| 06/09/2005 21h44min
O primeiro relatório parcial da quebra do sigilo telefônico da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios, em poder do Ministério Público e da Polícia Federal, atribui ao ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares 121 ligações para órgãos da Presidência – e pelo menos uma delas foi para o principal ramal do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ramais da Presidência da República também foram acionados 126 vezes pelas empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza no período em que a DNA e a SMPB disputavam a renovação e um novo contrato com estatais entre agosto e dezembro de 2003.
A CPI rastreia 1,5 milhão de chamadas dos principais referidos no escândalo do mensalão e de seis das 40 operadoras de telefonia. Por ora, só cruzou dados dos telefones fixos do Palácio do Planalto e outros órgãos públicos, e não os celulares das autoridades e demais personagens investigados.
O telefone celular era um meio importante de contato para os pagamentos de políticos. Em depoimento à Polícia Federal, em Brasília, Marcos Valério disse que tinha o costume de trocar o número de seu celular.
A ligação telefônica do ex-tesoureiro petista para o ramal do presidente da República ocorreu no dia 19 de outubro de 2004, informa o relatório. Os contatos mais freqüentes de Delúbio Soares eram com o gabinete do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
O relatório parcial dos telefonemas registra também contatos de Delúbio com o ramal do ex-assessor palaciano Waldomiro Diniz, menos de dois meses antes do seu afastamento do cargo, por envolvimento em pagamento de propina.
O primeiro relatório parcial do rastreamento de telefonemas identificou 292 ligações de Valério para órgãos da Presidência entre 2000 e 2005. A maior parte das chamadas (268) ocorreu na gestão de Lula e teve como destino a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom).
A assessoria de comunicação da DNA Propaganda informou que as chamadas devem-se a discussão sobre campanhas publicitárias que a empresa mantém com o Banco do Brasil, a Eletronorte e o Ministério do Trabalho.
A Secom, em notas divulgadas desde o início do escândalos dos Correios, e em cartas enviadas à reportagem, sempre negou interferir nos contratos, alegando que a tarefa compete aos órgãos contratantes.
A análise do período sob investigação (2000 a 2005) revela que as chamadas feitas desde a DNA e SMPB não obedecem à lógica de um relacionamento regular comercial. Ao longo dos seis primeiros meses de 2005, por exemplo, não houve nenhuma ligação para a Presidência. Em 2004, foram registradas apenas 63 chamadas. Em contrapartida, ocorreram 205 no ano anterior, sendo 129 no período (de agosto a dezembro) em que a SMPB disputava um contrato nos Correios, de R$ 23 milhões em 2004, e fechava um novo contrato com o Banco do Brasil, de R$ 111 milhões em 2004.
Os dois contratos foram usados posteriormente como garantias para empréstimos que Valério tomou nos bancos BMG e Rural e que supostamente teriam alimentado o caixa dois do PT.
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