixo programado em computador, já alavancou o primeiro sucesso de um disco que entra para a história. Porque o consumismo (Pirate Jet), o belicismo (White Flag), a devastação ambiental (Some Kind of Nature), o desperdício (Pirate Jet), tudo é abordado com inteligência sublime pelo Gorillaz, exatamente por compreender que fugir dessa situação parece impossível – o que não quer dizer que concordemos com ela.

Não gostei, por Gustavo Brigatti

Sim, é tudo verdade o que você andou lendo por aí. Plastic Beach, novo disco do Gorillaz, é mesmo o melhor disco de música pop já lançado este ano – quiçá, em toda a história do gênero.

Diria mais. Diria que é a exata definição do que é a música pop neste exato momento: um amontoado de barulhinhos desconexos feito para deslumbrar críticos pertencentes a uma geração que se impressiona e leva a sério videogame depois dos 30 anos e, de quebra, pegar o dinheiro de ouvintes que engolem qualquer coisa sem mastigar.

Porque Plastic Beach, convenhamos, é simples. Não por ser básico, mas por ser preguiçoso. Quase todas as suas 16 faixas baseiam-se em colagens de batidas que remetem a Depeche Mode, Erasure, Daft Punk e David Bowie (olha ele ali ao lado, na capa de Hunky Dory). Destas, uma metade possui vocal rap ou algo que o valha e outra metade traz Damon Albarn declamando alguma coisa em tom monocórdico. Sobre elas, uma grossa cobertura de sintetizadores e efeitos.

E não passa disso. Quase uma hora de suplício eletrônico amparado por convidados que vão de rappers (mas que originalidade...) ao Lou Reed (deve estar precisando de dinheiro...).

Sério que esse é o futuro da música pop? Uma costura de blips, bléps e tóins que lembra a trilha sonora do Sonic? E o exemplo não é gratuito. Como no jogo do porco-espinho azul, a música está ali apenas para preencher os espaços de respiro das suas sinapses enquanto elas estão mais preocupadas em ajustar o timing do salto entre as plataformas.

Não há uma liga, um tronco que dê sustentação ou sentido, que torne o disco real, palpável. Plastic Beach é tão artificial e despido de apelo como a banda que o executa, perdido entre os penduricalhos eletrônicos pesquisados por Albarn – e ele realmente vai fundo na quantidade de colagens.

Alguns vão enxergar um épico em cada música e vão levantar loas. Da minha parte, só consigo detectar mais um embuste de um sujeito cujo grande – único? – mérito é saber se vender a cada nova picaretice que inventa.

Se o propósito do disco é divertir – como foi o primeiro álbum do Gorillaz –, não conseguiu me fazer esticar um único músculo. Se é apontar caminhos, me deixem longe da bússola de Albarn. Esse sujeito está exatamente como 2D, o personagem que ele interpreta no quarteto, na imagem aí do lado: cercado de possibilidades, mas totalmente à deriva.

ZERO HORA
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