| 10/03/2005 20h47min
A demora em anunciar a reforma ministerial tem trazido tensão na relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Setores da base aliada que vinham mantendo um perfil moderado, passaram a criticar o governo e reivindicar melhor tratamento.
A avaliação é que a segunda metade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será ainda mais pragmática e menos ideológica. O jogo para acomodar novos aliados na Esplanada dos Ministérios vem sendo caracterizado por setores mais à esquerda da base aliada como um movimento em direção à centro-direita.
– Esperamos que o governo não caminhe mais para a direita. Ele precisa criar uma coalizão, mas esperamos que isso não aconteça (o redirecionamento ideológico) – disse o líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES).
O partido ocupa a pasta de Ciência e Tecnologia, com o deputado Eduardo Campos, e não está previsto um novo cargo para a legenda. A reforma ministerial desenhada por Lula tem duas metas: reacomodar as forças de apoio e construir uma base sólida de alianças para a eleição presidencial de 2006. Apesar da expectativa de que a reforma sairia nesta semana, Lula afirmou nesta quinta, dia 10, que ainda está "pensando" na reorganização do primeiro escalão.
O presidente dá indicações que aumentará o espaço do PMDB no Executivo – hoje o partido ocupa as pastas de Comunicações e Previdência. A legenda agrega diversas tendências ideológicas e abriga duas alas distintas, uma que prega o apoio ao governo e outra que defende o rompimento. O presidente também deve dar um ministério de peso ao PP, partido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), e do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. O PP é originário de legenda que apoiava a ditadura militar (1964-1985). Severino afirmou nesta tarde que seu partido se sentirá desprestigiado se não receber uma pasta de grande influência.
– Tenho confiança no bom senso das pessoas do Palácio do Planalto – disse.
Também a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) será contemplada com uma pasta, como prêmio ao apoio que seu pai, José Sarney (PMDB-AP), vem dando ao governo. Para isso, Roseana deve se desligar do oposicionista PFL, legenda na qual se elegeu deputada federal, governadora por duas vezes e senadora. Assim que seu nome foi ventilado, o PT maranhense divulgou documento com críticas à indicação. Para o partido, tratava-se de um "retrocesso", de um "desvio ideológico" ter a senadora na equipe de governo. PMDB, PP e PFL apoiaram o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Enquanto isso, o líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), garantiu que o PT perderá pelo menos duas pastas para acomodar novos aliados. O partido de Lula ocupa 19 das 35 pastas na Esplanada.
– O PT entende que o presidente precisa fazer as mudanças necessárias – disse.
Uma perda petista dada como certa é o ministro da Saúde, Humberto Costa. Na prática, o que o governo Lula leva em conta para fazer as alterações é o número de parlamentares das legendas e a quantidade de votos que cada partido da base garante em votações, a identidade ideológica não parece estar nas preocupações. Na Câmara, o PMDB é uma das maiores bancadas, o PP é a quinta, enquanto o PSB tem apenas 16 parlamentares, sendo a oitava maior representação.
– Nós damos fidelidade ao governo e, em troca, recebemos as costas – reclamou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos defensores mais árduos do Palácio do Planalto no Congresso.
Ao lado de Luizinho, Beto tem um perfil de bombeiro. O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), usa exatamente os números da bancada para defender a reforma e rejeita qualquer mudança ideológica para a direita.
– O governo está apenas dando espaço para acomodar os aliados e não haverá alteração de perfil. Fomos eleitos para rejeitar o modelo neoliberal e iniciar a transformação social do país. Estamos incluindo pessoas que se identificam com essa causa – disse Rocha, um dos principais interlocutores do ministro José Dirceu (Casa Civil) na Câmara.
As informações são da agência Reuters.
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