| 22/08/2005 17h17min
As explicações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre as denúncias de corrupção convenceram os investidores. O dólar comercial recuperou nesta segunda-feira quase toda a perda acumulada no pregão anterior, quando Rogério Buratti acusou o ministro de receber propina de uma empresa de lixo, a Leão & Leão, na época em que era prefeito de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A moeda americana terminou o dia em queda de 2,65% (na sexta-feira havia fechado em alta de 2,94%, chegando a R$ 2,45), a R$ 2,383 na compra e R$ 2,385 na venda. O risco-país, que mede a percepção do investidor estrangeiro sobre a economia no Brasil, caiu 11 pontos, para 408 pontos-base, e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou o viva-voz com uma alta expressiva, de 2,31% (27.261 pontos) recuperando bem mais do que perdeu na última sexta-feira.
Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, disse que a entrevista de Palocci negando as acusações foi bem sucedida. O ministro, na avaliação do economista, conseguiu enfrentar de frente o problema e não deu espaço a especulações, aproveitando-se dos fundamentos favoráveis da economia e da forte liquidez no mercado internacional, que torna os investimentos atraentes em países emergentes.
– Poderá haver nova volatilidade na próxima quarta-feira, no depoimento de Rogério Buratti à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. Volatilidade sempre haverá, mas eu não creio em tendência negativa – afirmou Campos Neto.
De acordo com Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da NGO, houve na sexta-feira, quando o dólar subiu quase 3%, precipitação dos investidores em reduzir bruscamente a exposição. Nehme disse que ficou muito claro que "o comportamento do mercado está fundamentado na credibilidade do gestor da política monetária e na atratividade da lucratividade que o país proporciona ao capital externo".
– Ficou totalmente evidente que o que vem determinando o batimento cardíaco do mercado financeiro, em especial o de câmbio, são os dados econômicos, que têm sido favoráveis e que, em regra, têm prevalecido sobre as questões políticas – disse.
Para Palocci, o que deixou o mercado nervoso na sexta-feira foi a pressa do Ministério Público em divulgar o depoimento de Rogério Buratti. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os juros futuros voltaram a cair nesta segunda-feira, depois da entrevista do ministro. O Depósito Interfinanceiro (DI) para setembro de 2005 passou de 19,68% para 19,65%. Para outubro de 2005, o contrato de DI, que fechou em 19,66% na sexta-feira, passou para 19,63%.
O contrato de janeiro do ano que vem caiu para 19,23%, contra 19,28% na sexta-feira, e o de abril passou de 18,82% para 18,73%. O DI de janeiro de 2007 fechou em 18,17%, contra 18,50% no fechamento de sexta-feira. As projeções dos juros subiram bastante na sexta-feira, como reflexo do estresse dos mercados com a aparente deterioração do cenário político.
O mercado de juros repercutiu o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. A projeção de inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2005 foi diminuída. A previsão para este ano caiu de 5,40% para 5,34%, aproximando ainda mais a média das previsões do centro da meta ajustada estabelecida pelo Banco Central, de 5,1%. Para 2006, o mercado prevê um IPCA de 4,96%, contra 4,98% da semana anterior.
Outro dado observado pelo mercado foi a balança comercial brasileira. Na terceira semana de agosto, a balança registrou superávit de US$ 738 milhões, com as exportações somando US$ 2,410 bilhões e as importações US$ 1,672 bilhão. No acumulado do ano, a balança comercial registra superávit de US$ 27,160 bilhões. No período, as exportações somaram US$ 71,929 bilhões e as importações, US$ 44,769 bilhões.
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