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 | 17/12/2007 05h00min

Leia crônica da final do Mundial

Publicada em Zero Hora no dia 18 de dezembro de 2006

David Coimbra  |  david.coimbra@zerohora.com.br

São mais de 12 mil quilômetros de diâmetro, de um pólo ao outro. A área total ultrapassa os 510 milhões de quilômetros quadrados. O lar de 6 bilhões de almas. É um vasto mundo, e ele todo cabe dentro do Estádio Beira-Rio, na Avenida Padre Cacique, 891, sede do Sport Club Internacional. Porque, desde ontem, 17 de dezembro de 2006, o Planeta Terra tem novo dono, um dono gaúcho, vermelho, colorado: o Inter. O Inter é campeão do mundo. O Inter é campeão do mundo!

Eis um título Irretorquível. Pois o Inter derrubou um gigante, na noite fria do Estádio de Yokohama, quente manhã de Porto Alegre. Aos pés do Colorado prostrou-se o poderoso Barcelona, de Ronaldinho, Deco e Iniesta, abatidos não apenas pelo gol de Adriano Gabiru, aos 82 minutos de partida, mas por um grupo inteiro, uma equipe coesa, que trabalhou sério e duro para vencer.

Essa diferença entre o Inter e o Barcelona ficou evidente já no início do jogo. Aos 40 segundos, Ronaldinho enquadrou o corpo, enviou um lançamento em diagonal para o outro lado do campo e a torcida no estádio uivou de admiração. Poucos minutos depois, Ronaldinho deu um passe de calcanhar, e os japoneses e espanhóis quase chegaram ao êxtase. O Barcelona tinha vindo ao Japão para brilhar. O Inter veio para vencer.

Os jogadores do Inter estavam concentrados nas tarefas de contenção dos habilidosos jogadores do Barcelona. Haviam visto os teipes de quatro jogos do inimigo nos últimos dois dias. Sabiam o que fazer. Ceará cuidava de Ronaldinho, auxiliado por Wellington Monteiro ou Índio. Alex perseguia Deco. Edinho, na sobra, era o guardião da zaga. Do meio para frente, porém, o Inter não jogava bem. Fernandão, Iarley e Alexandre Pato não conseguiam desenvolver seu jogo, e Alex errava passes ao tentar ligar o meio-campo com o ataque.

O Barcelona tocava a bola sem pressa. Ela rodava de um lado a outro do campo, voltava aos zagueiros, saía na maioria das vezes com ala esquerdo Gio, chegava a Ronaldinho e a partir de Ronaldinho alguma jogada acontecia. Assim foi aos 18 minutos, quando Clemer defendeu com dificuldades um chute de Gio e Ronaldinho por pouco não marcou no rebote; aos 19, quando Ronaldinho entrou na área a drible e simulou pênalti; aos 22, quando Ronaldinho cabeceou por cima do travessão. O Barcelona seguiu pressionando, tentando, insistindo, mas sem muita contundência. O Inter estava atento.

O primeiro tempo terminou com o Inter saindo de campo aliviado. O Barcelona havia sido contido. No intervalo, Abel Braga tirou Alex e colocou Vargas, enquanto Frank Rijkaard substituiu Zambrotta por Belletti. Depois da partida, um jogador do Inter contou que a entrada de Belletti causou graves problemas à defesa colorada.

—Não sei como o Belletti é reserva — disse o jogador. — Ele joga muito mais do que o Zambrotta.

Belletti jogou muito mais que Zambrotta, de fato. Rompia o sistema de marcação do Inter pelo lado direito, ia à linha de fundo e criava lances de perigo um atrás do outro. No afã de contê-lo, e de conter os demais jogadores do time catalão, o Inter foi se desmontando. Alexandre Pato saiu aos 15 e Luiz Adriano entrou em seu lugar. Aos 25, Fernandão caiu, sentindo cãibras. No mesmo momento, Índio se chocou com Edinho e rolou pela grama, com o nariz quebrado. Foi retirado de campo, sangrando, para atendimento. Durante cinco minutos, o Inter ficou sem seu zagueiro central e com seu capitão mal conseguindo manter-se de pé em campo. E o Barcelona pressionava: aos 28 minutos, Iniesta chutou com violência, no ângulo, e Clemer espalmou para escanteio, fazendo a mais importante defesa da noite.

— Meu negócio é decisão! — festejou Clemer, mais tarde, lembrando-se desta defesa.

Aos 29 minutos, Xavi invadiu a área a drible e Edinho salvou. Aos 30, Fernandão foi substituído, afinal, por Adriano Gabiru. Três dos jogadores mais técnicos do Inter, Fernandão, Pato e Alex, estavam fora. Sobrara Iarley. E foi Iarley quem assumiu o jogo, quem passou a explorar as subidas de Belletti e a lancetar o Barcelona pelo lado esquerdo. Foi Iarley quem recuperou a bola aos 37 minutos, na intermediária de ataque, levantou a cabeça e viu Luiz Adriano abrindo para um lado e Adriano Gabiru para o outro, confundindo os zagueiros adversários, exatamente como foi ensaiado desde a sexta-feira. O passe foi na direção de Gabiru, que chutou à meia-altura. O goleiro ainda tocou na bola, mas ela foi para o fundo do gol. O gol do título. O gol que deu ao Inter a Terra toda, do seu ponto mais alto, o Everest, no Nepal, com 8.848 metros de altura, ao abismo mais profundo do Oceano Pacífico, com 10.900 metros de escuridão; do lugar mais seco, o deserto de Atacama, onde já houve uma estiagem de 15 séculos, ao mais chuvoso, o Monte Waialeale, no Hawai, em que chove 360 dias por ano; das terras mais quentes, em El Azizi, na Líbia, que já registrou 58ºC, às mais frias, da Estação Vostok, na Antártica, onde a temperatura um dia caiu a 89,2ºC abaixo de zero. Isso tudo o Inter conquistou, neste domingo, no Japão. Isso tudo será guardado, de ora em diante, e por muito tempo mais, dentro do Beira-Rio.


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