| 01/07/2005 21h57min
Apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do suposto mensalão, o publicitário Marcos Valério de Souza é investigado na Bahia sob suspeita de falsidade ideológica e utilização de documentos falsos desde o ano passado. Em abril de 2004, a delegacia de São Desidério (distante 912 quilômetros de Salvador) recebeu uma carta precatória da 6ª Vara Cível de Circunscrição Judiciária de Brasília contendo algumas perguntas encaminhadas ao publicitário, em conseqüência de uma ação movida contra a DNA Propaganda (empresa que tem Valério como sócio) por uma outra agência de publicidade, a Scam Propaganda.
Como garantia de penhora a uma suposta dívida cobrada pela Scam Propaganda, Valério relacionou três propriedades em São Desidério – as fazendas Barra 1, Barra 2 e Barra 3. Na terça-feira, em nota oficial, a DNA disse ser proprietária de sete fazendas em São Desidério, detendo em seus arquivos escrituras, registros e Imposto de Transmissão Rural (ITR). Procurada na ontem, a DNA não comentou a investigação aberta.
– As propriedades existem realmente, mas estão em nome da Carvic Empreendimentos, uma empresa agropecuária de São Paulo – disse o escrivão policial William de Almeida Louzada.
No cartório de notas do município, as fazendas estão registradas em nome da DNA Propaganda - Barra 1 (6.680 ha), Barra 2 (6.820 ha) e Barra 3 (6.783 ha). As mesmas propriedades também estão registradas em nome da Carvic, de acordo com a delegacia. Pouco tempo depois de iniciar a investigação, a Polícia Civil de São Desidério devolveu o processo para a 6ª Vara Cível de Circunscrição Judiciária de Brasília.
– Nós nunca vimos o senhor Marcos Valério aqui na região. Também constatamos que as fazendas apontadas por ele como propriedades da DNA pertencem a uma outra empresa – disse Louzada.
Fazendeiros da região contam que, principalmente nas pequenas cidades do oeste da Bahia, existem vendas fictícias de fazendas, identificadas na região como "comércio do segundo andar". O assessor da Associação dos Irrigantes da Bahia, Alex Razia, explica que são terras que têm donos, mas são registradas em nome de outras pessoas interessadas em aumentar artificialmente o patrimônio. Essas pessoas teriam a propriedade no papel.
Além do publicitário, a polícia também abriu investigação por falsidade ideológica e utilização de documentação falsa contra Francisco Marcos Castilho, apontado por Valério como um dos responsáveis pelo empreendimento no oeste da Bahia. Ainda no cartório, constam mais quatro fazendas registradas em nome da DNA: Cristal 1, Cristal 5, Bom Jesus 1 e Bom Jesus 2.
Segundo reportagem da TV Globo divulgada hoje, os antigos proprietários das fazendas Bom Jesus 1 e Bom Jesus 2 não teriam recebido o valor citado nos contratos de compra e venda. Avaliadas em R$ 2 milhões, foram compradas por Marcos Valério em janeiro de 2002, por R$ 200 mil. Laurita Maria da Conceição, apontada no registro como um dos antigos donos, disse que assinou documentos levados por ela por uma pessoa que ela não conhecia e que teria vendido as terras por R$ 500. O outro proprietário, Aristóteles Rocha da Paixão, morreu três anos antes da venda das terras.
Com informações do jornal Zero Hora e da TV Globo.
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