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 | 06/03/2009 03h16min

Índio repete a história de Figueroa com a camisa 3

Zagueiro está a três gols de igualar recorde do ídolo chileno

Luís henrique Benfica e Jones Lopes da Silva  |  luis.benfica@zerohora.com.br; jones.silva@zerohora.com.br


Figueroa e Índio mal se conhecem. Tiveram apenas uma rápida troca de cumprimentos quando o ex-zagueiro, cujo recorde de gols Índio está prestes a igualar, visitou a delegação do Inter em Santiago, no ano passado, antes do jogo contra o Universidad Católica, pela Copa Sul-Americana.

A história dos dois se cruza pelos títulos e pelo número de gols feitos. Bicampeão brasileiro, Figueroa marcou 26 vezes pelo Inter, entre 1971 e 1976, conforme números do jornalista e historiador Cláudio Dienstmann. O gol da decisão do Brasileirão de 1975, que representou o primeiro título nacional do clube, está imortalizado em foto que decora o departamento médico.

Campeão da América e do mundo em 2006, Índio, que tinha só dez meses de vida naquela tarde de dezembro, está perto de se igualar ao chileno. Ainda assim, nem de longe cogita alcançar seu lugar no coração dos torcedores. Mesmo que o vice de futebol Fernando Carvalho não hesite em colocar os dois na seleção dos melhores do Inter de todos os tempos.

— O cara é idolatrado aqui e em todo o país. Falam nele desde que eu cheguei aqui. Ouço falar nele desde a época em que estava em outros clubes. Por mais que eu faça, sempre estarei muito longe — conforma-se Índio, trazido do Juventude para o Beira-Rio no final de dezembro de 2004.

Ante a insistência dos repórteres nas comparações entre os dois, ele arrisca algumas perguntas sobre a performance de Figueroa. Sobretudo quanto ao modo como ele fazia seus gols.

— Era só de cabeça ou também cobrava pênaltis? No ano passado, todos os que fiz foram cabeceios. Este ano, dois já foram com o pé.

Para Índio, a insistência do Inter nos lances aéreos explica sua elevada média de gols. As marcas melhoram a cada ano. No ano passado, foram 11. Em dois meses de 2009, fez três.

— Bola parada decide muito jogo. Viu aquela no fim do jogo contra o União? Se eles marcam, tiram a nossa vaga — lembra.

Apesar do assédio, Índio parece não levar jeito para celebridade. Ontem, depois de muita insistência, atendeu à solicitação da RBS TV e gravou chamada sobre a quebra do recorde de Figueroa para o Globo Esporte. O programa de hoje apresentará reportagem especial sobre o zagueiro.

— Não gosto de ficar falando dessas coisas. Não parece que estou contando vantagem? Imagina se o gol demora muito a sair? — perguntou.

" Tem de fazer com os outros zagueiros o que não queremos que façam com a gente"
Um dos maiores jogadores da história do Inter, Elias Figueroa trocou o passado de zagueiro goleador pela função de assessor de esportes da cidade de Villa Alemana, perto de Viña del Mar, no Chile. Como se desse consultoria no assunto, aos 62 anos, o chileno manda de seu país um de seus princípios para definir a carreira de Índio, o novo zagueiro artilheiro do Inter: – Para ser completo, zagueiro tem de ser de duas áreas.

A frase não é nova. Foi ouvida pela primeira vez quando Figueroa chegou ao Inter, em novembro de 1971. Ele a trouxe de contrabando do seu período como dono do Peñarol e funcionou no Beira-Rio como código no vestiário. Com essa regra, Figueroa fez 26 gols em cinco temporadas cheias, de 1972 a 1976. O chileno mostrou-se positivamente surpreso com os números de Índio:

— É mesmo? Qual é a estatura dele? Ele não é muito alto, não é?

O chileno conhecia o brasileiro de quando trabalhou como comentarista na RBS TV, em 2006. Lembra da força e da boa colocação do zagueiro, mas voltou à questão que o intriga:

— Quanto mede ele? É menor do que eu, não é?

Realmente, Índio se sustenta em 1m80cm. Figueroa garante ter 1m86cm, embora o site do Inter o registre com 1m84cm. Estatura, porém, não é regra. Apesar de modesto 1m77cm, o argentino Passarella gravou seu nome na América.

— Quando o pessoal da frente não soluciona, cabe ao zagueiro resolver. É da sua personalidade — ensina.

Foi assim no segundo tempo da decisão do Brasileirão de 1975. Mais de 80 mil torcedores padeciam sob tensão no Beira-Rio na final contra o Cruzeiro de Raul, Nelinho, Piazza, Zé Carlos, Palhinha e Joãozinho. Era dezembro, o sol já se despedia naquele domingo de calor e apenas uma nesga de luminosidade deitava sobre o gramado, na altura da marca do pênalti. Pois Valdomiro acertou aos 11 minutos um cruzamento da direita, no lado do placar eletrônico, justamente onde o sol resistia. Ali Figueroa subiu e concluiu de cabeça, no canto de Raul.

Não foi só aquele: logo depois que deixou o Inter, Figueroa garantiu dois títulos chilenos para o Palestino. Outras duas regras ensina Figueroa. Na sua área, zagueiro tem de policiar a bola. É o dono do espaço. Na outra área, entrando em diagonal, é diferente:

— Tem de fazer com os outros zagueiros o que não queremos que façam com a gente.

 
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