| 04/09/2005 21h55min
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começa nesta semana uma nova jornada de luta pela reforma agrária, com invasões de fazendas em todo o país. Estão previstos ainda manifestações e atos de protesto contra a política econômica e pela reforma política, com a ocupação de agências bancárias e repartições públicas.
As ações do "setembro vermelho" não se restringirão ao 7 de Setembro, quando o movimento participa do Grito dos Excluídos, organizado em conjunto com a CNBB, CUT e outras entidades. O mês foi escolhido para concentrar as ações, geralmente realizadas em abril, quando os sem-terra lembram o massacre ocorrido em Eldorado dos Carajás, em 1996, com a morte 19 sem-terra em confronto com policiais militares.
Em abril deste ano, o MST se ocupou dos preparativos para a marcha nacional pela reforma agrária, de Goiânia a Brasília, realizada no mês seguinte, transferindo para setembro a "jornada de lutas". Neste ano, está previsto um número recorde de invasões.
Os dirigentes do movimento avaliaram que o momento é oportuno para desencadear as ações, que representarão o fim da trégua dada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as negociações que encerraram a marcha de maio.
Disposto a recuperar-se da crise política que o deixou praticamente imobilizado, após as denúncias do mensalão, o governo estaria empenhando numa agenda de realizações e pode acelerar a reforma agrária. Os líderes avaliaram que as invasões não prejudicam o presidente e podem dividir a atenção da opinião pública, focada no cenário político de Brasília.
A retomada das atividades de campo é vista como uma forma de unir a militância. Acusado de estar se tornando uma organização "de gabinete", o MST vê crescerem as dissidências. No sábado, o líder José Rainha Júnior reuniu 1,2 mil militantes no Pontal do Paranapanema e, à revelia dos dirigentes, anunciou uma jornada própria de invasões de 26 a 30 de dezembro.
O deputado estadual Dionilso Marcon (PT) atribuiu a mobilização do MST à lentidão da reforma agrária feita pelo governo. Segundo o deputado, o movimento nunca deixou de pressionar os governos federal e estadual pela reforma agrária.
– Movimento tem que ser movimento, governo tem que ser governo. Aqueles que têm terra e estão produzindo não têm que se preocupar – disse.
Ainda ontem o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) Carlos Sperotto reagiu à notícia do "setembro vermelho" afirmando que, no Estado, "as coisas não devem ocorrer da forma como vem sendo divulgado". Sperotto disse ainda que a Farsul tem um posicionamento muito claro em relação às invasões e apoiará os produtores que tiverem as propriedades invadidas.
– Não deixaremos isso acontecer.
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