| 11/11/2005 09h14min
Considerado o condutor da política de ajuste fiscal, de controle da inflação e de atração de investidores, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não é mais tido como a única âncora da economia. Embora torçam pela permanência de Palocci no ministério, a maioria dos empresários e economistas ouvidos por Zero Hora avalia que a economia está consolidada a ponto de atravessar sem sobressaltos uma mudança no capitão do time.
Acossado por denúncias envolvendo seu nome e de ex-assessores e pelo fogo amigo da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Palocci disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, que estaria disposto a deixar o governo. Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, uma eventual saída do ministro não assusta mais.
– O Brasil já mostrou que tem solidez em termos de política econômica, que não é dado a loucuras, embora se jogue muito com isso – afirmou.
Para o ex-ministro e consultor Mailson da Nóbrega, uma eventual saída de Palocci não causaria sobressaltos, embora, na sua avaliação, as declarações de Dilma possam ser consideradas uma ameaça:
A posição da ministra é a mais estabanada e equivocada que apareceu até agora. Ela se colocou explicitamente como um contraponto à política econômica, com ataques impressionantes e usando conceitos equivocados sobre gastos públicos e superávit. Essa briga não vai dar em nada, tanto que o mercado ignorou.
– O mercado não está mais tão atento a tudo isso. Nesses últimos cinco dias, por exemplo, o mercado de ações não se ressentiu, e o dólar chegou a R$ 2,16, recorde desde abril de 2001. E quem vai entrar no lugar dele certamente não vai ser muito diferente. Vai ser até melhor – comentou o economista Jason Vieira, da GRC Visão, referindo-se a Murilo Portugal, secretário executivo do ministério.
Presente a um evento na Federação das Indústrias do Estado em Porto Alegre (RS), o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, avalia que a política econômica está "descolada" da crise política e fundamentada suficientemente para resistir a trocas no Ministério da Fazenda. Mesmo assim, defendeu a permanência do ministro no cargo.
Posição semelhante foi adotada pelo economista da Federação Brasileira de Bancos Roberto Troster, que comparou Palocci a "um bom jogador" que não deveria deixar "o time" - mas, se isso for necessário, a economia seguirá no rumo do ajuste fiscal. Álvaro Bandeira, da corretora Ágora, ressalta que as conseqüências de uma mudança dependeriam do substituto e da condução da transição.
Não há consenso na transição. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fernando Ferrari Filho, por exemplo, não acredita em blindagem da economia, mesmo sem o ministro Palocci.
– A economia só está blindada para os banqueiros e para quem tem investimentos em títulos públicos. Na ótica produtiva, a economia ainda patina num crescimento abaixo do esperado e em pouca geração de empregos –avaliou.
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