Com um simples gesto de cabeça, o deputado José Dirceu (SP) mostrou no sábado que ainda detém amplos poderes na cúpula do partido.

Na reunião do diretório, em São Paulo, Dirceu não precisou nem discursar para barrar a proposta do deputado Chico Alencar (RJ), apoiada pelo presidente da sigla, Tarso Genro, de negar legenda a deputados que renunciarem ao mandato para escapar da cassação.

Quando o presidente apresentava o documento de Alencar, Dirceu, que havia permanecido calado durante a reunião, levantou-se, foi até a mesa, começou a ler uma cópia e a balançar negativamente a cabeça. A atitude funcionou como uma senha para a proposta ser derrubada.

– Eu disse: "Zé, a proposta é em tua homenagem" – relembra Alencar.

– Então tenho autoridade moral para ser contra – teria respondido Dirceu.

A votação estava sendo encaminhada quando Francisco Campos, integrante do Campo Majoritário – o agrupamento moderado de correntes internas que controla o PT –, pediu verificação de quórum. Como não havia número suficiente para votar, a proibição não chegou a ser apreciada.

A atuação de Dirceu foi discreta se comparada ao período em que era o homem forte do governo do presidente Lula. O agora deputado agiu no seu terreno preferido, os bastidores, em rota de colisão com Tarso.

A interferência de Dirceu ameaça a candidatura de Tarso à presidência do PT nas eleições de 18 de setembro. Em entrevista ontem ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, além de ter criticado a influência de Dirceu na reunião, Tarso sinalizou que pode desistir:

– Quem está gerindo o futuro do partido ainda é a antiga maioria. Se esta visão permanecer, isso impede de fato uma transição com autonomia. Isso pode impedir, até, a minha apresentação (candidatura).

ALEXANDRE ELMI/ ENVIADO ESPECIAL/BRASÍLIA