| 10/10/2005 13h19min
A balança comercial de lácteos registrou em setembro um superávit de US$ 5,5 milhões, resultado 577% superior ao saldo positivo de US$ 820 mil em igual mês do ano passado. Os números comprovam que o complexo de lácteos brasileiro têm competitividade no mercado internacional, mesmo em época em que a moeda nacional está supervalorizada perante o dólar.
– É o terceiro mês consecutivo em que temos superávit na balança comercial de lácteos – diz o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite (CNPL) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim.
O presidente da CNPL/CNA alerta, porém, que apesar dos bons resultados das exportações, no campo a situação é de crise, com constante queda dos preços pagos ao produtor. O criador de gado de leite, está perdendo renda, recebendo pouco pelo seu produto, para sustentar a competitividade dos lácteos brasileiros no mercado internacional. São esses preços baixos que estão sustentando a elevação das exportações.
– A CNA acredita que, na situação atual, há margem para cessar a tendência de queda dos preços pagos ao produtor – diz Alvim. Em setembro o preço médio pago pela indústria foi de R$ 0,48 por litro de leite – valor 17,4% menor que o R$ 0,58 por litro que vigorava no mesmo mês do ano passado (preço atualizado pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna / IGP-DI), conforme apurado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).
Ao consumidor, no entanto, não está sendo repassada a mesma queda dos preços imposta ao produtor pelo leite. No varejo o preço do leite caiu 5% entre junho e setembro, conforme variação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – Laticínios, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para o produtor, entretanto, a queda do preço recebido foi de 18,4% no mesmo período, segundo o Cepea/USP.
De janeiro a junho o déficit na balança de lácteos era de US$ 17,9 milhões. Mas os superávits dos últimos três meses (julho, agosto e setembro) de US$ 9,9 milhões, começaram a reverter esse quadro negativo. Dessa forma, no acumulado entre janeiro a setembro a balança comercial de lácteos reduziu o déficit para US$ 8 milhões, resultado de exportações que somaram US$ 88,3 milhões e importações de US$ 96,3 milhões.
O segundo semestre, avalia Alvim, está sendo um período de resgate no superávit na balança de lácteos, mas às custas do baixo preço pago ao produtor. Dessa forma, o Brasil pode encerrar o ano sem déficit ou até mesmo com pequeno saldo comercial positivo na balança comercial de lácteos, evitando o gasto de divisas do País. O ano passado foi o primeiro em que o Brasil obteve superávit na balança comercial de lácteos, com saldo positivo de US$ 11,5 milhões. Historicamente, o País era um grande importador de lácteos. Em 2003, por exemplo, o segmento de lácteos apresentou déficit de US$ 63,8 milhões.
A situação do produtor não é ainda pior porque a Argentina, maior vendedor de lácteos para o
Brasil, recentemente
decidiu aplicar taxação de 10% a 15% nas suas exportações de queijos e leite em pó. Isso evita que aumente ainda mais a oferta de lácteos no mercado nacional, o que depreciaria ainda mais os preços ao produtor.
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