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 | 18/09/2005 15h43min

Baixo clero volta ao ostracismo na Câmara

Deputados que passaram a ter voz na Casa lamentam saída de Severino

Do céu ao inferno em sete meses. Parlamentares do baixo clero que experimentaram a euforia, mesmo que por uma tímida ascensão política, estão se sentindo traídos, decepcionados e até envergonhados com a derrocada do seu maior porta-voz, Severino Cavalcanti (PP-PE). A certeza de que voltam ao ostracismo com a possível renúncia de Severino é quase geral.

Muitos dos que passaram a ter acesso direto ao gabinete do presidente da Câmara antes nunca tinham tido o nome lembrado para relatorias de projetos ou para integrar comissões mais importantes. Nesse curto período, sentiram-se como a nova elite da Casa. E agora apelam para que o novo presidente, no caso de renúncia de Severino, faça uma gestão equilibrada.

O deputado Pastor Frankembergen (PP-RR), que várias vezes subiu à tribuna e teve o apoio de Severino quando protestou contra a distribuição de panfletos de propaganda de garotos de programa e boates gays nas dependências da Casa, diz que os que confiaram no presidente sentem-se traídos diante dos atuais acontecimentos.

– Nossa alegria durou pouco. A decepção e a tristeza são muito grandes. Não esperávamos jamais que a eleição do Severino fosse trazer tanto transtorno para a Câmara e acabar como está acabando. Antes vivíamos em estado de submissão total. Com a eleição do Severino houve uma mudança, não radical, mas com mais equilíbrio. Infelizmente, com essa situação lamentável, continuaremos submissos e também envergonhados – lamenta Frankembergen.

O paraense Wladmir Costa (PMDB), que se arrisca também como cantor de carimbó, o ritmo quente da região, confessa que é um dos que tiveram ascensão meteórica na gestão Severino. Pela primeira vez foi convidado para duas missões importantes. A primeira, para ser o relator da CPI do setor elétrico. E declinou do convite. Agora é o relator da comissão especial que analisa a criação do Código Nacional de Combustível.

– Sinto uma decepção muito grande com a derrocada de Severino, mas não ponho só a mão no fogo por ele não. Boto o corpo inteiro. Nesses sete meses, para mim, foi instaurada a democracia na Casa. O Severino ouvia todo e qualquer parlamentar, sendo cacique ou não. Acabou aquela coisa de somente meia dúzia de privilegiados mandar na pauta e nas comissões – diz Wladmir Costa.

Membro da confraria que se criou ao redor de Severino, o líder do PP, José Janene (PP-PE), também foi da glória à desgraça nesses sete meses. Em situação tão delicada quanto a do presidente da Câmara, Janene pode perder o mandato em função de seu envolvimento no esquema de distribuição dos recursos repassados pelo empresário Marcos Valério. Janene almoçava ou jantava com Severino quase diariamente nos tempos áureos. Ele diz que o baixo clero perdeu mais uma vez. O segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais mentores da candidatura Severino, diz que o sentimento que predomina agora é o da frustração.

O petebista Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) defende a gestão Severino, afirmando que ele prestou um grande serviço ao imprimir um pouco mais de equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo. Mas admite a decepção.

– Eu não esperava isso do Severino. Ele é uma pessoa limitada, mas jamais achei que estaria envolvido em qualquer tipo de problema escuso. Talvez, de certa maneira, aproveitaram-se da ingenuidade dele para jogar sobre ele um caminhão de melancias – disse Faria de Sá.

Os líderes da oposição que articulam a sucessão, entretanto, dizem que o novo presidente não pode desprezar o baixo clero. – Ninguém é maior ou melhor do que ninguém no Parlamento. O último que acreditou que era maior e melhor perdeu para o azarão Severino. Quem não entendeu o recado, precisa aprender o que é uma gestão democrática – diz o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

AGÊNCIA O GLOBO
 
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