| 03/09/2005 15h43min
Pressões para fundir duas companhias aéreas, planejamento de uma intervenção branca e indicação de nomes. A Varig, maior empresa de aviação comercial do país, por muito pouco não teve seu futuro definido pelo ex-ministro José Dirceu. Sua atuação nas negociações para solucionar a crise da Varig deixou marcas que só agora começam a vir à tona com mais força, em histórias que retratam os bastidores do poder em Brasília e revelam a mão pesada da Casa Civil dentro de uma empresa privada.
– Fiquei perplexo ao ver o tamanho da influência dele (José Dirceu) dentro da Varig. Dava aval para nomeações, opinava em tudo aqui dentro – diz um alto executivo, que assumiu recentemente um posto na empresa.
A declaração resume o que deputados federais, sindicalistas, funcionários, executivos e fontes do setor de aviação contaram a Zero Hora sobre a forma incisiva com que Dirceu agiu na questão Varig nos primeiros dois anos de governo. A autoridade do ex-ministro sobre o destino da empresa só diminuiu a partir do escândalo Waldomiro Diniz, quando Dirceu viu seu prestígio encolher e, depois, com a entrada do vice-presidente, José Alencar, no Ministério da Defesa.
O episódio que deu início às intrincadas relações entre o hoje deputado federal pelo PT paulista e a Varig foi a proposta de fusão com a TAM. Oficialmente, era uma alternativa para sanar o grave quadro por que passava a aviação civil brasileira à época. Tanto Varig quanto TAM informam que o interesse em se unir partiu das próprias companhias, sem a participação do governo. Porém, a operação, anunciada em fevereiro de 2003, é definida por uma fonte que participou das negociações como a tentativa de o "peixe engolir a baleia" - uma estratégia para a TAM absorver a Varig, planejada ainda no governo de transição por José Dirceu. O motivo seria a suposta proximidade entre o PT e a empresa paulista.
Quando o projeto esfriou, não só pela saída de José Viegas do Ministério da Defesa, mas pela recuperação de caixa das empresas, motivada pelo compartilhamento de vôos – operação prévia à fusão – e pela melhora na economia, o olhar vigilante da Casa Civil seguiu dentro da Varig. Fosse com a indicação de nomes, como teria ocorrido quando Gilmar Carneiro, ligado à CUT e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), assumiu um posto na gestão anterior do conselho de administração da companhia, fosse com a pressão indireta exercida em conjunto com os credores estatais, o nome de José Dirceu nunca deixou de transitar nos corredores da empresa.
O ponto emblemático desse processo foi a medida provisória que previa a liquidação da Varig e a entrega de suas rotas a outros grupos (que seriam TAM e Gol). O texto, que teria sido redigido na Casa Civil em dezembro do ano passado, só não foi implementado pelo "vazamento" antes do tempo. Um grande movimento de reação política articulado por deputados, senadores, funcionários, pela empresa e pelo vice-presidente José Alencar impediu a intervenção, mas não evitou que o nome do ex-ministro José Dirceu ficasse gravado como persona non grata dentro da Varig.
Na CPI do Mensalão, mais uma vez o nome do ex-ministro foi relacionado com a Varig. Em seu depoimento, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza "esteve três ou quatro vezes com o ex-ministro português Antônio Mexia, em nome de José Dirceu, para negociar a Varig". Segundo Jefferson, desta vez o objetivo era uma parceria com a portuguesa TAP. Embora Marcos Valério tenha negado o episódio ao ser questionado sobre ele por ZH, testemunhas da perseverança do ex-ministro para dar sua assinatura à solução da crise da empresa avaliam que o encontro relatado por Jefferson à CPI tem grande chance de ter ocorrido.
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