| 28/10/2005 18h36min
O deputado gaúcho Dionilso Marcon (PT) disse hoje que as grandes empresas de lácteos precisam respeitar os produtores de leite. Marcon destacou que os movimentos que reúnem agricultores continuarão mobilizados pela recuperação do preço do produto. Atualmente as agroindústrias pagam R$ 0,35 por litro, contra R$ 0,55 pagos no início do ano.
Em entrevista online realizada no Site Agrol Dionilso pediu aos pesquisadores que desenvolvam alternativas de embalagem para produtos lácteos, e disse não se arrepender por ter comido um picolé oferecido por um agricultor durante invasão promovida pela Via Campesina à empresa de logística Standard, de Esteio (RS).
– Não roubei o picolé. Recebi o picolé sem saber de onde veio e tenho certeza de que qualquer ser humano receberia naquela hora.
Confira a íntegra da entrevista:
Pergunta: Os agricultores reclamam que estão recebendo apenas R$ 0,35 por litro de leite, metade do que recebiam no início do ano. Por que o preço pago ao produtor está tão baixo?
Dionilso Marcon: O preço do leite que está em média R$ 0,35, no início do ano estava em R$ 0,55. O problema da baixa é a entrada de leite importado, que aumentou a produção de leite. O consumo está estabilizado, e no Rio Grande do Sul o monopólio está na mão de duas empresas, a Elegê e a Parmalat.
Pergunta: Estas manifestações têm alguma relação com a intenção da Nestlé de instalar uma fábrica de produtos lácteos no Rio Grande do Sul?
Resposta: Não.
Pergunta: Houve tentativa de negociação com as empresas que compram leite para elevar o preço pago ao produtor?
Dionilso Marcon: Sempre foi de costume. A primeira mobilização é a negociação, e depois, se não há acerto, são feitas mobilizações. E isso não é só a Via Campesina, e sim, também outros movimentos, como por exemplo Fetag e Fetraf-Sul. Claro que são várias formas de mobilização. Você pega uma família que consome 1 litro de leite por dia, que paga R$1,20, gasta R$ 36 por mês. Aí o agricultor vende o leite a R$ 0,35. O preço do leite que o agricultor recebe é o mesmo preço da embalagem (caixa), que é monopólio mundial, só tem esta indústria que fabrica. Então nós queremos desafiar os pesquisadores das universidades para que criem uma embalagem alternativa. Se o agricultor recebe R$ 10,50 por 30 litros de leite e o consumidor paga R$ 36, quem ganha com isso é a industria do leite, as grandes redes de mercados e a multinacional da embalagem.
Pergunta: O senhor tem conhecimento de novas ações que estão sendo planejadas pelos agricultores para protestar contra o preço do leite?
Dionilso Marcon: Tenho quase certeza de que se não melhorar o preço os agricultores vão continuar se mobilizando. É a única forma de eles resolverem os seus problemas, porque ficar em casa e lamentar a situação com a família é o que as grandes empresas querem.
Pergunta: Por que o movimento escolheu a distribuidora Standard para realizar protestos? Qual a relação da empresa com a queda do preço do leite?
Dionilso Marcon: Eu acho que o movimento não sabia que aí tinha uma empresa responsável pela distribuição, mas tinha certeza que ali tinham produtos derivados de leite, que eram da Nestlé, da Elegê e da Parmalat, mas bateram onde é a central da distribuição.
Pergunta do internauta: Um deputado do PP já encaminhou representação (na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul) contra o senhor por quebra de decoro. Como o senhor pretende se defender?
Dionilso Marcon: Se eu for chamado para a Comissão de Ética irei. Tenho respeito pela Comissão de Ética da Assembléia Legislativa. E vou relatar que as duas vezes em que eu estive no local foi para ver de perto o que estava acontecendo e levar a minha solidariedade, porque eu também sou colono, e fui para intermediar as negociações. Fiz diversos contatos com o secretário de Segurança e membros do governo do Estado. Essa questão do deputado (Jerônimo Göergen) me colocar na Comissão de Ética, ele tenta rebaixar a política da Assembléia Legislativa antes de discutir o problema da agricultura e do consumidor.
Pergunta: Os manifestantes invadiram uma empresa sem saber qual sua relação com o problema do preço do leite? Qual o objetivo da invasão, então?
Dionilso Marcon: A empresa tem relações sim com produtos derivados de leite.
Pergunta: E qual o objetivo da invasão de uma grande empresa?
Dionilso Marcon: O motivo da mobilização é pressionar as empresas para aumentar o preço do leite para o produtor.
Pergunta do internauta: Deputado, li que os produtores de leite conseguiram algumas vitórias nas negociações em Brasília, mas a imprensa gaúcha não falou nada. Por quê?
Dionilso Marcon: Se houve avanços em Brasília não foram significantes. Aqui no RS, na tentativa de desviar o problema do leite, criaram o caso do picolé. Entre as negociações um agricultor me ofereceu um picolé, eu peguei com muito respeito, sem querer entrar no assunto de ser ou não saqueado, e que é a forma de os agricultores sempre repartirem o que possuem com os vizinhos.
Pergunta do internauta: A propósito deputado, você tem idéia de quantos dos invasores eram produtores de leite?
Dionilso Marcon: Todos os ocupantes eram produtores de leite.
Pergunta: O senhor é favorável a saques como forma de manifestação?
Dionilso Marcon: Não sou favorável a saques, sou favorável a manifestações.
Pergunta: Os manifestantes consumiram produtos e danificaram equipamentos da empresa, provocando prejuízos. O senhor presenciou cenas de agressão durante a invasão da empresa?
Dionilso Marcon: Não, o objetivo do movimento nunca foi agredir trabalhadores e isso não aconteceu.
Pergunta: O clicRBS fez a seguinte pergunta aos internautas: "O deputado Dionilso Marcon disse que os produtores de leite estão sendo saqueados pelas empresas. Este argumento justifica o protesto contra a empresa Standard em Esteio?" 77,99% responderam que não, e os restantes 22,01% responderam que sim. Como senhor avalia este resultado? Lembrando que a enquete é uma consulta aos internautas sem validade científica.
Dionilso Marcon: Vejo que hoje em dia, para você avançar, seja qual for a categoria, não basta só fazer negociações, é preciso pressão. Enquanto o leite baixou quase 50%, na mesa do consumidor a redução foi de 10%.
Pergunta do internauta: O movimento, quando invadiu a empresa, pensava que se tratava de um prédio relacionado ao governo, depois acharam que se tratava de uma multinacional. Como o senhor explica a falta de informação do movimento, que nem sabia o que estava invadindo?
Dionilso Marcon: Tenho claro que os agricultores sabiam que era uma empresa particular.
Pergunta do internauta: O senhor se arrepende de ter dito à imprensa que comeu o picolé? Até pelos efeitos que pode ter sobre o debate da questão dos produtores?
Dionilso Marcon: Não, não roubei o picolé. Recebi o picolé sem saber de onde veio e tenho certeza que qualquer ser humano receberia naquela hora. A última vez fiquei lá das 16h até a madrugada e saímos com um resultado positivo entre a segurança e os agricultores. E aqueles que não querem defender os pobres tentam se "agarrar" em um picolé.
Pergunta: Então o senhor acredita que os produtores só conseguirão melhores preços para o leite através de manifestações como esta na Standard e bloqueios de estradas, a respeito do que ocorreu na BR-116?
Dionilso
Marcon: Não. Primeiro as empresas Elegê e Parmalat precisam respeitar os agricultores que produzem leite. Ninguém sai de casa para fazer mobilização porque gosta. A mobilização da BR-116 foi porque os agricultores queriam liberar os ônibus fretados que estavam presos para cobrir um possível prejuízo. E só foram liberados por pressão.
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