| 19/08/2005 18h09min
A jornalista de Política de Zero Hora Dione Kuhn classificou como graves as denúncias apresentadas nesta sexta por Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo Buratti, Palocci receberia R$ 50 mil mensais da empresa Leão & Leão, responsável por recolhimento de lixo, quando era prefeito da Ribeirão Preto (SP).
Para Dione, as declarações de Buratti têm relevância porque a relação das prefeituras administradas pelo PT com as empresas de recolhimento de lixo sempre foram contestadas.
– As denúncias envolvendo Ribeirão Preto na época em que Palocci esteve no comando da prefeitura eram conhecidas, mas nunca alguém havia dado um depoimento acusando o ministro diretamente – disse a jornalista.
A entrevista online com Dione Kuhn foi realizada pela jornalista Janaína Silveira, do clicRBS, e monitorada por Cláudia Ioschpe.
clicRBS: Na última semana, você esteve em Brasília. Como foi o clima em Brasília nesta semana? A aparente calmaria que se percebeu até ontem, sem novas denúncias ou revelações em depoimentos prestados nas CPIs, era o reflexo mesmo da movimentação nos corredores do Congresso?
Dione Kuhn: Eu estive esta semana em Brasília. Retornei hoje. Foi uma semana calma porque os dois depoimentos previstos, o do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmierei, não trouxeram novidades para as investigações. Aliás, os dois depoimentos acabaram irritando os parlamentares. Mas hoje surgiu essa bomba que foi o depoimento do ex-assessor do ministro Palocci Rogério Buratti.
Pergunta de internauta – Guilherme: Dione, boa tarde! Depois da denúncia de Buratti hoje, há como prever o rumo da crise nos próximos dias?
Dione: Guilherme, o depoimento do Buratti caiu como um bomba no Planalto. Até agora, depois de três meses de escândalo, a equipe econômica do governo vinha sendo blindada, por isso o mercado estava reagindo com tranqülidade. A partir de agora não se pode mais dizer o mesmo. São graves as denúncias.
Pergunta de internauta – Guilherme: A "onda de denúncias" não pode provocar dificuldades na apuração?
Dione: Já está provocando dificuldades. Só que esta do Buratti aborda um tema que sempre rondou o PT, que é o lixo. A relação das prefeituras administradas pelo PT com as empresas de recolhimento de lixo sempre foram contestadas. As denúncias envolvendo Ribeirão Preto na época em que Palocci esteve no comando da prefeitura eram conhecidas, mas nunca alguém havia dado um depoimento acusando o ministro diretamente.
clicRBS: Desde o depoimento de Duda Mendonça, ficaram mais fortes as discussões sobre impeachment. Este novo fato pode fazer com a oposição se mobilize ainda mais para encaminhar um processo de impeachment de Lula? Seria o caso, então, de as CPIs investigarem também estes contratos?
Dione: No caso específico da denúncia do Buratti não sei, Janaina. O que pode é fragilizar ainda mais o governo se o mercado começar a reagir negativamente. Não podemos esquecer que o grande mérito deste governo até o momento é a política econômica. A oposição decidiu esta semana que não pedirá impeachment enquanto não houver um clamor das ruas. Ninguém quer assumir o ônus de cassar o mandato de um presidente sem ter resplado da população.
Pergunta de internauta – Guilherme: E a imprensa? Não está se adiantando aos fatos ao tratar do impeachment com tal veemência?
Dione: Não acho que a imprensa esteja se adiantando aos fatos. O depoimento do Duda Mendonça foi muito forte. Ele foi o primeiro a fazer uma denúncia que se aproxima de Lula. Semana passada era só o que se falava no Congresso. A imprensa tem falhado em alguns casos ao publicar versões que não se sustetam. Achei um equívoco de alguns jornais dar de manchete o depoimento do Tonino da Barcelona. Esse doleiro é um criminoso, condenado a 25 anos de prisão. Que credibilidade esse homem tem?
Pergunta de internauta – Aninha: Você acha grande a possibilidade de impeachment resumindo os fatos?
Dione: Aninha, as denúncias surgem com uma velocidade impressionante. Qualquer nova denúncia envolvendo Lula poderá ser a gota d'água.
clicRBS: Este problema de dar espaço a pessoas que, talvez, não tenham credibilidade, não estaria ocorrendo porque há uma busca pelo furo? Pela próxima informação que pode influenciar definitivamente os rumos da crise?
Dione: A busca pelo furo sempre existiu e recomendável para o bom jornalismo. O problema todo nesse escândalo do mensalão que muitas das denúncias surgem sem provas. Nem questiono a matéira da Veja, mas sim a forma como a própria CPI deixou vazar o depoimento do doleiro. A própria CPI fez depois um mea culpa por ter divulgado o depoimento em que envolve nomes como o do ministro Marcio Thomaz Bastos.
Klécio fala para Dione Kuhn: Dione, um abraço daqui da Sucursal de Brasília da RBS.
Dione Kuhn fala para Klécio: Um abraço, querido.
Pergunta de internauta – Guilherme: Pois também concordo no tratamento desproporcional de certos setores da imprensa. Penso ser essencial a apuração criteriosa da imprensa, a fim de que não ocorram 'barrigadas' na pressa pela notícia - bomba. Você que viveu o ambiente de Brasília durante a semana, o que pode falar sobre os bastidores do Congresso e do Planalto?
Dione: Guilherme, o Congresso está todo voltado para as CPIs. O governo, por sua vez, está completamente desarticulado. Foi até surpresa a Câmara ter conseguido na quarta-feira restabelecer o mínimo de R$ 300. O Bloco de Esquerda do PT, composto por uns 20 deputados, começa a discutir seriamente a possibilidade de deixar o partido caso não consigam eleger um presidente na eleição interna do PT, dia 18 de setembro.
Pergunta de internauta – Guilherme: Você concorda com a afirmação de que esta é "a mais séria crise da história da Repúlica"?
Dione: Guilherme, concordo que é a maior crise pós-redemocratização. No escândalo Collor-PC Farias, os envolvidos eram o presidente da República e seu ex-tesoureiro de campanha. Agora, além do presidente, há ministros, toda a cúpula do partido que governa o país e também um outro poder, o Legislativo.
Pergunta de internauta – Guilherme: Hoje houve uma prestação de contas da Cpi dos Correios. Como você analisa o que já foi apurado e o que pode dizer do ritmo da investigação? Teremos, enfim, Cpis efetivas no país? Ou há mesmo um conchavo no Congresso para a operação abafa?
Dione: Dificilmente haverá operação-abafa. O que se levantou até o momento já é suficiente para cassar mandatos de deputados. Não há provas de que houve financiamento ilegal de deputados. Alguns dirão que faltará provas de que houve compra de votos. Só que para uma CPI o que se levantou já é suficiente. Numa comissão de inquérito o julgamento é político. Talvez na Justiça essas pessoas envolvidas venham a ser absolvidas por falta de provas.
clicRBS: Dione, tu falaste sobre parlamentares petistas deixarem o partido. Hoje o José Dirceu anunciou que não sairá da chapa do Campo Majoritário do PT. Isso reforça a tese de que o partido fundado por Lula está realmente desarticulado? O Cristovam Buarque anunciou a saída da sigla, mas adiou a decisão.
Dione: O José Dirceu não quer deixar a chapa do Campo Majoritário porque o PT é o que vai restar para ele se ele for cassado (e tudo indica que vai ser). Se perder o controle do PT, acaba a carreira política dele. O futuro do PT passará pela eleição à presidência nacional do partido. Se a esquerda for derrotada, dificilmente ficará na sigla.
clicRBS: Mas o futuro político de Dirceu já está bastante complicado, não?
Dione: Sim. O clima no Congresso é de cassação. Um grupo do Campo Majoritário, liderado por Tarso Genro e Aloizio Mercadante, está querendo se distanciar dele, mas a sua influência ainda é muito forte. Ele esteve com a máquina partidária nas mãos nos último 10 anos. Não é de uma hora para outra que um político como ele perde a influência.
clicRBS: A entrevista com Dione Kuhn, jornalista de ZH terminou. Agradecemos a participação de todos.
Dione: Obrigada a todos.
clicRBS: Dione, obrigado pela entrevista. Ficaremos todos atentos aos desdobramentos da crise.
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